16 ago Ilha revive fantasma do apagão
O rompimento de um cabo da Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) deixou cerca de 150 mil moradores do Norte da Ilha (40% de toda a população de Florianópolis) sem energia elétrica por até 10 horas ontem.
O blecaute fez a área da Capital que concentra os balneários mais badalados lembrar do apagão que, em outubro de 2003, deixou toda a Ilha de Santa Catarina sem luz por 55 horas, causando prejuízos à economia local e afetando a rotina de 300 mil pessoas (75% da população).
O cabo que abastece o Norte da Ilha se rompeu às 2h, entre as torres 18 e 19, no Morro do Quilombo, um local de difícil acesso para veículos sem tração, no Bairro Itacorubi, Leste da Ilha. Cada torre sustenta quatro cabos, que ficam distantes cerca de 50 metros do chão.
Por dois minutos, toda a Ilha ficou sem luz. O município de Palhoça, com 102 mil habitantes, onde está localizada a subestação da Celesc que fornece energia à Ilha, também ficou às escuras por esse tempo. Devido ao horário, a pane foi pouco sentida.
A Celesc informou que Florianópolis e Palhoça ficaram totalmente sem luz por dois minutos porque o sistema de fornecimento de energia é desligado automaticamente, por motivos de segurança, sempre que acontece algum problema na rede.
A estatal informou que o sistema apontou de imediato o ponto do rompimento, mas as primeiras equipes de serviço somente conseguiram chegar ao local por volta das 3h30min porque a escuridão e o terreno acidentado no meio da mata dificultavam o deslocamento.
Sistema da região opera no limite, reconhece a Celesc
No início da manhã, a Celesc conseguiu restabelecer o fornecimento aos bairros Cacupé, Ratones, Santo Antônio de Lisboa e Sambaqui, que estão entre os menos populosos do Norte da Ilha, remanejando alimentadores de postes.
Nos demais bairros, entre eles Ingleses e Canasvieiras, os mais populosos da região, o fornecimento de energia só foi completamente restabelecido ao meio-dia, 10 horas após o blecaute.
O apagão que atingiu o Norte da Ilha ontem, afetando restaurantes, escolas, postos de combustíveis entre outros estabelecimentos, pode voltar a acontecer porque a rede de energia que abastece a área está desgastada, admite a Celesc.
O gerente regional da estatal em Florianópolis, Luís Carlos Facco, disse ontem que a empresa se planeja para construir uma nova linha de transmissão.
– A linha que estamos usando atualmente para levar energia àquela área da cidade está operando no limite e nós sabemos disso. Mas já estamos na fase de licitação para a construção de uma nova rede, mais potente e resistente – afirmou Facco.
O diretor-técnico da Celesc, Eduardo Sitonio, disse que a nova linha deve ser concluída antes do fim do ano.
Além de construir essa segunda linha, a Celesc pretende fazer uma outra subestação para atender o Norte da Ilha. Deve ser construída no Bairro Ingleses, onde a estatal já negocia um terreno.
Fornecimento de água é interrompido
A falta de energia elétrica por causa do rompimento do cabo da Celesc interrompeu o abastecimento de água e interferiu na rotina de moradores e no comércio do Norte da Ilha.
A estação da Companhia Catarinense de Água e Saneamento (Casan) do Bairro Ingleses, que abastece todo o Norte da Capital, ficou com o sistema de bombeamento comprometido e não pôde operar em razão do blecaute. Os moradores sem caixa d´água em casa ficaram com as torneiras secas até a Celesc restabelecer o fornecimento de energia, o que permitiu à Casan colocar a estação novamente em atividade.
No restaurante Lucila Bistrô, os cozinheiros tiveram de usar água mineral para lavar os legumes servidos no almoço. A falta de luz também afetou o comércio. No posto de combustíveis Raio de Sol, com unidades nos bairros Canasvieiras, Ingleses e Santo Antônio de Lisboa, 2 mil litros de álcool, gasolina e diesel deixaram de ser vendidos.
– Os clientes chegam aqui mas a gente não pode atender porque as bombas não funcionam quando falta energia – disse o proprietário da rede, Hory Schroeder.
Os postos da rede também deixaram de trocar óleo (pois o elevador de carro usado no trabalho precisa de energia elétrica), de calibrar pneus e fazer outros serviços. Na unidade do Bairro Ingleses, como na do Canasvieiras, os frentistas passaram a manhã sem atender clientes.
No açougue, os bifes não puderam ser cortados
Na oficina Auto Car, em Canasvieiras, o trabalho rendeu pouco e alguns serviços deixaram de ser realizados devido ao apagão. O Palio de um cliente, que deveria ser entregue à tarde, às 11h de ontem estava suspenso por um elevador que precisava de energia elétrica para voltar ao solo.
– Temos que explicar o que aconteceu ao dono. Ele deve entender que o atraso não foi culpa da gente, que faltou luz por muito tempo – disse Edson Colato, funcionário da oficina.
Comerciantes tiveram que comprar gelo para evitar que leite e outros alimentos do gênero estragassem. Dona do minimercado Zanoni, Ivete Salete Zanoni colocou sacos de gelo sobre pacotes de carne para mantê-los refrigerados.
