16 jul Convivendo com a (in)segurança
Da coluna de Cacau Menezes (DC, 15/07/2007).
A sensação de medo contamina Florianópolis e está criando uma situação diferente. Muita gente nem pensa mais em deixar o seu veículo fora de um estacionamento. Caminhar pelas ruas, apenas em horários de movimento – alguns locais são evitados 24 horas por dia. O temor que atos de violência estão causando não pode ser mensurado. No entanto, o que todo mundo ouve nas ruas, no trabalho e em casa é que a violência é cada dia maior. Roubo de carros e assaltos estão entre as principais ocorrências. A seguir, veja o que dizem dois profissionais que discutem, combatem e estudam o assunto aqui no Estado:
Mauricio Eskudlark, chefe da Polícia Civil de Santa Catarina
– Quase todos os índices estão diminuindo. Mas a sensação de insegurança permanece com as pessoas, elas são afetadas pelo que se fala e se vê. Acho que é um desafio fazer as pessoas verem que a criminalidade não cresce como se imagina. Neste primeiro semestre registramos o menor número de homicídios desde 2003. No primeiro semestre de 2006, tivemos 97 homicídios. Este ano, foram 67. É uma redução expressiva.
O que está ajudando é, por exemplo, o trabalho social. E o trabalho preventivo; a PM está ajudando nesse aspecto. Não dá para levar a criminalidade a zero. E manter essa criminalidade baixa é um tremendo esforço, um desafio. A tendência, nesse caso, é que qualquer briga entre gangues que deixe um saldo de mortes, por exemplo, ressuscite o sentimento de insegurança nas pessoas.
O furto ainda é um crime com altos índices, mas está caindo. E frente ao homicídio, ainda é um crime que não causa tanto impacto, não afeta tanto a pessoa. Os assaltos aos postos de gasolina ainda são um problema. Nós temos que resolver essa questão. É um crime praticado muitas vezes por impulso do criminoso, sob efeito de drogas ou álcool. Muitas vezes, não é planejado. Hoje, é uma das situações que mais preocupa.
Valmir dos Passos, professor de Economia Política e Sociologia, Unisul
– Entendo que numa sociedade onde o apelo ao consumo e ao conforto da vida material é regra, prevalece a ética do individualismo. É grande o contigente de excluídos e há uma diluição do valor da pluralidade, do direito à vida. Acho que a banalização da violência é preocupante. E nós ainda vivemos num ambiente urbano onde já há concentração de pessoas, o que gera a concentração da violência.
Há um tipo de programa de jornalismo policial, que tem popularidade, e hoje fica a sensação de que há mais violência do que existe. Vão se reproduzindo as histórias. É claro que, dependendo do tamanho da cidade, as situações diferem. Mas, no geral, as pessoas estão extremamente precavidas. Esses fatores reforçam a sensação de que estamos cercados pela criminalidade. Eu defendo que a violência é um fenômeno sociológico. Não é um problema de conduta, mas social. Não cabe só ao governo ou à polícia, é responsabilidade de todos.