Cacupé perde espaço para Saco Grande

Cacupé perde espaço para Saco Grande

A casa do comerciante Toni Ramos da Costa está, de acordo com as contas de luz, água e telefone, em dois bairros diferentes: Cacupé e Saco Grande 2. A confusão, segundo ele, começou há cerca de dois ou três anos, quando as placas de identificação da rua onde mora, que antes indicavam Cacupé, foram trocadas por outras informando que a localidade fica no Saco Grande.

A perda da identidade comunitária e as confusões na hora de recorrer aos serviços de postos de saúde são alguns do transtornos causados aos moradores com a falta de definição sobre onde eles moram de fato.

A família do comerciante mora quase toda na Estrada Haroldo Soares Glavan, que liga a SC-401 à praia de Cacupé e fica em uma região que, para os nativos, sempre teve nome bem definido.
“Sou nascido e criado no Cacupé”, diz Toni Ramos, com orgulho e ignorando as indicações das placas da rua. Na vizinhança, que oficialmente pertence ao Saco Grande, há também uma farmácia e uma escolinha de futebol do Vasco da Gama (RJ) que levam a denominação “Cacupé”.

“Esse rolo acontece justamente onde moram mais os nativos. Do Sesc para lá, onde eles dizem que é Cacupé, é mais pessoal de fora”, diz Ramos, que recebe a conta de luz como Saco Grande 2 e as de água e telefone como Cacupé.

A confusão tem origem na lei complementar municipal 001 de 1997 (Plano Diretor), que define a área do Distrito Sede (regiões central e continental de Florianópolis). Nela, fica estabelecido que o Saco Grande, um dos bairros da Sede, vai até a Ponta do Siqueira, perto da praia de Cacupé.
O Cacupé, que pertence ao distrito de Santo Antônio de Lisboa, começa dali para o Norte. Os mesmos limites foram ratificados pela lei 5.504, de 1999.

O pescador Valdemir dos Passos mora perto do Sesc, na Ponta do Siqueira, e também se diz “nascido e criado no Cacupé”. Ele nunca teve problemas com correspondência, mas lamenta a confusão feita com a “parte de cima” da Haroldo Soares Glavan. “Para nós, da SC-401 para cá sempre foi Cacupé. Os mais antigos também chamavam aquela parte do início da rua de Caputera”, conta.

Mudança traz problema para professora

A confusão quanto ao nome do bairro onde mora trouxe problemas à professora Cláudia Jaime. Ela vive na região considerada como Saco Grande, mas sempre havia recorrido ao posto de saúde de Santo Antônio de Lisboa quando precisou. Até que foi informada de que não poderia mais ser atendida ali e sim no posto do Saco Grande. “Achei um absurdo. Não tem nem ônibus daqui para o Saco Grande”, diz. A única linha que passa pela localidade é a Cacupé, que faz o trajeto entre o terminal da Trindade (Titri), a SC-401 e o de Santo Antônio de Lisboa (Tisan).

Menos mal para Cláudia que agora será novamente atendida pelo posto de Santo Antônio. Enquanto isso, ela tinha que caminhar cerca de 20 minutos até o ponto por onde passa a linha Saco Grande. “Pode até não parecer muito tempo, mas caminhar com criança e sob o sol é um incômodo”, diz a professora.

Placas podem ser trocadas novamente

Com a volta do atendimento no posto de saúde de Santo Antônio de Lisboa, o comerciante Toni Ramos tem esperança de que as placas das ruas sejam novamente trocadas para “Cacupé”. Porém, para que isso ocorra, explica o coordenador do Ipuf para o Plano Diretor Participativo, José Rodrigues da Rocha, o caso deve ser discutido em audiências públicas. “Esse é o caso em que há uma leitura técnica diferente de uma leitura comunitária.
Segundo Rocha, a definição dos limites dos bairros costuma levar em conta a bacia hidrográfica de uma região.

Os moradores, porém, dizem que a mudança atende a interesses imobiliários, já que o zoneamento do Cacupé não permitiria construções com mais de dois pavimentos. Eles citam como exemplos os loteamentos residenciais que têm sido feitos na região entre a SC-401 e a Ponta do Siqueira nos últimos anos.

(Felipe Silva, A Notícia, 26/09/2007)