10 abr Córrego Grande combate processo de favelização
Fundada há sete meses, a Associação dos Moradores do Sertão do Córrego Grande (Amosc) em Florianópolis, pretende contribuir para evitar a expansão da violência e favelização na área. A iniciativa do morador e professor do departamento de arquitetura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) César Floriano, em parceria com outros colegas de profissão, começa a dar frutos. A casa alugada pela entidade e mantida com contribuições dos moradores conta atualmente com 17 voluntários fixos e abriga programas importantes. Entre as atividades desenvolvidas estão o projeto cinema no sábado, com projeção de filmes em telão para as crianças, aulas de música, inglês e reforço escolar, biblioteca, oficina de boi-de-mamão e cursos profissionalizantes para as mulheres.
O morador Ivan Dias, nativo do Córrego, é um exemplo de cidadania e presta sua colaboração na Amosc de forma personalizada. Ele está promovendo por conta própria o paisagismo na praça do local, um terreno até então abandonado em frente à associação. “Faço mudas de plantas em minha casa e trago para cá”, orgulha-se. Na área que servia antes como depósito de entulhos e moradia de cobras e ratos, florescem agora margaridas, bromélias, mamonas, boldo do Chile e outras espécies. “Se formos esperar pelo poder público não sai nada”, critica, observando que a Prefeitura deveria custear o trabalho comunitário. A associação também mudou a vida da baiana Ana Márcia de Jesus Carvalho. “Antes ninguém conversava, agora todos se ajudam e meus filhos possuem um local bom para brincar e aprender depois da escola”, declara. A lageana Nelci de Fátima Martins Silva diz que cada um ajuda um pouco e esta atitude une a comunidade. “Agora só falta o governo olhar para nós, aumentando a oferta de transporte e instalando água”, reivindica. Natural do Ceará, Josefa Barbosa de Lima destaca a importância do reforço escolar na associação. “O rendimento das crianças melhorou bastante”, afirma a moradora.
O Sertão do Córrego Grande era um local tranqüilo e de poucos moradores até a década passada, quando iniciou o processo de ocupação irregular e rápida. A nova comunidade é formada por pessoas de classe média alta, nativos e migrantes do Norte, Nordeste e da Serra catarinense. Atualmente vivem na área de morro cerca de 500 pessoas, a maioria com grandes dificuldades financeiras. “As mulheres trabalham como domésticas e 80% dos homens estão desempregados ou fazem biscates”, informa o professor. As conseqüências da falta de perspectivas geraram falta de segurança e implantação de pontos de drogas na comunidade. “A premissa da associação é combater o processo de marginalização e trazer esperança de futuro a estas pessoas”, declara César, lembrando da importância da formação de líderes comunitários, “Por enquanto eu presido a entidade, mas logo os moradores estarão organizados”, acredita.
(Gisa Frantz, A Notícia, 10/04/2007)