30 out População reclama de obras viárias não concluídas
“Eu não agüento mais. Se pudesse sumia daqui”, disse Zuleide Fagundes Pinheiro, 74 anos de idade, residente em Ratones. “Tenho que deixar as mercadorias dentro de sacos de plástico ou em caixas para evitar que a poeira acabe com tudo”, acrescentou, se referindo ao antigo armazém que ela administra junto com o marido Aldo Pinheiro, 80.
A poeira que causa os transtornos vem da rua Bento Manoel Ferreira incluída no projeto de calçamento de ruas chamado pela Prefeitura de “Operação Tapete Preto”, cujos serviços foram iniciados em novembro do ano passado e ainda não foram concluídos. “Eu tenho rinite alérgica e tudo isso é um grande sofrimento para mim. O pior de tudo é que na minha idade não vou poder experimentar o asfalto quando ele ficar pronto”, acrescentou.
Enquanto narra seu drama, Zuleide não se contém e chora: “Tudo isso me provoca quentura na cabeça e dores no peito”. Mais grave ainda é ela não poder abrir as portas e janelas da casa, “pois o vento nordeste invade tudo, enchendo a casa de poeira”. Só uma porta do armazém permanece aberta e “se eu abrir a dos fundos, o vento encanado destrói e suja tudo”, complementou.
A algumas centenas de metros do armazém de Zuleide e Aldo, o funcionário público federal Castro Domingos da Silva, 54, também se sente incomodado com a poeira. “Quando era a estrada de chão antiga a poeira não era tanta. Mas depois que prepararam o leito da estrada para colocar o asfalto, a poeira toma conta de tudo”, destacou.
Castro reclama da ausência de informações sobre a conclusão da obra. “Ninguém apareceu aqui para explicar o que está acontecendo e informar quais as razões dessa demora toda para terminar uma obra que poderia ter sido concluída em pouco tempo”. Quando chove a poeira não incomoda, “mas a lama impede que a gente se desloque com tranqüilidade”.
Na rua em que ele mora residem cerca de 200 famílias e todas sentem os problemas relatados por Castro e Zuleide. “É por essa rua que os ônibus passam para apanhar os passageiros. Se fosse uma rua sem movimento, até entenderia a demora ou a ausência de asfalto”, acrescentou Castro. Além disso, com o alargamento da rua João Januário da Silva, os postes de energia elétrica se encontram quase no meio da via, oferecendo risco aos motoristas.
Conclusão da obras em Ratones sem prazo certo
O drama da comerciante Zuleide Pinheiro vai se estender por mais alguns meses, já que a conclusão dos trabalhos de colocação do asfalto de um anel viário em Ratones vai precisar de pelo menos R$ 2 milhões, não havendo prazo para a conclusão dos serviços. A informação é do secretário municipal de Obras, Aurélio Remor, que anunciou a inauguração das obras em Ingleses no dia 15 de dezembro, além de garantir que vai verificar os problemas na servidão Verde, no bairro da Tapera.
“A cidade possui hoje cerca de 800 ruas sem pavimentação e para uma cidade turística isso é um problema muito sério”, disse. Desde o início da “Operação Tapete Preto”, segundo ele, foram pavimentadas aproximadamente 220 vias públicas em Florianópolis. Só em 2006, foram investidos R$ 21 milhões de um total de R$ 30 milhões que devem ser aplicados até o final do ano.
Para 2007, Remor prevê a obtenção de um empréstimo no valor de R$ 30 milhões junto ao Fundo Andino de Fomento, o que vai possibilitar a pavimentação de outras 250 vias da cidade. Mesmo assim, ficará faltando a pavimentação de outras cerca de 400 ruas, servidões e travessas. “A demanda pela pavimentação de vias tem aumentado bastante e hoje cerca de 90% dos pedidos encaminhados pelos vereadores são nesse sentido”, salientou Remor.
Comércio tem prejuízo no Norte da Ilha
Em Ingleses, o empresário do ramo de informática, Edson Luiz Correia, 42 anos, passa a mão na cabeça quando fala do prejuízo que acumula com as obras na SC-401, principal acesso ao balneário. “O movimento caiu cerca de 70%”, disse na última quinta-feira mostrando o laboratório vazio e os funcionários aguardando a chegada de algum cliente.
“O trabalho de manutenção e conserto que realizamos supera o movimento de vendas”, explicou. Correia explica que os clientes não têm como estacionar por causa das obras no trecho em frente a seu estabelecimento. Os trabalhos estão ocorrendo há três meses. A preocupação maior é com a proximidade da temporada de verão e a chegada de milhares de turistas.
Ao longo da última semana, o prefeito Dário Berger inspecionou as obras, ouviu as reclamações dos comerciantes, donos de postos de combustíveis, hoteleiros e proprietários de restaurantes, todos sofrendo os mesmos problemas de de Correia.
Esgoto e água invadem casas na Tapera
No bairro Tapera, no Sul da Ilha de Santa Catarina, a poeira diminuiu, mas o esgoto e a água da chuva passaram a invadir as casas depois que a “Operação Tapete Preto” foi iniciada. No bairro Há previsão para a pavimentação de 17 ruas, 12 estão executadas e uma em fase de conclusão. O que acontece na servidão Verde ilustra bem o problema. “O esgoto que vem da servidão Fortunato invade as nossas casas”, reclamou Ademir de Carli, 27 anos, funcionário de um mini-mercado. “Quando acontece de chover, a casa da gente fica alagada”, contou Rosimara Machado Cardoso, 23 anos, que mora com um filho pequeno. “Isso começou depois que fizeram o calçamento com lajotas”, destacou a moradora que teve um jogo de cozinha e um guarda-roupas danificados.
O marinheiro civil Claudinei Silva da Rocha, 35 anos, também residente na servidão Verde, na Tapera, se cansou de ver a casa encher de água “com qualquer 15 minutos de chuva”, e decidiu construir outra na parte da frente do terreno. A diferença é que a construção nova está a quase um metro acima do solo. “A água chega a atingir uns 15 centímetros da base da casa, mas não entra”, explicou. A garagem anexa à nova casa fica abaixo do nível da rua e sempre que chove um pouco mais forte Rocha tem de retirar o carro e estacioná-lo em frente de casa. Mesmo assim, a água encobre parte dos pneus. “Antes do calçamento só umas duas ou três casas eram atingidas por alagamentos e agora quase todas as famílias sofrem com esses problema”, complementou Claudinei.
(Celso Martins, A Notícia, 30/10/2006)