04 maio Moeda indigesta
Da coluna de Cesar Valente (De Olho na Capital, 04/05/2007).
Boa parte da face “primeiro mundista” da capital foi ontem visitar a carceragem da Polícia Federal. Foram acompanhados de boa parte da administração Dário Berger. Ciceroneados pelo ex-líder do governo municipal da Câmara e pelo ex-presidente da Câmara, empresários e servidores públicos puderam comprovar que as instalações do novo prédio são mesmo de primeira qualidade.
(Comentário da noite: quer dizer… não foi bem assim, porque o ex-líder baixou hospital e o ex-presidente estava no Prata, mas em todo caso vocês entenderam o cenário, né?).
Ainda é cedo para atirar pedras ou para dizer “bem feito”. Primeiro, porque a investigação, embora tenha começado há nove meses, agora é que entra na sua fase decisiva. E não se pode dizer, aqui de fora, se a culpa de todos é igual nem se todos têm, de fato, culpa no cartório.
O que parece evidente, contudo, é que o Ministério Público e a Polícia Federal, acreditam naquela história de “onde há fumaça, há fogo”. As histórias que circulavam em voz alta pelos ambientes sociais, restaurantes, bares e esquinas, precisavam, de fato, ser investigadas.
A casa da mãe Joana
A Ilha de Santa Catarina, em alguns aspectos, parece (parecia?) a Casa da Mãe Joana. Lugar onde, dependendo da amizade com este ou aquele, tudo pode (podia?). Juntava-se a tradicional rotina da corrupção, de criar dificuldade para vender facilidade, com as oportunas lacunas na legislação, com o enorme fascínio que a Ilha desperta nos visitantes.
O resultado era um esquema onde quem tinha como pagar, conseguia até que o Plano Diretor fosse modificado. E quem não tinha como pagar ou não queria sujar as mãos, acabava indeferido. E sem ter a quem recorrer.
Um mais um
Ontem mesmo um passarinho (que não era o Edson Piriquito) me falou que aquele esquema de carros da Assembléia tinha relação com a lama que agora começa a ser levantada. Pode ser só coincidência o envolvimento de dois grandes revendedores de veículos. Mas é inevitável que a turma comece a somar um mais um.
A polícia do atraso
Quem tinha acreditado que os grandes empreendedores eram todos vítimas de um grande complô ambientalista para manter a Ilha na escuridão medieval, deve ter ficado confuso com a ação da Polícia Federal.
O governador LHS chegou a expor publicamente seu ponto de vista, claramente em defesa de um relaxamento das exigências ambientais. Imagino que ele não soubesse que seus amigos, ao mesmo tempo em que se queixavam dos entraves, estavam negociando, por baixo dos panos, alguns destravamentos.
Falar mal do shopping sobre o mangue, reclamar das mudanças oportunistas no Plano Diretor, era coisa de gente atrasada. De quem não queria o progresso. E agora, como é que fica? A polícia que investiga os negócios dessa gente tão avançada e que coloca tanto figurão na cadeia é a polícia do atraso? Será que só há progresso à margem da lei?
Preservação
Com um guarda-chuva aberto para evitar trovoadas vindas de Brasília, proprietários rurais lageanos de São Jorge da Coxilha Rica reuniram-se para criar a que poderá ser a primeira Área de Preservação Ambiental(APA) criada pela iniciativa privada em Santa Catarina.
Uma audiência pública será realizada hoje, ao meio-dia, para dar publicidade e iniciar o processo de homologação da APA. São mais de 113 mil hectares, o que equivale a quase um terço do município.
Ali, onde há muitos caminhos de tropeiros com muros de taipas preservados, nascentes de águas límpidas e a tradicional paisagem serrana, a proposta é priorizar o ecoturismo, com brechas para exploração de pequenas centrais hidrelétricas(PCHs) e a pecuária, que é a atividade tradicional, inclusive com melhoria de pastagens.
O deputado Elizeu Mattos deflagrou o processo enquanto era secretário regional de desenvolvimento. Além dos proprietários, autoridades municipais e até o procurador da República em Lages, Nazareno Jorgealen Wolff se envolveram com o projeto. Vários deputados estaduais estarão presentes à audiência, levados até o local por uma frota de veículos 4×4 requisitada na região, para garantir o percurso em trilhas de chão batido e muito cascalho.
Parece que o pessoal começa a entender que preservar é garantir características que tornam um lugar original, especial, diferente. E tudo isso é fundamental para atrair turistas e assegurar qualidade de vida.