17 out Água no limite
A água pode acabar em Santa Catarina dentro de 20 anos, caso os recursos hídricos não sejam bem cuidados. Resíduos de indústrias, dejetos animais e contaminação por lavouras já comprometem a qualidade dos mananciais. No Sul e no Oeste do Estado, a situação é mais crítica, segundo o alerta da Secretaria do Desenvolvimento Econômico Sustentável.
Se hoje o volume das bacias hidrográficas é suficiente para atender à demanda na maior parte do Estado, os sinais da falta de qualidade são bem mais evidentes, de acordo com o secretário estadual de Desenvolvimento Sustentável, Jean Kuhlmann, que lançou ontem, em Florianópolis, o primeiro Plano Estadual de Recursos Hídricos.
– A poluição e o desperdício são as principais ameaças à água catarinense – resume.
Fatores humanos – como atividades econômicas sem preocupação com o meio ambiente – e climáticos, especialmente as estiagens, são apontados por ele como os grandes vilões no que diz respeito à qualidade e quantidade da água disponível para consumo em Santa Catarina.
O Sul e o Oeste catarinenses se destacam pela qualidade da água, pior do que nas demais regiões. A situação mais crítica é a do Oeste, com comprometimento dos recursos hídricos pela poluição proveniente das criações de suínos sem sistema de tratamento de resíduos. No Sul, o problema da poluição é amplificado pela extração de carvão.
Os resíduos da exploração de carvão contaminam a água com metais como o ferro, que aumentam sua acidez e impedem seu consumo. Conforme a substância presente nessa água, ela pode se acumular em órgãos como os rins e provocar várias disfunções no organismo.
– A maior parte da exploração do carvão mineral do Sul catarinense ocorreu no século passado, sem nenhum cuidado com a exploração. A partir da década de 1990, o setor sofreu uma desacelaração, por fatores como a implementação da legislação ambiental, mas os danos já tinham sido causados, comprometendo o solo e água da região – explica a engenheira agrônoma e mestre em Geografia, Silene Rebelo.
Ela ressalta que os danos provocados por resíduos de indústrias podem ser os mesmos, mas de forma mais pontual e de mais fácil detecção e controle. Já os dejetos suínos podem gerar problemas para a vida existente nos corpos da água e para a saúde das populações, devido ao aumento da população de borrachudos e a possibilidade de ocorrência de doenças como gastroenterites.
É também no Sul do Estado que existe escassez de água devido ao uso intenso para irrigação, principalmente na orizicultura, nos meses de setembro a janeiro. Lá, segundo o diretor de recursos hídricos da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, Rui Batista Antunes, já existem conflitos pela água, até em anos considerados normais em relação ao volume de chuvas.
Isso porque a irrigação é a atividade que mais usa água no Estado, liderada pelo cultivo de arroz, apesar de se restringir a determinados períodos. A indústria e a mineração sucedem a irrigação como as atividades que mais gastam água. A utilização dos recursos hídricos nas criações de animais aparecem em terceiro lugar.
Apesar de não ser um destaque localizado, a falta de saneamento básico, presente em todo o Estado, é considerada por Rui Batista Antunes como um fator preocupante. Santa Catarina tem a segunda menor cobertura de saneamento básico do país – apenas 11% – , perdendo só para o Piauí.
– Se o Estado continuar com ações localizadas, sem elaborar programas que contemplem toda a água de Santa Catarina, o esgotamento dos recursos hídricos será inevitável, porque a demanda cresce e os recursos não – ressalta o secretário Jean Kuhlmann.
A maior demanda de água em Santa Catarina é na Bacia do Rio Itajaí, onde são captados cerca de 4,2 metros cúbicos de água por segundo, que equivale a 4, 2 mil litros de água. Para se ter uma idéia, para tomar um banho de 15 minutos, uma pessoa gasta cerca de 243 litros. Em seguida, está a bacia do rio Cubatão Sul, que abastece a Grande Florianópolis, com 3 metros cúbicos de água por segundo.
Para o seu filho ler
Aágua é o bem mais precioso da Terra. Sem água, não haveria vida no Planeta. O problema é que, um dia, pode faltar água até para as pessoas beberem. Se isso acontecer, será daqui a 15 ou 20 anos. Mas é preciso começar a cuidar da água desde agora. A responsabilidade é de todos nós. Por exemplo, não se deve jogar lixo em rios e lagoas, para não contaminar a água. De onde você pensa que vem a água que sai na torneira de casa? Dos rios. Se o rio estiver poluído, a água que sairá dali não estará boa para beber. Outra maneira de ajudar é poupar água, não deixando torneiras abertas nem tomando banho muito demorado.
Saiba mais
Captação na Bacia do Rio Itajaí é de 4,2 mil litros por segundo
Cobrança pode evitar conflitos
O Plano Estadual de Recursos Hídricos foi elaborado para permitir um melhor gerenciamento das águas que passam por Santa Catarina e evitar o esgotamento dos recursos hídricos. O objetivo é utilizar o estudo para elaborar políticas de preservação dos mananciais e combate ao desperdício para compensar o prejuízo. Uma das medidas em estudo é a cobrança desse recurso natural, para evitar futuros conflitos.
Santa Catarina está iniciando sua estruturação na área de recursos hídricos, apesar de ter uma legislação específica na área desde 1994. Os dirigentes da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Sustentável falam em alternativas como a captação da água da chuva em maior quantidade no Oeste para combater a possibilidade de falta de água potável daqui a duas décadas. Até agora, no entanto, o que foi feito de mais significativo foi a chamada Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos.
O instrumento, previsto em lei, disciplina o uso das águas, permitindo que o Estado controle a quantidade e a qualidade dos recursos utilizados por determinadas empresas. Por enquanto, a Outorga vigora em quatro indústrias do Vale do Itajaí, como um projeto piloto, segundo o diretor de Recursos Hídricos da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, Rui Batista Antunes.
O Ministério Público Estadual está realizando Termos de Ajuste de Conduta (TAC) com setores empresariais, onde são definidas ações de curto e médio prazo para que os empreendedores ajustem suas atividades à legislação em vigor.
– Outro instrumento legal que o governo não descarta é a cobrança pelo uso da água disponível na natureza para conter conflitos – lembra o secretário Jean Kuhlmann, sem dar detalhes.
A expectativa de resolver parte do problema enfrentado pela falta de saneamento básico no Estado está na verba prometida pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. A meta é que Santa Catarina alcance 40% de saneamento com essa verba.
(Mariana Ortiga, DC, 17/10/2007)