Projetando o futuro

Projetando o futuro

Da coluna de Juliana Wosgraus (DC, 15/04/2007).

O arquiteto Roberto Rita é o presidente da recém-criada Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura – SC, a ASBEA-SC. Dela fazem parte 14 escritórios da área que reúnem profissionais que querem valorizar a profissão e o mais importante, ajudar o plano de urbanização das cidades com obras que não causem ainda mais danos ao meio ambiente. A meta é fazer com que uma cidade, ou uma única casa, contribua para o bem-estar de quem vive nela. Os problemas a contornar são muitos. Mas as cabeças com preparo pra pensar no assunto também.

Qual a construção antiga mais linda de Florianópolis?

Tem uma que eu gosto de montão, que ninguém dá nada por ela, é a casa do Hercílio Luz. Mas o que nós temos de mais bonito é o Mercado Público, o conjunto todo, com a Alfândega, é um show. O Ribeirão da Ilha também é uma coisa linda.

E a obra contemporânea mais horrível?

A OAB, da Avenida Beira-Mar Norte, eu acho um horror, e a PF, um conjunto mal pensado pra Floripa. O CentroSul ganha, é bem pior. Até quando a gente chega de avião é horrível de ver.

O que os arquitetos daqui estão fazendo pela sustentabilidade?

Todos os prédios que nós da associação estamos projetando, terão coleta de água da chuva. Outra coisa é pensar mais no isolamento pra gerar menos calor internamente e usar menos ar-condicionado. E tijolo aparente, dá isolamento. A cerâmica polui muito pra ser feita. Tratamento do esgoto pra jogar o mínimo possível na rede pública, tinta à base de água, lâmpadas econômicas.

O centro de Floripa e bairros, como Jurerê e Lagoa, têm como crescer sem perdas?

Jurerê tem muita área ainda. Estou fazendo um projeto de clube de golfe ali, tem um lago, e 56% de área verde vai ficar. Em Jurerê 50% de área verde vai ficar pra sempre.

E a Lagoa?

É mais complicado por causa dos morros, mas todo mundo pensa nisso porque vale a pena. Em tudo que mexer, 50% não pode tocar. Acima da Cota 100 (100 metros acima do nível do mar), só pode ocupar 10%. A nossa Ilha tem 55% de área verde e isso ela não vai perder, é tranqüilo manter esse manto verde que temos.

Qual o maior risco nesse sentido?

Quem está cortando a maior área verde de Florianópolis são os pobres. A Fatma não deixa construir um monte de projetos, não aprovam, aí aonde os pobres vão invadindo eles não fazem nada. O Fernando Marcondes não pode fazer o Costão Golfe, e tem seis mil pessoas morando em cima das dunas dos Ingleses hoje, mas ele não pode fazer um campo biodegradável, com poucas casas em cima.

Onde estão outros problemas assim?

O Rio Vermelho, como está hoje, não dá pra fazer nada, ruas com cinco metros de largura, você entra e tem que voltar de ré, não tem fiscal suficiente pra cuidar disso. O Sinduscon está divulgando que quase 60% das habitações em Florianópolis são irregulares. E a Fatma está brigando com os empresários por quê? Tem cinco mil travessas em Florianópolis, são cinco mil ruas com cinco metros de largura. Nunca vão poder tirar essas casas, essas áreas estão todas perdidas. Não é proibir, é ver o certo e o errado.

Qual o maior objetivo dessa associação de escritórios de arquitetura?

Primeiro é a valorização profissional. Nós morremos e a nossa obra fica, a história da humanidade está em cima da arquitetura. Então vamos valorizar essa profissão. Vamos trabalhar junto ao Sinduscon, IAB, IPUF, FloripAmanhã, para dar nossa opinião técnica.

Como vocês podem ajudar o novo plano urbano de Florianópolis?

Apresentando idéias pra comunidade saber o que nós podemos ter. Porque pela Lei não podemos ter marina, mas numa Ilha dessas não poder ter marina é até piada.

Obra sustentável é mais cara. Como conscientizar o cliente?

Ela é de 10% a 15% mais cara, mas em compensação, em cinco anos ela se paga totalmente, em energia elétrica, que é muito cara, água. Energia solar eu já coloquei em prédio há 15 anos. É mais caro no começo, mas vale a pena pensar no futuro.

Há concorrência desleal na profissão?

Concorrência acirrada existe, temos mil e poucos arquitetos em Florianópolis, e não tem mil obras pra todo mundo. Tem gente que cobra até 20% do preço de tabela. É desleal, mas o cliente vai se dar conta que escolheu mal depois.

Um bom caminho para o futuro é:

Pensar na cidade como um bom local pra viver. Arquitetura e sensibilidade são coisas muito importantes porque uma casa feia não afeta só o cara que vai morar nela. Eu sou a favor da arquitetura açoriana, não gosto dessa arquitetura de Miami. Já perdi cliente por isso, mas não faço. Prefiro mostrar para o cliente que ele pode morar bem sem 10 inclinações de telhado. A casa do Guga tem quatro telhados, precisa mais?