Celesc suspende novas ligações em abril

Celesc suspende novas ligações em abril

A Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) pode suspender as novas ligações de energia elétrica na região central de Florianópolis a partir de abril de 2007, “no máximo em maio”, segundo o diretor técnico da empresa, Eduardo Sitônio. A subestação Ilha-Centro, localizada sob a cabeceira insular da ponte Hercílio Luz, está operando com 90% da capacidade, chegando a 93% e 94% nos momentos de maior consumo.

“Enquanto a subestação da rua Angelo Laporta não for construída, a cidade não vai poder crescer”, destacou Sitônio, afastando a possibilidade de interrupção no fornecimento ou apagão. “Quem já está estabelecido não terá problemas, mas quem pretender se instalar na área central da cidade corre o risco de ficar sem fornecimento”, destacou.

A possibilidade de suspensão de novas ligações foi revelada inicialmente pelo governador Eduardo Pinho Moreira, durante entrevistas para emissoras de rádio e televisão, confirmada depois pela Celesc, empresa que ele volta a dirigir em 2007. “A subestação Ilha-Centro está operando com um transformador a mais, visando impedir quedas no fornecimento, mas tudo isso tem um limite”, disse Sitônio.

O esforço da Celesc pela instalação de uma nova subestação começou em 2002, quando foi adquirido um terreno no número 45 da rua Angelo Laporta, uma transversal da avenida Mauro Ramos.

BLINDAGEM

“Inicialmente seria instalada uma unidade convencional, mas considerando o grande adensamento populacional, resolvemos por uma subestação blindada, completamente segura”, destacou o diretor técnico da Celesc.

Num primeiro momento, a Câmara de Vereadores aprovou a mudança de zoneamento prevista no Plano Diretor do Distrito Sede da Capital, possibilitando a instalação do equipamento. Os moradores reagiram através do Conselho Comunitário da Região do Banco Redondo (Conseban), o que incluiu um abaixo-assinado com 1.600 assinaturas, encaminhado ao Ministério Público Estadual.

Ao mesmo tempo, foram feitas pressões junto aos vereadores, que acabaram cancelando a alteração no zoneamento, fazendo retornar para a situação anterior. Com isso, a região da rua Angelo Laporta voltou a ser exclusivamente residencial. “Nosso setor jurídico estuda a melhor forma de contornar essa situação”, complementou Sitônio, confirmando que a Celesc não desistiu de executar a obra no mesmo local, segundo o projeto original.

Investimentos ficam inibidos, dizem empresários

A inibição de novos investimentos em Florianópolis deve ser a conseqüência imediata da posição da Celesc de suspender novas ligações de energia elétrica a partir de abril de 2007. A preocupação foi levantada ontem pelos dirigentes da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif) e do Sindicato da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis (Sinduscon).

“Se isso se confirmar, será um desastre para uma cidade que necessita de investimentos e geração de emprego”, salienta o presidente do Sinduscon, Hélio Bairros. “Com essa notícia, Florianópolis confirma sua condição de cidade dos esquecidos”, acrescentou, pensando nos “vários empreendimentos que estão aprovados e podem não sair do papel”.

Na mesma linha de raciocínio, o presidente da Acif, Dilvo Tirloni, acha que “as obras em andamento podem ser paralisadas” e novas construções serão “inibidas”. O presidente da CDL, Kissao Thais destaca que a geração de novos empregos, capaz de ajudar a resolver os problemas sociais da cidade, ficará prejudicada diante da falta de investidores.

Os três são unânimes em condenar a Câmara de Vereadores pela alteração do zoneamento que impediu a construção da subestação da rua Angelo Laporta. “Tentamos convencer os vereadores da importância da obra, mas infelizmente eles não se sensibilizaram”, lamenta Thais, expressando opinião semelhante a de seus colegas da Acif e do Sinduscon.

“Diante das informações da Celesc, contestadas pelos moradores daquela região, resolvemos tirar as dúvidas com entidades independentes”, lembra Kissao. Os empresários procuraram os dirigentes do Sindicato dos Engenheiros (Senge) do Estado e do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-SC). “Todos disseram a mesma coisa: existe o risco de suspensão de novas ligações e a subestação não causa os danos anunciados”, salientou o presidente da CDL.

Thais, Tirloni e Bairros defendem que a Celesc entre imediatamente na Justiça, visando anular as decisões da Câmara de Vereadores que impedem a obra. “Tudo já estava aprovado, a Celesc atuava de acordo com a legislação, fez os investimentos necessários, mas no momento de iniciar os trabalhos a regra do jogo foi mudada”, complementou Dilvo Tirloni.

Presidente da Câmara afirma que pretende retomar negociação

“Nós sabemos que temos responsabilidades em todo esse processo e estamos dispostos a voltar a conversar”, disse ontem de manhã o presidente da Câmara de Vereadores, Marcílio Ávila, acusando a Celesc de ter se negado ao diálogo. “A empresa não quis conversar com os vereadores e nem com os moradores da região e permaneceu numa posição irredutível”, acusou Marcílio.

Ele sugere que a Celesc use um terreno um pouco acima do atual, da Prefeitura da Capital, “que está disposta a doar o imóvel para a instalação da subestação”, salientou. “Estou pronto a conversar com a Celesc, pois nesse momento não devemos ficar medindo força, mas somar esforços para que esse problema seja resolvido o quanto antes”, complementou.
(Celso Martins, A Notícia, 14/11/2006)