23 ago O menino e o mar
Discurso proferido pelo Governador Luiz Henrique, na solenidade em que o COMDES – Conselho Metropolitano Pró-Desenvolvimento prestou-lhe homenagem.
(Florianópolis, 21 de Agosto de 2007)
Senhoras e Senhores,
Ao entrar aqui no Lira, me senti no túnel do tempo, remetido de volta, por uma tecnologia que haverá de vir, aos meus tempos de menino, na velha casa açoriana, da esquina da Conselheiro Mafra com a 7 de Setembro.
Vi aquele menino, num canto da quadra de cimento, ali à frente, assistindo aos nossos de astros do nosso vôlei e do basquete, como China, Vadicão e Erico Straetz Júnior, comandando uma equipe vencedora, nos tempos inolvidáveis de Barriga Verde, Caravana do Ar, Colegial, Doze e Bocaiúva.
Vi aquele menino, fascinado com as coisas boas da Ilha, assistindo ao primeiro pouso do hidro-avião da Taba, deixando um mágico rastro de espuma, nas águas plácidas da Baia Sul.
Sonho em que o túnel do tempo me devolva aquela Ilha, em que o mar não nos era proibido, com dezenas de baleeiras ancoradas no Mercado, trazendo frutos, verduras e louças de barro dos confins do Tabuleiro e do Cambirela; aquela Ilha que se alvoraçava nos cais, para viver a alegria da chegada do Max, do Anna, do Carls Hoepcke, ou de qualquer um dos “Ita” da Costeira.
Aquela Ilha tinha os sabores da bala queimada, do beijo-frio do Barão, da empada das Manita, do camarão recheado do Chiquinho, da bala Rococó, do Moritz, do tablete de coco, do Rodolfo Hickel, do pão Paris, da Carioca, do leite em garrafa, da Uleica, dos cafés Mimi e Vezuvio.
Aquela Ilha tinha jaqueiras e todas as frutas, nas Chácaras da Espanha, do Bispo ou dos Linhares.
Aquela Ilha pertencia ao Zininho, ao Daniel Pinheiro, à Neide Maria, na boemia noite afora, sob o clarão da luz de lua, refletida no mar, em volta do Miramar.
Aquela Ilha nos criava soltos, livres, perambulando, sem medo, o nosso sonho de criança, desde o campo do Manejo até o alto do Antão.
Aquela Ilha fazia-nos repetir as glórias de Aldo Luz, Martinelli e Riachuelo, jogando corridas, com barquinhos de papel, no Rio da Avenida, a caminho da Fernando Machado, onde ficava a nossa Escola Primária “Antonieta de Barros”.
Aquela Ilha nos encantava com o museu do Índio, na escadaria do Rosário, e com as histórias das lavadeiras e jacarés, na Lagoa Peri.
Aquela Ilha nos levava ao trapiche da Alfândega, onde sonhávamos com um grande robalo, e só pegávamos pequenas cocorocas.
Aquela Ilha tinha um calendário não escrito de folguedos: um mês era do pião, outro do balão, outro do futebol de botão, outro da pandorga…
Aquela Ilha tinha o pescador pregoeiro, dos Ingleses, da Tapera ou da Lagoa da Conceição, com dois cestos presos nas pontas do cambão, para anunciar com voz cantada:
– Olha o peixe fresco, o camarão!
Aquela Ilha tinha no Roxy, o nosso “Cinema Paradiso”. Nós invejávamos o “seu” Chico Vieira, misto de bilheteiro e projetor, porque ele via todos os filmes, que nós, com dinheirinho suado, só éramos capazes de assistir, nas tardes de domingo.
Na nossa cabeça, como o Alfredo, do extraordinário filme italiano, “seu”Chico era a pessoa mais feliz do mundo!
O túnel do tempo, que se instalou na minha cabeça, traz a memória desses tempos inesquecíveis.
Essas imagens me fazem pensar sobre o futuro que queremos para esta Capital e para esta Ilha sem igual.
Na minha cabeça está em que ela deva ser uma ilha de excelência, tocada pela tecnologia, pela cultura e pelo turismo.
Nós vivemos uma nova era, na qual os empregos vão depender, cada vez mais, desses três fatores.
Poucas cidades do mundo, como já proclamado em reportagem da Revista “Newsweek”, têm condição igual a Florianópolis, para ser paraíso do turismo, pólo cultural e “cluster”de vários ramos da tecnologia.
Como resultado das tratativas que mantivemos com o arquiteto argentino Ruben Pecci, nossa Ilha está por ser proclamada, pela UNESCO, “reserva universal da biosfera”, o que lhe dará um elevado status ecológico e urbanístico.
O grande patrimônio turístico local está no mar. Precisamos tirar proveito disso, organizando o lazer de borda do mar, como ensina Amir Klink.
Florianópolis tem todas as condições para receber navios e iates transatlânticos, organizar a pesca oceânica, esgotando todas as possibilidades que o Atlântico nos oferece.
Ao agradecer-lhes por esta homenagem, que muito me sensibiliza, quero dizer-lhes que a nossa Capital tem tudo para ser um dos melhores lugares do mundo, para valer-se do turismo sustentável e de qualidade, livrando-se da sazonalidade, tão inibidora de investimentos, e de geração de emprego e renda.