07 ago Crescimento imobiliário inviabiliza Cidade das Abelhas
A Cidade das Abelhas, centro de excelência em pesquisa e apoio à apicultura reconhecido nacionalmente, está sendo expulso de Florianópolis pelo crescimento urbano. A proximidade de dois loteamentos (um já existente e outro a ser implantado), expõe os moradores próximos a picadas de abelhas e limita a possibilidade de ampliação e diversificação do trabalho. Em razão desses problemas, a unidade deve ser transferida em dois anos para Blumenau, onde a prefeitura local cedeu uma área de 70 hectares. Lá, a unidade será ampliada e transformada no Centro de Excelência em Pesquisa, Desenvolvimento e Difusão de Tecnologia sobre Abelhas (CPDT-Abelhas). O centro atual, na Capital, será transformado num parque ambiental.
A unidade ligada à Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) está atualmente instalada numa área de 20 hectares no bairro Saco Grande, atrás do Centro Administrativo do Governo do Estado. A expansão do bairro, de um lado da área, e a futura construção de um novo loteamento, do outro, reduziram a margem de segurança e estão inviabilizando o trabalho com as abelhas. “Precisamos de um afastamento de pelo menos 300 metros de ocupações urbanas, por razões de segurança”, disse o diretor da Cidade das Abelhas, Horst Kalvelage. Hoje as casas já estão a cerca de cem metros dos apiários.
O trabalho de pesquisa e apoio a apicultores é realizado no Estado há mais de 50 anos, desde que foi criada uma unidade específica dentro da Secretaria de Agricultura. Hoje a Cidade das Abelhas trabalha com três focos de pesquisa: seleção de abelhas-rainhas (cedidas aos produtores), flora apícola (vegetação que favorece a produção das abelhas) e sanidade apícola (manutenção dos insetos livres de doenças, vital para a qualidade da produção). O centro também coordena um projeto-piloto de produção integrada, envolvendo 105 pequenos produtores espalhados pelo Estado.
A produção de mel e outros produtos das abelhas envolve cerca de 30 mil famílias no Estado. “São produtores que mantém de duas a até mil caixas de abelhas”, disse Kalvelage. A produção anual média de mel é de 4,5 mil toneladas, chegando a 6 mil toneladas em anos bons. Em Florianópolis, justamente em função da intensa urbanização da região, há muito pouco. “Há produtores no entorno na região, nos municípios de São Bonifácio e Rancho Queimado, já na subida da serra”, disse o diretor da Cidade das Abelhas.
O mel brasileiro é considerado de alta qualidade porque as abelhas usadas aqui, resultado de cruzamentos entre espécies européias e africanas, são mais resistentes a doenças. Isso que permite dispensar uso intensivo de antibióticos, que podem deixar resíduos no mel. O objetivo do novo centro é ampliar o trabalho de pesquisa voltado para o aumento de produtividade dos produtores. “O Brasil tem um potencial de produção de 150 mil a 200 mil toneladas, mas só produz 40 mil, em razão do baixo consumo interno e dificuldades de acesso ao mercado externo”, disse Kalvelage. Metade da produção é exportada.
Área será parque ambiental
O projeto de transformação da atual Cidade das Abelhas num parque ambiental deve ocorrer de forma simultânea com a instalação do CPDT-Abelhas em Blumenau. “A idéia é que essa área seja mantida como um braço do centro de pesquisa, voltado para educação ambiental e turismo, mantendo uma atividade em menor escala com unidades didáticas para visitação”, disse Horst Kalvelage.
O parque ambiental teria as construções atuais recuperadas, estacionamento para ônibus e um novo projeto paisagístico. Os visitantes conheceriam unidades de extração de mel, beneficiamento de cera, o apiário e a casa da rainha, unidades que já existem hoje, mas não têm uma estrutura adequada para uma atração turística voltada para a educação.
O projeto prevê ainda a substituição de um bosque de eucaliptos por vegetação nativa associada à produção de mel. “Os eucaliptos foram plantados para que as abelhas se alimentassem, mas hoje não cumprem mais essa função e oferecem risco”, disse Kalvelage. As árvores estão velhas, produzindo poucas flores, e muito altas, o que limita muito o acesso das abelha a alimento. Além disso, por serem muito grandes, há risco de desabarem. “Quando há vento forte, fechamos o acesso ao local”, disse o diretor. Mas a transformação da área em parque ambiental ainda depende da captação de recursos. “Pretendemos buscar alguma sustentabilidade, vendendo produtos e explorando o turismo”, disse Kalvelage.
Número de pesquisadores passará para 23
A implantação do CPDT-Abelhas em Blumenau dependerá da captação de R$ 6 milhões. “Como já somos uma referência nacional, esperamos obter recursos do governo federal e instituições de pesquisa”, argumentou o diretor. O centro será instalado numa área de 70 hectares no bairro Garcia. O local é contíguo a uma grande região ainda florestada. “Queremos fazer um projeto ambientalmente correto, interferindo o mínimo possível no local”. Um levantamento do relevo está em elaboração, para embasar o projeto arquitetônico. A área construída terá 3,4 mil metros quadrados, mais que o triplo do tamanho das instalações atuais. O número de pesquisadores também será ampliado dos atuais cinco para 23.
O projeto de Blumenau também pretende ser auto-sustentável. O CPDT-Abelhas deve obter uma articulação do setor público (Epagri, universidades, Embrapa , Cidasc ) com o setor produtivo (Associações de Produtores) e com a iniciativa privada. A parceria com outras instituições de pesquisa, ensino e extensão em nível nacional e internacional é considerada imprescindível. “Queremos atrair pesquisadores de pós-doutorado para que façam seus estudos na unidade e oferecer treinamento de nível superior”, informou o diretor. Uma das idéias é desenvolver equipamentos e softwares ligados à apicultura, com os royalties revertendo como receita para o centro.
O grupo deve reunir pesquisadores e extensionistas (difusores de tecnologia) de diferentes formações (agronomia, biologia, engenharia florestal, medicina, medicina veterinária, zootecnia, bioquímica, farmácia, informática, economia e administração) com formação em nível de graduação, mestrado ou doutorado.
A participação conjunta de pesquisadores, extensionistas e administradores rurais num mesmo projeto permite que a tecnologia gerada chegue de forma ágil ao apicultor, ao meliponicultor ou ao agricultor e seja aplicada de forma adequada, viabilizando a sustentabilidade do agronegócio. Além disso, a pesquisa e desenvolvimento de tecnologia com os produtos das abelhas como o mel, própolis, pólen, geléia geral e apitoxina, para utilização na saúde humana será incentivada, como já ocorre em vários países.
(Carlito Costa, A Notícia, 07/08/2006)