02 out Catadores buscam matéria prima
Florianópolis só não tem mais catadores e recicladores em atividade por falta de material. A cidade conta com três associações organizadas. Outras quatro estão se formando, mas não há ainda matéria prima o suficiente para sustentar grandes estruturas.
“Por enquanto, o pessoal fica trabalhando em casas. Quando começar a chegar mais material para eles selecionarem vai dar para construir um galpão e formar as associações”, disse Thyrza Pires, que ajudou a organizar o Encontro Regional de Catadores da Grande Florianópolis, realizado recentemente na Univali.
O grande desafio para aumentar a quantidade de material reciclado continua sendo a conscientização. Em 1999, 200 toneladas de lixo por mês eram reaprovietadas. Hoje, o número está menor: 180 toneladas. Mas tem potencial para dobrar. Cerca de 30% de tudo o que vai para o aterro sanitário de Biguaçu poderia ser encaminhados para as usinas de reciclagem. “Só que as pessoas continuam esquecendo de separar o lixo em casa. Colocam orgânico e não-orgânico juntos. E muita coisa acaba sendo desperdiçada”.
Os números divulgados são os oficiais, pesados diariamente. Estima-se que outras 800 toneladas sejam coletadas nas ruas, só que o destino delas é incerto.
O desperdício prejudica o meio ambiente e ajuda no aquecimento global. Os gases liberado durante a decomposição vão para a atmosfera e contribuem para o efeito estufa. Mas quando a população faz a sua parte, o lixo volta a ser útil. Isopor vira isopor. Plástico vira mangueira e pneu vira asfalto. E mais: vira dinheiro.
“Quem trabalha nas ruas, se conseguir produzir muito, pode chegar a faturar até R$ 1 mil por mês. Já o pessoal da triagem ganha, em média, R$ 500,00”, falou Dorival R. dos Santos, representan-te do Movimento Nacional de Recicladores (MNRC), que também estava no encontro. O dinheiro vem com a venda do material prensado para empresas de reciclagem e gera bons frutos, desde que seja bem administrado.
Nova alternativa de renda vem do lixo
“Não sou catadora. Sou recicladora”. A frase, de Aparecida de Assis Boeira, pode parecer, a primeira vista, uma simples mudança de palavras. Mas significa mais do que isso. Representa o peso sócio-ambiental de uma profissão que carece de reconhecimento e incentivo.
Aparecida tem 41 anos. Veio de Lages para Florianópolis e começou a trabalhar com reciclagem há cerca de três anos. Antes, trabalhava como doméstica. Uma vizinha foi quem mostrou para ela uma nova alternativa de renda, que estava no lixo. “A renda desse trabalho é muito importante para a minha família. Compro roupas, calçados. Não faz muito tempo que consegui uma televisão nova”, falou Aparecida que é casada e tem três filhos.
Ela trabalha no galpão do Itacorubi da Associação dos Recicladores Esperança (Aresp). Seleciona o que pode ou o que não pode ser reciclado. Mas vai além disso. Aparecida assumiu o cargo de vice-tesoureira da associação. Faz parte do movimento que tenta fortalecer os profissionais e busca mais estrutura para o trabalho. “Comecei na reciclagem sem fazer curso nenhum. O pessoal que está há mais tempo vai ajudando os novos. A aula era no boca-a-boca”, lembra.
Saiba mais
Quanto vale um quilo de lixo
Lata de ferro R$ 0,22
Lata de alumínio R$ 3,00
Papelão R$ 0,37
Sacola plástica R$ 0,40
Garrafa Pet R$ 1,00
O que é reciclável:
– Papel
– Papelão
– Produtos de plástico
– Produtos de alumínio e ferro
– Isopor
– Vidros
– Fios e cabos (elétricos)
Informações sobre dias e horários da coleta seletiva
Florianópolis (Comcap) pelo telefone: 3338-3031
São José, Palhoça e Garopaba pelo telefone: 3283-4838 ou 3283-5863
Serviço de reciclagem envolve família inteira
Outra mulher, desta vez Aparecida Maria da Silva, que trabalha com reciclagem há 12 anos. Também fica na triagem. E é a presidente da Associação de São José. Trabalha num galpão próximo de sua casa onde coordenada um grupo que, em alguns meses do ano, abriga 40 pessoas para separar o material. Com o dinheiro que vem do lixo, Aparecida Maria ajudou a formar uma família. “No início era mais fácil. Tinha menos concorrência. Na época fiz uma casa com o dinheiro que ganhava”, disse.
Toda a família de Aparecida, um marido e três filhas, trabalham hoje com a reciclagem. Tudo começou com dificuldades financeiras e de saúde. A mãe dela estava doente. “Trabalhava como faxineira. Tinha horário para sair e entrar. Procurei uma alternativa que me desse mais liberdade. Em alguns dias tinha que ficar cuidado da mãe”, explicou.
O início foi nas ruas. A maioria do material coletado era formado pelas latinhas que as pessoas deixavam jogadas nas ruas. Trabalho pesado. “Naquela época eu andava muito. Girava por essa região toda (São José). Mas financeiramente não faz muita diferença entre trabalhar na rua ou na triagem”, falou.
Universidade auxilia na elaboração de projeto
No galpão de São José, coordenado por Aparecida Maria da Silva, técnicos da Univali ajudaram a montar uma planilha de custo. Toda a despesa é lançada semanalmente e ajuda no controle das finanças.
Além disso, os técnicos mudaram o layout interno. Isso melhorou a logística e aumentou o rendimento do traba-lho. A Univali também ajudou ao desenvolver um projeto junto ao CNPQ. A instituição federal gostou da idéia e conseguiu uma prensa para o galpão, o que resultou em lucros maiores.
Os catadores, agora, buscam melhores condições de trabalho. Em Florianópolis, eles tentam conseguir junto à Prefeitura o kit de equipamentos básicos. Luvas e botas, além da capa de chuva e do colete de sinalização costumam ser caros.
Uma luva que dura 20 dias, por exemplo, chega a custar R$ 16,00. “O grande avanço é que todos agora já perceberam a importância do uso do equipamento. Isso é bom para a saúde deles”, falou Thyrza.
(Daniel Cardoso, A Notícia, 02/10/2007)