Morro do Caçador

Morro do Caçador

Uma semente foi jogada sobre o solo da Ilha de Santa Catarina ainda marcado pela Operação Moeda Verde, que investiga denúncias de compra e venda de licenças ambientais na Capital. Três projetos em andamento tentam garantir a preservação de um pedaço remanescente da Mata Atlântica. As áreas localizam-se ao Norte, região ameaçada principalmente pela ocupação urbana descontrolada.

Com 600 hectares, o Morro do Caçador abraça as localidades de Vargem Grande, Vargem do Bom Jesus, Muquém e Capivari. O topo fica 368 metros acima do nível do mar e surpreende já pelo nome:

– Queremos envolver a comunidade para rebatizá-lo. Esse nome, além de não ser reconhecido pelos moradores, não é inspirador para uma unidade de conservação – diz a bióloga Eloísa Neves Mendonça, do Grupo Pau Campeche, que coordena os estudos.

A denominação está nos documentos oficiais da prefeitura. Mestre em Biologia Vegetal pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Eloísa explica que a densa mata que cobre o morro é recente. Isso ocorre porque há 40 anos a agricultura ainda era desenvolvida nas encostas.

A presença de árvores centenárias, algumas com 1,50 metro de diâmetro, animou os pesquisadores. Figueiras, cedro, maria-mole e jequetibá foram localizadas. Uma das estrelas é a canela-sassafrás, em extinção, mas encontrada em estágio juvenil.

– É uma ótima notícia, prova que houve preservação e que a floresta se regenera pela presença de animais, como mamíferos e aves que distribuem as sementes principalmente através das fezes – explica a bióloga.

Uma raridade é a licopodiacia, semelhante a um pinheiro, hospedada sobre uma outra árvore.

– É a primeira vez que a espécie é registrada em SC – comemora Eloísa.

Os animais tornam mais bonito o lugar. Em extinção, o gavião-pombo-pequeno foi pela primeira vez encontrado em ambiente natural da Ilha. O gavião-tesoura e o gavião-bombachinha são migratórios. Usam a floresta para fazer ninhos.

Das estimadas 150 espécies de bichos residentes, 138 já foram identificadas. Além de abrigo, aves, como os tucanos, aproveitam o alimento farto. Bandos de macacos-prego, quatis, cachorros-do-mato (ou graxaim) e tamanduá-mirins foram fotografados próximos da casa onde são traçados os rumos do projeto. O imóvel se localiza cerca de 600 metros acima da SC-401.

Mas a caça é uma ameaça. Tatus e quatis são os mais visados:

– A gente escuta os tiros de espingardas. A fumaça nos acampamentos dá o sinal da presença dos caçadores.

Eloísa diz que a questão é cultural. Ninguém depende da caça para sobreviver, mas existe ainda o gosto pelo abate de animais. O assunto é discutido em reuniões com as associações dos moradores para, além de conscientizá-los, fazer com que denunciem a prática.

(Ângela Bastos, DC, 24/06/2007)