Plano de integração continua na gaveta

Plano de integração continua na gaveta

A idéia de criar um sistema que integre o transporte coletivo da Grande Florianópolis está parada há pelo menos quatro anos. O Departamento de Transportes e Terminais (Deter) aguarda a definição de sistemas municipais das cidades envolvidas no projeto – a Capital, São José, Palhoça, Biguaçu e Santo Amaro da Imperatriz – para voltar a trabalhar sobre o tema.

“As prefeituras pediram um tempo para resolverem suas questões internas. Esse sistema é de difícil implantação, pois é preciso lidar com os interesses de cada município”, diz o diretor de Transportes do Deter, Roberto Scalabrin.

Tempo

Prefeituras da região pediram mais prazo para resolveram questões internas
O projeto previa a construção de 11 terminais nas cinco cidades, mas esbarrou em divergências entre Estado e municípios na hora de definir onde eles seriam erguidos.

A idéia original, por exemplo, era de que houvesse uma estação para atender à região continental em Barreiros (São José), mas a Prefeitura de Florianópolis implantou o sistema integrado municipal em 2003 com os terminais de Capoeiras (Ticap) e Jardim Atlântico (Tijar), hoje desativados, com o objetivo de receber a demanda intermunicipal.

“Aí criou-se um impasse. São José achou que sairia prejudicada porque os passageiros ficariam em Florianópolis. Até com esse tipo de discussão é preciso lidar quando se fala na implantação desse sistema”, conta Scalabrin. O Deter planeja firmar convênio com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para realizar estudos de readequação do plano.

O Ticap e o Tijar estão desativados desde o ano passado e devem ser alienados pela Prefeitura de Florianópolis. Isso, porém, não impossibilita o projeto do sistema integrado de transporte metropolitano na opinião do secretário dos Transportes e Terminais (SMTT) da Capital, Norberto Stroisch Filho.

“Posso dizer com toda a certeza técnica que eles deveriam ter sido construídos às margens da BR-101. Os estudos do Deter apontaram isso”, afirma Stroisch, que foi diretor-geral do órgão estadual entre 1998 e 2002.

Secretário aponta a necessidade de via duplicada

Para Stroisch, o sistema integrado intermunicipal só será produtivo se houver melhorias no sistema viário de Florianópolis, principalmente no entorno das pontes que ligam o Continente à Ilha. “O sistema integrado tem de trabalhar de forma cronometrada, senão não funciona. De que adianta recebermos pessoas de outras cidades se tivermos fila na ponte e os passageiros perderem a integração?”, pergunta.

O secretário diz que a duplicação da Via Expressa (BR-282), no Continente, é a principal obra a ser feita. De acordo com ele, o sistema de Curitiba (PR) funciona bem porque houve um planejamento prévio do sistema viário da capital paranaense, inclusive com criação de pistas exclusivas para circulação de ônibus. Florianópolis seria o principal destino do sistema integrado intermunicipal.

A cidade recebe atualmente, segundo Stroisch, cerca de 90 mil passageiros por dia vindos de linhas intermunicipais, que não fazem parte do sistema integrado de transporte, mas utilizam os terminais de Integração do Centro (Ticen) e Cidade de Florianópolis como ponto de parada. A principal demanda é dos três maiores municípios da região fora a Capital: Biguaçu (58 mil habitantes), Palhoça (128 mil) e São José (201 mil).

São José faz estudo para ação interna

O secretário de Transportes de São José, Adilson de Souza, acredita que a integração intermunicipal só funcionará quando todas as cidades envolvidas tiverem seu próprio sistema interno de transporte. Em São José, conta o secretário, existe um projeto para implantação de sistema integrado de transporte dentro município, que pode entrar em funcionamento em 2008.

O projeto transporte de São José já deve prever a possibilidade de futura integração com outras cidades, segundo Souza. Tanto que algumas linhas que ligam a Biguaçu, Palhoça e Florianópolis já devem fazer parte do sistema. Para o secretário, o município tem papel fundamental na proposta. “Estamos em uma posição central na Grande Florianópolis e todos os ônibus que vão para a Capital passam por aqui”, justifica.

Santo Amaro da Imperatriz é outra cidade que já tem projeto de elaboração de sistema interno de transporte, que deve ser implantado ainda neste ano. O município, porém, não pensa em integração regional. “Estamos muito distantes de Florianópolis, e as linhas para cá são longas e caras. Nenhuma empresa vai querer fazer o transporte para ter prejuízo”, analisa o prefeito José Rodolfo Turnes.

Em Santo Amaro da Imperatriz, diz o prefeito, a intenção é diminuir o custo do transporte, que hoje é controlado pelo Deter mesmo dentro da cidade. “Eles cobram o mesmo preço do que uma viagem para Palhoça”, afirma. De acordo com Turnes, o objetivo é baixar o preço das passagens para deslocamentos internos, hoje em R$ 2,15, para valores entre R$ 1,00 e R$ 1,25.

Usuários esperam redução nos preços das passagens

Para os usuários do transporte coletivo intermunicipal, a principal vantagem que o sistema integrado metropolitano poderia trazer é a redução do preço das passagens. Há linhas que saem de Governador Celso Ramos até a Capital, por exemplo, cujo valor é mais que o dobro da tarifa única paga com cartão em Florianópolis (R$ 1,90). O custo das passagens dos ônibus que circulam entre as cidades da Grande Florianópolis é regulado pelo Deter.

Custo

“Meu genro paga duas passagens por dia, o que dá R$ 8,60”, diz florista Maria Goreti.
A florista Maria Goreti, moradora da praia João Rosa, em Biguaçu, paga R$ 2,95 para se deslocar a Florianópolis. Mas como só vem à Capital esporadicamente, ela não vê muito problema no preço das passagens.

A situação é ruim, considera, para quem usa ônibus todos os dias. “Tenho um genro que mora em Palmas (Governador Celso Ramos) e trabalha em Barreiros (São José). Ele paga duas passagens por dia, o que dá R$ 8,60. É muito gasto com transporte”, reclama.

O auxiliar de motorista Edson de Melo, que mora no Alto Aririú, em Palhoça, também acha que o preço da passagem deveria ser menor caso fosse implantado um sistema integrado intermunicipal de transporte – ele gasta R$ 3,10 a cada viagem até a Capital, que dura cerca de 40 minutos.
“Acho que a qualidade hoje está boa, mas o preço tinha de baixar um pouco”, afirma. Melo acredita que o sistema integrado intermunicipal de transporte não funcionaria porque as pessoas teriam que esperar muito tempo nos terminais. “Se aqui já não está funcionando bem, imagina se colocar outras cidades junto”, avalia.

A professora Eli Sandra Pereira, que mora em Areias, em São José, também tem uma visão negativa quanto a um possível sistema integrado intermunicipal. “Quanto mais eles mexem, pior fica”, diz. Para ela, a única mudança que deveria haver é a redução nas tarifas.

“Estão caras, principalmente se tu considerares que quem usa ônibus tem baixos salários”, ressalta Eli, que gasta R$ 2,15 com ônibus para a Capital.

Experiências positivas são lembradas

Outros usuários, porém, têm perspectivas positivas quanto à implantação do sistema integrado intermunicipal. O pedreiro Valdir Bueno, natural de Lages, acha que devera ser utilizada tarifa única para toda a região metropolitana. “Seria como em Lages ou Curitiba, onde a gente paga uma passagem só. Com isso, até poderiam cobrar um preço mais baixo”, acredita. Bueno mora no loteamento José Nitro, em São José, e paga R$ 2,15 pelo ônibus até Florianópolis.

A faxineira Sônia Maria da Silva também acredita que a integração melhoraria o transporte intermunicipal. Melhor oferta de horários e preço reduzido no custo das passagens seriam algumas das vantagem na opinião dela, que mora no loteamento Madri, em Palhoça. “Hoje eu pago R$ 2,95 para vir a Florianópolis. Está caro. Uns R$ 2,50 estaria bom”, afirma.

O preço da tarifa é apontado pelo secretário de Transportes de São José, Adilson de Souza, como principal empecilho para implantação do sistema integrado intermunicipal. “Se for adotada tarifa única, alguém vai ter que pagar por quem mora mais longe”, alerta. Uma das alternativas seria subsídio governamental ao transporte.

O diretor de Transportes do Deter, Roberto Scalabrin, diz que dificilmente um sistema integrado na região teria tarifa única, por causa da grande diferença entre as distâncias de linhas. O preço na Capital (R$ 1,90) também é considerado inviável por Scalabrin. “Diminuir os custos do transporte e o preço das passagens é o objetivo, mas Florianópolis tem linhas de apenas 4km. Nossas linhas mais curtas têm cerca de 10km”, afirma.

(Felipe Silva, A Notícia, 20/06/2007)