“Houve pedido de propina”

“Houve pedido de propina”

A Operação Moeda Verde encerrou os depoimentos dos 22 suspeitos envolvidos. Porém, ainda apura informações paralelas que poderão trazer novos desdobramentos à investigação que mexeu com órgãos públicos, empresários e políticos. Nos últimos dias, o empresário Carlos Amastha, 46 anos, ex-sócio proprietário do Floripa Shopping, apareceu na Polícia Federal pelo menos três vezes com esse objetivo. Aos jornalistas, ontem à tarde, ele confirmou ter sido vítima de pedidos de propina por agentes públicos na época em que construiu o empreendimento, de R$ 130 milhões, na SC-401. Ele se disse traumático com o processo de liberação para a construção e que isso o motivou a vender o negócio assim que o inaugurou.

Empresário relembra que sofreu chantagens na Capital

A Notícia – O senhor veio trazer informações à polícia relacionadas à Operação Moeda Verde?

Carlos Amastha – Há dois anos eu fiz uma série de denúncias que não deram em nada, e não são as que ocasionaram a Operação Moeda Verde. Trata-se de outro inquérito que ainda está em andamento. Pra mim, isso foi muito importante porque outro inquérito chegou exatamente às mesmas conclusões que eu tinha falado lá atrás e que, de alguma maneira, foram desprezadas em função de que os envolvidos começaram a dizer que aquilo era fantasia minha e uma guerra comercial.

AN – O que o senhor tinha falado na época?

Amastha – Eu tinha feito uma série de denúncias que infelizmente eu não posso fazer da maneira que eu agi dois anos atrás. Hoje eu estou respondendo a dez processos criminais. Mas é exatamente o que está acontecendo, a chantagem que eu vivi na cidade por parte de alguns agentes públicos.

AN – O senhor faz essas denúncias em relação a esse empreendimento?

Amastha – Vi que o meu nome tinha citado pela delegada Julia Vergara no sentido de que alguém teria dito que, sem o vereador Marcílio (Marcílio Ávila), eu não teria inaugurado o shopping e isso foi o que me motivou a falar com ela e me colocar à disposição.

AN – E essa acusação de que o senhor não teria inaugurado o shopping sem a ajuda do vereador Marcílio?

Amastha – Eu te garanto que o Floripa Shopping só inaugurou porque fez tudo dentro da mais absoluta legalidade. Porque nunca se curvou aos desejos, às falcatruas, às chantagens que tentaram promover contra a gente.

AN – Houve pedido de propina ao senhor na época?

Amastha – Com certeza. O que o vereador Marcílio fez foi um projeto que normatizava a instalação de shoppings centeres em Florianópolis. Aquele projeto foi detonado. Não foi em frente. Por pressão, obrigaram que fosse arquivado. Por quê? Porque quem faz a coisa fora da lei não quer regra. O problema são os órgãos municipais que estão absolutamente falidos. Eu já fiz negócio em toda a América Latina e não existe um lugar no mundo onde haja tanta bagunça e falta de respeito ao cidadão.

Aprovada CPI para investigar denúncia de fraudes

Os vereadores de Florianópolis aprovaram, ontem, a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o envolvimento de servidores e autoridades municipais com possíveis irregularidades na emissão de licenças ambientais, a chamada CPI da Moeda Verde.

O requerimento foi proposto pelos vereadores Angela Albino (PC do B) e Xandi Fontes (PP) – ambos de oposição.O documento teve a assinatura de sete vereadores – um a mais do que o mínimo necessário. Além de Angela e Fontes, assinaram Jaime Tonello e Ptolomeu Bittencourt (ambos do DEM) e os governistas João Batista Nunes (PDT), Jair Miotto (PTB) e Gean Loureiro (PSDB). Agora os partidos precisam indicar os membros para que a CPI seja instalada.

Horas antes da sessão, a CPI se tornou subitamente uma unaminidade entre os vereadores. Mas nem todos queriam a mesma CPI. Orientado pelo prefeito Dário Berger, o líder do PSDB, Deglaber Goulart, chegou a anunciar em plenário o apoio da base aliada à investigação, propondo que ela fosse mais ampla, atingindo também emprendimentos mais antigos – leia-se autorizados na gestão anterior da prefeita Angela Amin (PP).

“Nosso requerimento tem um fato determinado, como manda a lei, que é a Operação Moeda Verde, e se novos fatos surgirem eles serão investigados, sem problema, mas não vamos admitir uma operação fumaça do prefeito”, disse Angela.

O vereador Juarez Silveira (sem partido) está preso e o vereador afastado e atual presidente da Santur, Marcílio Ávila, teve a preventiva decretada, mas não chegou a ser detido. Ávila chegou a afirmar ontem que é a favor CPI. Ex-presidente do Legislativo municipal, Ávila disse que, por não dever nada, também não está preocupado com os processos da Comissão de Ética da Casa.
Alegando não ter autorizado nenhuma irregularidade para beneficiar o Floripa Shopping, Ávila frisou que continuará apoiando qualquer empreendimento que seja bom para a cidade e obedeça normas legais.

Relatório fica pronto em 30 dias

No dia em que começou a analisar os documentos apreendidos na Operação Moeda Verde, a Polícia Federal (PF) anunciou que em 30 dias terá de enviar à Justiça Federal o relatório final do inquérito que apura ilegalidades na concessão de licenças ambientais e em mudanças de leis em Florianópolis.

O prazo começou a valer na última quinta-feira, dia em que foram desencadeadas as prisões dos 22 suspeitos. “Se for necessário, ainda poderemos pedir ao juiz a prorrogação. E a partir de novas denúncias, fatos novos também poderão surgir”, disse ontem a policial federal Ídia Assunção, do setor de comunicação da Superintendência da PF. A delegada Júlia Vergara, que comanda as investigações, se dedica exclusivamente ao material apreendido na casa ou escritórios dos suspeitos e em órgãos publicos do meio-ambiente do município e governo do Estado.

E ontem foi dia de visita aos quatro presos na carceragam da PF. O encontro foi em um parlatório separado por vidro e não há contato pessoal. Apontado como chefe do grupo, Juarez Silveira recebeu a visita da mulher e de um sobrinho. Também receberam visitas Renato Joceli de Souza, Rubens Bazzo e André Luiz Dadam.

Grupo Habitasul dá sua versão para telefonema

A Habitasul Empreendimentos Imobiliários, um dos grupos investigados, manifestou-se sobre a conversa divulgada ontem em AN entre Péricles de Freitas Druck (presidente da Habitasul) e o vereador Juarez. A empresa informou que o diálogo interceptado pela PF refere-se a dois negócios de natureza privada, sem relação com licenciamentos de órgãos públicos.

Segundo a empresa, o primeiro diz respeito à tentativa de rompimento de contrato sobre área de terras na SC-401 e o segundo a um contrato de locação de terrenos urbanizados em Jurerê Internacional para instalação de “show-room” no verão chamado Life Lounge, do qual participou a DVA veículos como uma das expositoras.

(Diogo Vargas, A Notícia, 10/05/2007)