20 ago Eco para energias renováveis
Da coluna de Estela Benetti (DC, 19/08/2007).
O lançamento da Eco Power Conference – Fórum Internacional de Energias Renováveis, que será realizado de 28 a 30 de novembro próximo, em Florianópolis, com a proposta de se transformar num grande evento internacional diante dos esforços para conter o aquecimento global, trouxe novas motivações a vários segmentos.
Um, em especial, é a comunidade científica de SC, que tem à frente, pelo governo do Estado, o presidente da Fapesc, Antônio Diomário de Queiróz, e a participação dos professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Sergio Colle, especializado em energia solar, e Julio César Passos, em energia eólica, ambos pesquisadores do respeitado Departamento de Engenharia Mecânica da instituição.
O assessor científico da Eco Power é o professor José Goldemberg, da Universidade de São Paulo (UFSC). A conferência, que tem como objetivo atrair cerca de mil lideranças entre pesquisadores e empresários no Costão do Santinho, foi idealizado pelo publicitário Ricardo Bornhausen e tem apoio do governo do Estado, que busca dinamizar a economia com o turismo de eventos. Na entrevista a seguir, os professores da UFSC falam das suas expectativas sobre o evento e oportunidades em energias.
Sergio Colle
Qual é a importância da Eco Power?
Sergio Colle – Oito anos atrás, nós realizamos aqui dois eventos de energia por iniciativa da UFSC. Reunimos cerca de 60 profissionais de peso da área do Brasil e constatamos, de lá para cá, que Florianópolis praticamente está fora do eixo das discussões de energias renováveis. A iniciativa do governo do Estado de fazer uma conferência, reunindo experts nacionais e internacionais para discutir questões de energias renováveis é uma boa decisão, à medida que você possibilita que a comunidade de pesquisa brasileira tenha contato com a comunidade de pesquisa internacional dentro de um fórum de discussão brasileiro. Normalmente, temos contato em eventos no exterior, e lá se discute questões de fora e não do Brasil.
E quanto à intenção de um grande evento, a exemplo de Davos?
Colle – É sempre bom ter um objetivo maior. No entanto, reunir aqui uma comunidade científica internacional de forma freqüente para discutir esse assunto não é fácil nem simples, à medida que os experts só participarão se tiverem espaços de articulação dentro dos seus próprios interesses, sejam eles científicos ou comerciais. Mas se o Estado oferece subsídio, suporte financeiro para bancar uma conferência internacional, os cientistas virão. A preocupação minha são as conseqüências práticas que virão do evento.
O senhor é pesquisador na área de energia solar. Qual é a vantagem dessa energia para o consumidor residencial?
Colle – Fizemos um projeto de pesquisa envolvendo 70 consumidores de baixa renda, no condomínio Bonavita, em Florianópolis. Instalamos 60 aquecedores solares compactos, de baixo custo, todos monitorados. Concluímos que para consumidores agraciados com energia solar, na pior condição de incidência de energia solar, que é em Florianópolis, houve economia de 60% no consumo de energia.
Como está a oferta de equipamentos, hoje?
Colle – O parque de energia solar do Brasil é resultado única e exclusivamente da iniciativa empresarial. O consumidor procura porque o equipamento se paga com a economia obtida em dois ou três anos. Atualmente, o custo médio de um equipamento bom está em torno de R$ 3,3 mil por residência. Há um mercado também para piscinas domésticas.
Julio César Passos
Na sua avaliação, quais oportunidades a Eco Power vai oferecer?
Julio César Passos – É uma iniciativa importante também porque oferece oportunidade de colocar em contato pessoas que trabalham em pesquisas em universidades, investidores e profissionais das áreas técnicas de empresas interessados em projetos de energias renováveis, especialmente a solar e a eólica.
Que resultados deveria trazer?
Passos – A Eco Power chega na hora certa porque se fala muito em energia, mas eu gostaria que o grande resultado fosse em ações concretas na área da educação, especialmente na área de energia, ciência, tecnologia e meio ambiente. Desde a Eco 92, no Rio, pouca coisa foi feita. E até 2030 será necessário aumentar a oferta de energia atual em 60% em todo o mundo, com dependência quase que exclusivamente de combustíveis fósseis.
Como as pessoas podem participar?
Passos – O Brasil tem, por exemplo, um sistema de transporte bastante ingrato, hoje muito dependente de combustíveis fósseis. E nós ainda fazemos pouco na área de conservação de energia e mudanças de hábito. O cidadão vai ter que participar também.
Temos tecnologia para a geração eólica?
Passos – A energia eólica para fins de geração elétrica é uma tecnologia bastante desenvolvida e dominada no mundo, especialmente na Alemanha, Dinamarca e EUA. O principal mercado de eólica é a Alemanha, que tem 21 mil MW de potência instalada. No Brasil, há cerca de 250 MW instalados e há previsão de instalação de 1,4 mil MW pelo Proinfa, o programa de incentivo à eletricidade através das fontes alternativas de geração (biomassa, eólica e PCHs). Mas o avanço desses projetos é lento porque há falta de aerogeradores porque é necessário ter 60% de nacionalização. Este é um segmento que oferece várias oportunidades de geração de emprego, mas temos poucas fábricas no país.
Onde estão os melhores ventos para geração no Brasil?
Passos – Em Santa Catarina, temos as regiões de Água Doce, no Meio-Oeste, e Laguna, no Litoral. No Rio Grande do Sul há a região de Osório, onde está instalado um parque eólico com 75 máquinas, que gera 150 MW. Outras regiões favoráveis a costa do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia.