O Costão Golf

O Costão Golf

Da coluna de Henrique Ungaretti (A Notícia, 03/07/2006):

O empresário Fernando Marcondes de Mattos está na expectativa de que a Justiça Federal levante o embargo à implantação do Costão Golf, nos Ingleses, até o final deste ano. Marcondes de Mattos é o proprietário do Costão do Santinho, considerado o melhor resort de praia do Brasil.

Quanto custa

Outros 250 mil metros quadrados da área de Fernando Marcondes são ocupados pelo resort. Um resort é um hotel junto à natureza, feito para o hóspede não ter vontade de sair. No Costão há vilas de apartamentos, áreas de recreação, salão de ginástica, complexo esportivo, centro de convenções, bares e restaurantes. Um pacote de sete dias, este mês, custa em torno de R$ 2 mil.

Pragmático

Empresário influente em Florianópolis, sobre a iniciativa de Fernando Marcondes de Mattos, simplifica: “Ele não investiria tanto para dar um tiro no pé”. O Costão Golf deve gerar 400 empregos diretos e indiretos, incrementar o roteiro turístico de Florianópolis e ter papel, hoje inexistente, na preservação ambiental daquela região do Norte da Ilha.

O campo de golfe

O projeto do Condomínio Residencial Costão Golf foi autorizado por lei municipal em 2003. Todos os demais procedimentos legais foram cumpridos. A construção começou em janeiro do ano passado. O novo empreendimento de Fernando Marcondes ocupa área de quase 572 mil metros quadrados no Sítio do Capivari, entre Ingleses e o Rio Vermelho, no Norte da Ilha de Santa Catarina. Pode ser descrito como um condomínio em torno de um campo de golfe. Prevê 181 lotes de 900 metros quadrados para casas residenciais e mais 13 pequenos prédios com 100 apartamentos no total.

Parque das Dunas

Um teleférico sobre as dunas dos Ingleses fazendo a ligação entre o Costão Golf e o Costão do Santinho é a novidade mais atraente do projeto. O passeio sobre o parque das Dunas será aberto ao público. A lei que autorizou o condomínio também criou o parque, que inclui terras entre o Sítio de Capivari, Ingleses do Rio Vermelho e a praia do Santinho. O plano global deve permitir o monitoramento de todo o ecossistema local que, hoje, está, como sabe o leitor, ameaçado.

O embargo

Em abril de 2005, o Ministério Público Federal de Santa Catarina ingressou com Ação Civil Pública para paralisar as obras que foram, dois meses depois, efetivamente, descontinuadas pela Justiça Federal. O temor do MP é que fertilizantes e pesticidas necessários para a manutenção do campo venham a contaminar o aqüífero dos Ingleses, que fica, em parte, sob aquela área e abastece de água todo o Norte da Ilha. Marcondes de Mattos assinou termo de cooperação técnica com a Casan para fazer análise mensal da reserva. Fechou convênio adicional com a UFSC para monitoramento constante de qualquer concentração de elementos químicos no aqüífero e obteve laudo da maior empresa de hidrologia subterrânea do Brasil, a pedido do próprio MP, que garante a inexistência de risco de contaminação.

Dois mundos

Há quase um ano, a coluna mostrou lotes, sem saneamento nem ligação de água ou luz, cercados e prontos para venda em Área de Preservação Permanente no Rio Vermelho. A transação era anunciada em classificados de jornal. Agora, as casas já estão de pé, praticamente sobre as dunas da praia do Moçambique.

Quem se importa

Naquela época, grupo de moradores organizou um passeio de autoridades para mostrar as atrocidades na ocupação de áreas do Rio Vermelho. O movimento envolvia a associação dos moradores e o jornal “O Bairro”. Um coquetel de salgadinhos fritos com refrigerante foi oferecido por Marcondes de Mattos aos convidados da comunidade. O Costão do Santinho também emprestou a Kombi que levou a turma pelo passeio-denúncia. O único parlamentar presente foi o vereador Alexandre Fontes (PP). Quando assumiu a Prefeitura da Capital, o vereador Marcílio Ávila (sem partido) pediu que se instalasse comissão para apurar e corrigir aqueles problemas. De volta à cadeira que ganhou nas urnas, Dário Berger (PSDB) não deu continuidade ao requerimento.

Ruído

Aquela reunião degringolou em confronto entre moradores e a dirigente da Cohab regional, que tem planos de construção de condomínio, na região, para oficiais da Polícia Militar e outros servidores públicos. Resguardados os cuidados ambientais e urbanísticos prometidos, a presença do Estado é alternativa válida à ocupação desregrada. Por outro lado, existe certa prevenção, por parte de setores mais ideologizados, contra aquele primeiro grupo de moradores, justamente, por causa da afinidade com Fernando Marcondes. A ideologia deforma o pensamento. Enquanto isso, o Rio Vermelho continua pedindo socorro.

Solução

O Costão do Santinho significa 750 mil metros quadrados de mata atlântica preservada, paredões rochosos e dunas quase intocadas dentro de uma Reserva Particular de Patrimônio Natural. As RPPN são propriedades privadas transformadas em áreas de conservação sem que os donos percam o direito de posse. Nessas áreas, o proprietário pode desenvolver apenas atividades compatíveis com a preservação do meio ambiente, como a exploração do turismo ecológico.