Ilha: graves dilemas

Ilha: graves dilemas

Da coluna de Moacir Pereira (22/04/2007).

Florianópolis está mudando numa velocidade surpreendente. Deixou de ser aquela ilha pacata, bucólica e tipicamente açoriana, amada até a medula pelos manezinhos, para se transformar numa cidade moderna e cosmopolita, como revela o DC nesta edição. Atravessa, por isso mesmo, uma fase delicada de seu crescimento, com terríveis desafios e graves dilemas a superar.

Aplausos merecidos para os investimentos não-predatórios, que elevam a qualidade de vida, gerando novos empregos e dinamizando a economia, sem agredir o meio ambiente e eliminando o inigualável patrimônio da cidade. A semana foi marcada por novos empreendimentos, que beneficiam a todos e melhoram a infra-estrutura para desenvolver um turismo mais profissional, quebrando a sazonalidade: o Shopping Iguatemi e o Floripa Music Hall.

Outras iniciativas marcaram os últimos meses: o Floripa Shopping, o Hotel Sotifel, a Marina Blue Fox. E que venham logo o Il Campanário, o Costão Golf, a Marina do Jurerê Internacional, os decks e trapiches da Beira-Mar Norte, o Golfe da Habitasul, o hotel e marina da Ponta do Coral e todos aqueles projetos que valorizem esta paisagem. Especialmente os marítimos, lacustres e fluviais, que precisam de equipamentos para serem desfrutados, enriquecidos e valorizados pela população e pelos turistas. Por que, por exemplo, só os ricaços podem curtir a esplêndida volta à Ilha com seus iates? Por que não um plano de marinas e trapiches, permitindo transporte acessível à classe média e à população de baixa renda? Por que não se sentam à mesa os que querem investir e os que se opõem a estes projetos, numa linha construtiva e de convergência?

Encruzilhada

Florianópolis passou por três etapas distintas nestes últimos 50 anos. A primeira, com a criação da Universidade Federal de Santa Catarina, com a chegada de pensadores, pesquisadores e intelectuais de diferentes origens, além da injeção de recursos federais. A UFSC mudou a mentalidade da cidade. Colocou poderoso oxigênio. Depois, infelizmente, desintegrou-se. A segunda, com a chegada da Eletrosul, também com uma nova dinâmica na economia. O isolamento de uma elite de funcionários em condomínios fechados, inflacionando serviços domésticos e enclausurando-se em atividades sociais, provocou grandes deformações. Como outros forasteiros mais recentes que também amam a Ilha, eles não absorveram a riqueza cultural da população originária, um dos dilemas de um povo eclético. Agora, as preocupações são ainda mais graves. As invasões desordenadas na periferia pelos migrantes pobres fermentam o tráfico e aumentam a criminalidade, de um lado. Na outra ponta, a ação de empresários inescrupulosos e gananciosos, destruindo e poluindo o que a “urbis” tem de bom.

Florianópolis continua uma excepcional cidade para se viver. Mas é preciso investir com urgência na infra-estrutura, promover a inclusão social pela geração de empregos e preservar este patrimônio natural, artístico e cultural.