02 ago Morador de Ingleses cobra urbanização
Os muros construídos em espaços onde deveriam existir calçadas nas ruas de Ingleses, no Norte da Ilha de Santa Catarina, terão que ser recuados por seus proprietários por meio de uma ação da Prefeitura de Florianópolis, com o apoio da Associação Comercial e Industrial de Ingleses e Região (Acir). “Nosso principal objetivo é a humanização do balneário”, explicou José Antônio
Bittencourt, diretor de marketing do grupo de 16 entidades que encabeça o movimento.
Além de calçadas, as lideranças da região reivindicam a implantação de ciclovias no bairro, tendo como base uma pesquisa efetuada pelo Instituto Mapa, contratado pelo Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf). A realização de 520 entrevistas com pessoas da comunidade, cujas idades variaram de 14 a 65 anos, indicou que dois terços dos moradores da região usam bicicletas em seus deslocamentos.
Os resultados foram apresentados durante reunião com a comunidade e professores das escolas Gentil Mathias e Intendente José Fernandes, com a participação de aproximadamente 60 pessoas e representantes de órgãos públicos. “Na pesquisa, saímos do achismo e partimos para o científico e descobrimos que 60% da população consideram a situação desfavorável para o uso de bicicletas”, disse o ex-ciclista profissional Maurício Pantaleão, que trabalha no Instituto Mapa.
Durante a reunião, o presidente do Ipuf, Ildo Rosa, garantiu que a partir de agora “Ingleses vai ter um rosto diferente”. O balneário foi escolhido pela Prefeitura da Capital para a implantação do projeto piloto de uma praia onde o pedestre terá preferência. “Hoje existe uma guerra entre ciclistas e motoristas”, principalmente na rodovia João Gualberto Soares, assinalou o presidente da Acir, José Antônio Bittencourt. Ele participou de uma reunião ontem à tarde na Prefeitura, quando foram discutidos os detalhes da transferência da via, estrada que liga Ingleses ao Rio Vermelho, para a responsabilidade do município.
Depois que isso acontecer, será executada uma mudança completa na fisionomia da rodovia visando adequá-la ao uso pelos ciclistas e pedestres, priorizando as pessoas em vez dos veículos. Além da rodovia João Gualberto, existem outros pontos perigosos para os ciclistas e pedestres, como um trecho da rodovia João Becker, o centrinho de Ingleses e a rua Graciliano Ramos, entre outras.
Igreja local dá bom exemplo e recua muro em quatro metros
“Os muros surgiram pelo descaso, pela falta de fiscalização e a falta de vergonha de parte das pessoas que os ergueram. Vamos tomar providências para termos não só as ruas, mas a cidade que nós queremos”, afirmou o presidente do Ipuf, Ildo Rosa, durante a reunião com a comunidade de Ingleses, incluindo a praia do Santinho. Em alguns pontos da região os muros estão construídos junto ao meio fio das vias, sem nenhum espaço para os pedestres.
Um bom exemplo foi dado na semana passada pelo pastor da igreja Batista local Vladimir Bambini, que demoliu o muro em frente ao templo e o reconstruiu com um recuo de quatro metros, o que vai facilitar o deslocamento dos alunos da escola Intendente José Fernandes. Visando homenagear a iniciativa, a Acir entregou um certificado de honra ao mérito ao pastor Bambini.
“Quem tem prioridade no espaço urbano: as pessoas ou os motoristas? Os valores estão mudando e a conscientização vai mudar esta história”, afirmou o deputado estadual Vânio dos Santos (PT), também presente à reunião. O diretor de Regulação e Gestão do Ministério das Cidades, Carlos Morales, declarou no final do encontro: “Hoje aprendi como se faz política pública. Recebi uma injeção de otimismo em relação ao trabalho do Ministério. Só venceremos no dia que nossa lei for exercida por vocês, cidadãos”.
(Celso Martins, A Notícia, 02/08/2006)