A ponte e o nada

A ponte e o nada

Da coluna de Cesar Valente (De Olho na Capital, 13/10/2007).

O colega Raul Sartori, em A Notícia, levantou dia deses o assunto, a propósito de uma sugestão do Amir Klink e eu trago pra cá, porque acho oportuno: o que fazer com a velha ponte Hercílio Luz?

Klink sugere a implosão. Leitores do Raul levantaram outras possibilidades, como desmontá-la e reconstruí-la em outro lugar. No espírito da coisa, de brincadeira, só pra ver como ficava, coloquei a ponte do porto de Sidney, na Austrália, no lugar da Hercílio Luz.

A questão lembra o impasse do pedágio: a ponte interditada impede a travessia justamente no local onde ilha e continente são mais próximos. E sabemos que as promessas de renová-la a ponto de poder voltar a ser usada, terão ainda que percorrer longo caminho antes de serem concretizadas.

Mesmo que volte a ser usada, terá apenas duas pistas (três, se contar aquela onde passará o bonde). Por que não enfrentar essa questão com a cabeça fria e os pés no chão? Claro que, se o coração mandar, é melhor deixar aquela silhueta ali, como o grande monumento da terra do já teve.

Eu usei a ponte muito tempo, tenho por ela grande afeto. Mas os mais jovens já têm alguma dificuldade para entender por que manter a estrutura ali, sem uso e sem recuperação. Por que não construir uma nova ponte, igualmente monumental, que venha a nos encher de orgulho? Ou outra solução que, de alguma forma, finalmente libere a velha ponte (e sua memória) desse enorme compromisso viário, que ela não tem mais condições de atender?