– Se a luz voltar ao meio-dia como a Celesc está dizendo, vou conseguir resolver com isso. Mas se demorar mais, a carne pode estragar – dizia ela, às 10h de ontem.
Na Escola Básica Municipal Osmar Cunha, em Canasvieiras, os alunos não chegaram a ser dispensados, mas tiveram aula em salas sem iluminação. Algumas das professoras abriram bem as janelas e as cortinas para aproveitar a iluminação natural e poder passar as lições.
O açougueiro João Carlos Herzer, que trabalha na mesma rua da escola, disse que deixou de atender 15 pessoas durante a manhã.
– Eles queriam bifes finos ou carne moída. Mas eu não pude atendê-los porque precisava ligar a máquina, e sem luz não é possível.
Os consumidores que se sentiram prejudicados podem procurar um Juizado Especial Civil para tentar indenização. Os que comprovarem a queima de algum aparelho por causa da interrupção no fornecimento de energia também podem buscar ressarcimento.
Em razão da pane de ontem, a Celesc suspendeu os desligamentos programados para hoje e amanhã nos bairros Ingleses, Vargem do Bom Jesus e Vargem Grande. A estatal manteve, no entanto, o desligamento programado para amanhã, das 8h às 11h, no Bairro Santa Mônica.
Como buscar indenização
O consumidor tem 90 dias corridos, a contar da data do dano do equipamento, para solicitar o ressarcimento à Celesc, apresentando as seguintes informações e documentos:
– Data e horário provável da ocorrência do dano
– Cópia do RG, CPF e da conta de energia elétrica mais recente, devendo ser o solicitante o titular da unidade consumidora. Caso a fatura não esteja no nome do solicitante, deve comprovar a ocupação por meio de Contrato de Locação ou cessão de direitos. Se pessoa jurídica, é necessário apresentar CNPJ e identificação do representante legal
– Relato do problema apresentado
– Descrição e características gerais do equipamento danificado, como marca e modelo. Cópia da nota fiscal da compra do equipamento danificado deverá ser anexada ao processo. Quando houver impossibilidade de apresentação da nota fiscal, pode ser substituída por uma declaração de propriedade
– Orçamento com descrição detalhada dos componentes danificados. Deverá constar o CNPJ da empresa
Após o registro da ocorrência, o consumidor aguardará a visita de um técnico da Celesc ou profissional autorizado, para inspeção das instalações elétricas e do(s) equipamento (s) danificado(s).
Nos casos comprovados, a Celesc pode efetuar o pagamento em moeda corrente ou, ainda, propor o conserto ou a substituição do equipamento danificado.
Em 2003, o apagão durou mais de dois dias
A maior queda de energia elétrica já registrada em Florianópolis aconteceu no fim de outubro de 2003 e durou 55 horas.
O apagão, como ficou conhecido na cidade e no país, começou no início da tarde do dia 29 de outubro, quando um dos cabos que abastece a Ilha se rompeu.
O cabo estava em uma das galerias da Ponte Colombo Salles (sentido Ilha/Continente) e se partiu durante uma manutenção feita por cinco funcionários da Celesc.
Eles tentaram iluminar a galeria acendendo um maçarico. Como havia gases dentro da galeria, houve uma explosão.
Dos cinco funcionários, três conseguiram sair do local por onde haviam entrado. Dois tiveram que se jogar no mar, a uma altura de cerca de 30 metros, para se salvar.
A falta de luz causou grandes transtornos na cidade. Faltou água, comerciantes precisaram jogar comida fora e hospitais tiveram de pedir geradores emprestados para seguir atendendo.
As redes municipal e estadual de ensino suspenderam as aulas. As creches também. E isso atrapalhou a rotina profissional de muitos pais.
Apesar de a queda de luz ter acontecido só na parte insular da cidade, a área continental também experimentos horas de confusão porque muito moradores passaram a abrigar conhecidos ou a emprestar o chuveiro de casa para amigos, o que complicou o trânsito.
Moradores perderam eletrodomésticos, que queimaram com a queda da luz. O tráfego na área central de Florianópolis e nos bairros da cabeceira continental ficou insuportável porque duas das quatro pistas da Ponte Colombo Salles tiveram de ser fechadas para se consertar a galeria em que aconteceu a explosão.
Os semáforos da Ilha deixaram de funcionar. Ficou difícil trafegar por lugares como a Avenida Beira-Mar Norte.
A Polícia Militar precisou fazer rondas extras à noite para evitar que os criminosos da cidade se aproveitassem da escuridão para atacar.
O Corpo de Bombeiros da Capital pediu reforço a cidades vizinhas para conseguir controlar o fogo dentro da galeria e outros problemas que apareceram na cidade.
O apagão também registrou casos curiosos, como o fato de os estoques de velas de quase todas os estabelecimentos comerciais terem acabado. Em muitos locais também terminou o estoque de água mineral.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) multou a Celesc pelo apagão. (J.B.)
(Jeferson Bertolini, DC, 16/08/2007)