30 jul Pombo traz riscos para população
No Centro de Florianópolis, os pombos fazem parte da paisagem. Pousados sobre parapeitos ou passando por entre os pedestres nos calçadões da área central da cidade, eles sobrevivem dos restos deixados pelo homem. Há o risco, porém, da transmissão de doenças, muitas vezes ignorado pelas pessoas que alimentam as aves.
Em Florianópolis, os pombos concentram-se principalmente em dois dos locais mais conhecidos e visitados da cidade: a Catedral Metropolitana e o Mercado Público Municipal. No templo católico, por exemplo, as escadarias estão sujas com penas e fezes.
Quando não estão ali, os pombos ficam nos parapeitos dos prédios vizinhos. É só alguém jogar um pedaço de pão ou um punhado de milho no chão que o alvoroço começa.
Moradora de Palhoça, a vendedora Elaine Raulino é outra que se espanta com a quantidade de pombos no Centro de Florianópolis. “A gente tem que caminhar desviando deles. É um incômodo”, diz. Ela conta que já sofreu um “acidente” com pombos, quando um deles defecou sobre sua jaqueta.
A técnica em enfermagem Íris Teresinha Ribeiro acha bonito os pombos, mas considera demasiado o número de aves no Centro. Para ela, deveria haver um controle da população dos animais. “É muita sujeira, muita pena e cocô. E tem gente que dá comida para eles, o que acho errado.”
O autônomo Áureo Soares também acha os pombos bonitos, mas inconvenientes. Ele teme a transmissão de doenças, mas não sabe exatamente quais são.
Nem todo mundo, porém, teme as aves. A empresária Merli Angeli, moradora de São João Batista, aproveitou a aglomeração de pombos no Largo da Alfândega para alimentá-los. Colocou punhados de milho sobre as mãos e a cabeça dela e de crianças que a acompanhavam e divertiu-se com os animais.
Merli conta que já esteve em Veneza, na Itália, e que lá é normal as pessoas alimentarem os pombos em locais públicos. “Eles não devem ser vistos como uma praga e sim como atração. Não conheci ninguém que tenha morrido por doença transmitida por pombos.”
Veterinário recomenda que não se alimente as aves nas praças
A atitude de Merli é reprovada pelo coordenador do Programa de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o veterinário Henrique Sávio de Souza Pereira. “A gente recomenda às pessoas não alimentar os pombos, por causa do risco de doenças e para controlar a população dos aves.”
A alimentação das aves pela população é a principal causa da aglomeração de pombos no Centro de Florianópolis. Com comida garantida e locais para fazer os ninhos, eles não têm motivos para voltar ao seu habitat natural. A falta de predadores na região central da cidade (aves de rapina) colabora para o crescimento no número de animais.
Bem alimentados, os pombos se reproduzem mais rapidamente, segundo Henrique Pereira. A média natural de posturas de ovos é de duas a três vezes por ano, mas em centros urbanos ela pode chegar a cinco. O coordenador da SMS afirma que as aves não correm risco de se extinguir se deixarem de ganhar comida da população. “Eles podem encontrar alimento fácil na natureza, como frutas, grãos e insetos.”
De acordo com Pereira, o melhor método de controle do número de pombos nos centros urbanos é o fim da alimentação das aves pelos humanos. Ele ressalta que exterminar os animais é crime, segundo lei federal.
Os pombos freqüentemente encontrados em várias áreas urbanas não são nativos do Brasil.
Riscos de contaminação são bem maiores perto dos ninhos
As doenças que os pombos transmitem ao homem ainda são pouco conhecidas da população. O arquivista Maurício da Silva, por exemplo, ouviu falar dos riscos, mas não sabe ao certo quais são as enfermidades que pode contrair por ter contato com as aves. Sentado em um banco ao lado de dezenas de pombos no Largo da Alfândega, ele não sabia dizer também como poderia ocorrer o contágio. “Acho que isso deveria ser melhor divulgado, até para as pessoas se prevenirem.”
Os perigos que os pombos representam têm nomes complicados. Um deles é a histosplamose, uma infecção causada por um fungo que pode levar à morte. Outros são a salmonelose (causada pela bactéria salmonella. Provoca, entre outras coisas, náuseas, vômito e diarréia) e a criptococose (espécie de meningite, também pode levar à morte).
Em todos os casos, o modo de contágio é parecido e mais provável próximo a regiões onde há ninho dos pombos, segundo explica o coordenador do Programa de Zoonoses, Henrique Pereira. As aves contaminadas defecam e, depois, acabam passando por cima das fezes ressecadas. Ao levantar vôo, o bater das asas espalha o pó formado pelos excrementos secos, que pode ser inalado pelo homem. É aí que ocorre a infecção.
Para quem percebe a proliferação de pombos, afirma Pereira, a recomendação é não deixar que façam ninhos nas residências.
(Felipe Silva, A Notícia, 29/07/2007)