08 set Santa Mônica
Da coluna de Henrique Ungaretti (A Notícia, 08/09/2006):
O juiz federal substituto Zenildo Bodnar, da Vara Federal Ambiental de Florianópolis, comandou audiência pública na quarta-feira sobre as obras do Shopping Iguatemi. A procuradora Ana Lúcia Hartman declarou que não há mais dúvida de que o empreendimento não está sobre área de mangue. Embora um biólogo da UFSC tenha afirmado que a proximidade evidente torna o terreno da antiga Santa Fé (que um dia pertenceu a freirinhas) parte daquele ecossistema. As pendengas devem se equacionadas por um termo de ajuste de conduta entre o Ministério Público Federal e o empreendedor, tal e qual ocorreu no caso do Floripa Shopping.
Espetaculosidade
Surpreendeu a presença de Carlos Amastha, do shopping concorrente. Amastha inscreveu-se para falar e quis usar a apresentação de Power Point preparada pelos advogados do Iguatemi, com o objetivo de esclarecer questões levantadas pelo MPF, para provar que tais argumentos seriam fantasiosos. O juiz Bodnar impediu que prosseguisse. O objetivo da audiência era ouvir a comunidade, técnicos e autoridades e não fornecer palco para o prosseguimento de uma querela de motivação comercial.
Derrapou
Na audiência, representantes da associação de moradores do bairro Santa Mônica apoiaram o prosseguimento da obra. Os advogados do Iguatemi afirmaram que 10 residências construídas atrás do shopping despejavam esgoto sobre o manguezal e que o empreendimento vai consertar a situação. A procuradora Ana Lúcia concluiu dizendo que a informação dava a medida do quanto os moradores do bairro estariam, de fato, (pouco) preocupados com a preservação ambiental. Não deixa de ter razão, mas generalizou e foi injusta com a comunidade. A crítica poderia ser dirigida ao próprio MPF, que é órgão fiscalizador e jamais atuou contra o problema.
Diferenças
A situação é similar no Rio Vermelho, em Florianópolis, onde não há rede de esgoto. A construção de um campo de golfe está embargada porque o aqüífero dos Ingleses poderia, eventualmente, ser contaminado pelo uso de agrotóxicos necessários para o tratamento da grama. No entanto, já passou da fronteira do escândalo a ocupação desordenada do bairro por meio da venda irregular de lotes baratos, inclusive sobre áreas de preservação ambiental. Para onde vai o cocô que essa turma faz?
Puxão de orelha
Surpreendeu a ausência de representantes da Prefeitura de Florianópolis. Estavam lá servidores do Ipuf e o procurador do município. Comunicado de que o prefeito não teria recebido a convocação para a audiência, o juiz Bodnar rejeitou o argumento e disse esperar que, numa próxima ocasião, não seja obrigado a mandar um oficial de justiça chamar o alcaide a se manifestar. O pano de fundo da celeuma é a política de desenvolvimento da cidade.