Lixo reciclável começa a ser transferido

Lixo reciclável começa a ser transferido

O poder público de Florianópolis e os coletores de material reciclável prometeram e, por enquanto, estão cumprindo: não deixaram nenhum resíduo acumulado no posto de transbordo próximo ao Teatro Álvaro de Carvalho (TAC), no Centro da Capital, durante o primeiro dia de simulação do novo sistema de coleta de material reciclável. Os catadores transferiram tudo o que recolheram para um caminhão da Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap), que ficou no local das 11h15 às 11h25 e partiu para a estação de transbordo do Itacorubi.

A escolha de um ponto ao lado do TAC para a realização do trabalho ainda é criticada por parte da comunidade, que teme a poluição visual próxima ao prédio histórico. “Está sendo um trabalho legal. O pessoal fala demais antes de ver o que realmente será feito”, critica o representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis em Santa Catarina, Dorival Rodrigues dos Santos.

No primeiro dia de simulação do sistema, 25 “carrinheiros” (coletores que transportam o material em carrinhos) trabalharam na região central de Florianópolis – antes eram 60. Todos os resíduos coletados foram transferidos para caminhões da Comcap em horários pré-determinados em um dos cinco postos de transbordo.

Técnicos da Comcap que acompanharam o processo e os próprios catadores faziam anotações para saber o total de material recolhido e o número de viagens feitas por cada carrinheiro. O objetivo é aperfeiçoar o sistema, que pode sofrer alterações dependendo do resultado das simulações, que continuam hoje e vão até sexta-feira.

No posto de transbordo do TAC, estão sendo plantados cerca de 30 pés de alamandras vermelhas para embelezar o local. A paisagista responsável por cuidar das flores, Adorcy Linhares, explica que as plantas vão cobrir toda a mureta da contenção construída como estacionamento dos caminhões da Comcap. “Vai ficar bem bonito. Imagina isso aqui dentro de três meses”, empolga-se.

Catador aprova novo sistema para transporte

O coletor Gelson da Silva saiu com um carrinho da sede da Associação de Coletores de Material Reciclável (ACMR), ao lado da cabeceira insular da Ponte Pedro Ivo Campos, por volta das 9 horas, e percorreu várias ruas do Centro recolhendo material na manhã de ontem. Ele foi até a Rua Bocaiúva, próximo ao Beiramar Shopping, e chegou a um posto de transbordo em frente ao Terminal Rodoviário Rita Maria às 11h40.

Silva, que é conhecido pelos colegas como Pedrão, chegou ao posto, onde também funciona um estacionamento da Associação Florianopolitana de Voluntários
(Aflov), carregando cerca de 300kg de resíduos. “Só não sei dizer quantos quilômetros eu andei porque o velocímetro do carrinho estragou”, brinca.

Há seis anos na profissão, Pedrão acredita que o novo sistema de coleta dos materiais recicláveis vai ser melhor para os catadores. “Está sendo uma experiência bem legal. Acho que nós vamos sair ganhando, e a cidade também”, avalia.

O primeiro caminhão da Comcap que levou material até a estação do Itacorubi saiu do Centro carregado com cerca de 1,24 tonelada de resíduos. “Mas esse era pequeno”, diz o representante do Movimento Nacional dos Catadores, Dorival dos Santos.

Arrecadação diária é repartida em partes iguais

Depois de divididos nas baias, os resíduos recolhidos pela ACMR passam por quatro prensas instaladas no galpão, cada uma para um material diferente: metal, papel, papelão e plástico. A partir daí, entram em ação os atravessadores (há um para cada tipo de papel em Capoeiras, e outro para plástico na Ponte do Imaruim, em Palhoça), que compram o material dos coletores e o levam para recicladoras instaladas em outros estados. Segundo Ricardo Abufassy, do Senac, os resíduos que os coletores vendem por R$ 0,70 o quilo é comercializado por até R$ 5,00 pelas indústrias, que lavam, esterilizam e processam os materiais.

Antes da mudança para o Itacorubi, cada coletor ganhava por aquilo que recolhia e vendia. Agora, tudo o que for arrecadado com comercialização dos materiais será rateado entre as 54 famílias que compõem a ACMR, a maior associação da categoria do Estado e a segunda maior do País.

“Agora estamos todos de mãos dadas”, diz o presidente da ACMR, Luiz Carlos Rodrigues dos Santos. Ele aprova a mudança de local de trabalho para o Itacorubi. “Aqui estamos em um local coberto e lá na ponte tínhamos que trabalhar sob chuva, sol e sereno”, afirma.

Estrutura ainda será melhorada no Itacorubi

Na estação de transbordo do Itacorubi, 29 coletores fizeram a triagem dos materiais recolhidos no Centro na manhã de ontem. À tarde, foram mais 33 pessoas fazendo esse trabalho. Eles separaram os resíduos em carrinhos e, depois, colocaram-nos em duas baias. Como há vários tipos de material, seria necessário dividir as baias em quatro, mas, enquanto não são construídas as novas divisórias, os catadores improvisam com pedaços de papelão e latões de ferro.

“Ainda há coisas a melhorar na estrutura do galpão, e esses três dias de simulação vão servir para indentificarmos essas demandas”, explica Ricardo Abussafy de Souza, assessor técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) que acompanha o trabalho dos coletores na estação de transbordo.

O trabalho do Senac com os coletores faz parte do projeto “Dê a mão para o futuro”, coordenado pela Fundação Banco do Brasil e pela Associação Brasileira da Indústria de Higiente Pessoal Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Os integrantes da ACMR passaram por cursos de capacitação no Senac antes de mudarem seu local de trabalho para o Itacorubi. “Estamos aprendendo bastante, e isso agrega valor ao nosso trabalho”, afirma o presidente da ACMR, Luiz Carlos Rodrigues dos Santos.

Os coletores da ACMR recebem apoio também do projeto “Rede de catadores”, patrocinado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e desenvolvido pela Comcap, Movimento Nacional dos Catadores, Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). No mês que vem, os coletores devem receber novos equipamentos por meio dos dois projetos, como prensas e uma esteira, além de luvas e uniformes.

Em março devem começar campanhas publicitárias em rádio e TV informando a sociedade sobre a importância da coleta seletiva. “O mais difícil desse trabalho é organizar os cidadãos. Não custa as pessoas gastarem um pouco de tempo para lavar os potes de margarina ou colocar as garrafas de vidro em um mesmo saco plástico. Esse é um momento histórico para Florianópolis na área de coleta de resíduos urbanos”, analisa Ricardo Abussafy.

(Felipe Silva, A Notícia, 01/02/2007)