24 abr Começa negociação salarial no transporte
Representantes do Sindicato em Transportes Urbanos de Passageiros da Região Metropolitana de Florianópolis (Sintraturb) e Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Florianópolis (Setuf) sentaram para a primeira rodada de negociação salarial 2007 na manhã de ontem, na sede da entidade patronal. O assessor financeiro do sindicato, Deonísio Linder, disse que após avaliação da diretoria, o sindicato decidiu não aceitar a proposta de 4% de aumento real se a classe patronal não garantir a permanência de todos os cobradores na função. A categoria vai aguardar uma nova proposta até quarta-feira. Se não houver avanço, devem ocorrer novas paralisações, diz Deonísio. Mas o secretário municipal dos Transportes, Norberto Stroisch, lembrou que a Prefeitura, mediadora das negociações, manteve encontros separados com as duas entidades na sexta-feira. “Vamos agendar quantos encontros forem necessários para evitar qualquer prejuízo para a população”, declarou.
Os motoristas e cobradores realizaram no dia 11 deste mês uma paralisação de alerta, deixando 175 mil usuários de ônibus sem transporte durante cinco horas, causando transtornos na Capital. Em decorrência do movimento, o Executivo municipal e o Sintraturb acordaram uma trégua de dez dias, que expirou no domingo. O secretário acredita que a proposta do Setuf será aceita pela categoria. “Eles vão ser reajustados acima do INPC, índice que que regula o aumento da maioria dos trabalhadores”, afirma. Norberto lamenta o descumprimento da lei federal que regulamenta a greve em serviços essenciais. “O Sintraturb deveria respeitar as determinações de manter pelo menos 30% da frota em operação”, opina. O secretário diz que não há motivo para mobilizações. “Existe um tempo hábil para o diálogo e a mesa de negociação está aberta. Minha expectativa é de que prevaleça o bom senso e o respeito ao usuário”, complementa.
A data-base dos trabalhadores é em maio, mas o Sintraturb decidiu antecipar as ações para pressionar a classe patronal. Os motoristas e cobradores reivindicam reposição da inflação (INPC), aumento real de 5%, redução da jornada de trabalho para seis horas, tíquete alimentação de R$ 250,00 para todos os trabalhadores e garantia de função dos cobradores. No entendimento de Deonísio, com o novo aumento aprovado em fevereiro, que promove a diferenciação entre as tarifas pagas com cartão (R$ 1,90) e em dinheiro (R$ 2,20), a Prefeitura está forçando os usuários do sistema a adquirirem o cartão Passe-Rápido, com utilização de catraca eletrônica, e assim a classe patronal poder demitir 1,1 mil cobradores.
Reduzida utilização de ônibus
Para o presidente do Setuf, Valdir Gomes, as paralisações anuais em época de negociação salarial fazem parte de um conjunto de problemas do sistema de transporte coletivo. Ele informa que o maior pico de utilização de ônibus na cidade foi registrado em 1996 e desde então o número de usuários vem diminuindo entre 3 a 8% ao ano. “Além do efeito crescente de insatisfação, estão agregados outros fatores, como as facilidades de se pagar contas pela Internet e resolver problemas por telefone, que facilitam as resoluções de questões práticas sem necessidade de deslocamento”, observa. A política de desenvolvimento do setor automobilístico também é apontada pelo empresário como motivo para a diminuição da procura.
O aumento de automóveis foi desproporcional às melhorias no sistema viário da Capital, na opinião de Valdir. “Para se ter uma idéia, atualmente para vir do Sul da Ilha ao Centro é uma viagem em decorrência do estrangulamento no trânsito”, reclama. Dessa forma, é preciso aumentar o número de ônibus em circulação, mesmo com redução de passageiros. “O sistema de transporte coletivo é deficiente porque não está nas prioridades. Faltam pistas exclusivas para ônibus e semáforos adaptados”, complementa.
Sistema marítimo seria saída
O projeto de transporte marítimo poderia ser uma alternativa para minimizar a condição de refém de negociações salariais que o usuário de coletivos na Capital vive hoje. Norberto informa que a Prefeitura aguarda a conclusão dos atos jurídicos que delegam ao município o poder para a implantação do sistema. “Há seis meses atrás o governador Luiz Henrique da Silveira deu o sinal verde à delegação de responsabilidade”, afirma. O sistema, orçado em mais de R$ 20 milhões prevê quatro linhas iniciais, as ligações centro de Florianópolis a Biguaçu, Palhoça, São José Norte e São José Sul. “A viabilidade do programa está condicionada no tripé captação de recursos, parcerias com a iniciativa privada e decisões políticas”, complementa o secretário.
As ligações internas, Centro ao Ribeirão da Ilha, Canasvieiras e Jurerê estão previstas nos estudos para um segundo momento. “Estas linhas só poderão ser implantadas depois que o sistema das linhas iniciais estiver consolidado”, informa Norberto. Ele fala que o projeto é complexo e de médio prazo. São necessárias obras paralelas de infra-estrutura ao sistema, co- mo a construção de terminais hidroviários e consórcio com o transporte terrestre para permitir o acesso aos trapiches co- bertos, diz secretário.
(Gisa Frantz, A Notícia, 24/04/2007)