06 nov Areia avança sobre o mangue da Daniela
Pescadores que freqüentam o Pontal da Daniela, no Norte da Ilha, junto à Estação Ecológica de Carijós, têm se surpreendido com o avanço da areia sobre o mangue no local. O mar está avançando e empurrando a areia sobre a vegetação da área de preservação permanente, matando as árvores que antes formavam uma mata fechada sobre o banhado. Quem conhece o local há décadas, acredita que as obras de aterro da região central da cidade estão contribuindo para alterar as correntes marinhas e acelerar o avanço da areia sobre o mangue. Mas especialistas em oceanografia garantem tratar-se de um fenômeno natural, em que ora o mangue recua, ora avança.
Para o funcionário público aposentado Etevaldo Goya, de 75 anos, que freqüenta o Pontal desde adolescente, o fenômeno é resultado da ação humana. “Desde que começaram a aterrar o canal no centro da cidade, com a avenida Beira-mar Norte e agora a Beira-mar Continental, mudaram as correntes e o mar está trazendo a areia para dentro do mangue”, disse. Goya mostra as alterações rápidas no litoral local.
“Dizem que não há impacto ambiental, pois é só olhar isso aqui para provar que existe impacto sim”, argumentou. O aposentado mostra o avanço de uma língua de areia sobre o mangue, que se não fosse a dificuldade de acesso, poderia ser confundida com um aterro artificial levado até ali por caminhões.
O professor Jarbas Bonetti coordena o Laboratório de Oceanografia Costeira da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), instalado na Barra da Lagoa, e estuda há anos as alterações do litoral em vários pontos da Ilha. Para Bonetti, o avanço da areia sobre o mangue do Pontal da Daniela não tem nenhuma relação direta com as obras de aterro na região central da cidade. “Uma obra desse porte realmente poderia interferir no pontal, mas nesse caso está muito longe e os sedimentos teriam que atravessar um canal muito profundo no meio da baía Norte para provocar alguma alteração significativa na Daniela”, explicou.
Estudos da região mostram que contorno do pontal sofre alterações desde a década de 1930
De acordo com o pesquisador Jarbas Bonetti, trata-se de uma área em movimento. Estudos do local mostram que pelo menos desde a década de 1930 há alterações no contorno do pontal. “Em alguns períodos o mar avança sobre o mangue, em outros recua, às vezes o pontal muda o formato apontando mais para noroeste, às vezes mais para sul”, disse Bonetti, explicando que o fenômeno é natural. “Pode haver algum impacto local em razão do crescimento urbano junto ao local, que acaba imobilizando sedimentos que, de outra maneira, estariam também em movimento, mas não há nenhum estudo comprovando isso”, disse o professor da UFSC.
Segundo Bonetti, há duas forças naturais agindo na baía Norte que movem os sedimentos em direções opostas, fazendo com que a areia da praia do Pontal da Daniela avance em alguns momentos e recue em outros. “A ondulação de alto mar que penetra na baía tende a fazer o mar avançar, empurrando a areia para dentro do mangue, enquanto a maré vazante executa o movimento contrário, retirando sedimentos e permitindo que o mangue cresça”, explicou. “Em alguns momentos uma das forças vence, em outros a outra, numa variação que não é periódica, mas comum”, esclareceu o pesquisador.
(Carlito Costa, A Notícia, 06/11/2006)