11 jul Animais silvestres terão centro de triagem
Começa a funcionar hoje o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), instalado nas dependências da Polícia de Proteção Ambiental, no Rio Vermelho, no mesmo espaço onde funcionou entre 2000 e 2004 o Centro de Recuperação e Triagem de Animais Silvestres
(Cetras). A diferença entre os dois é que a nova versão não vai privilegiar o tratamento para posterior soltura em ambientes naturais, nem serão admitidas visitas aos viveiros das aves e mamíferos.
“Às vezes a soltura pode ser prejudicial”, explicou o biólogo Hélio Bustamante, analista ambiental e coordenador substituto do Núcleo de Fauna e Recursos Pesqueiros do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Florianópolis. “Muitos desses animais perderam a habilidade de se alimentar na natureza durante o período de cativeiro”, explicou Bustamente. Além disso, os ambientes em que eles seriam ser soltos poderiam estar saturados, prejudicando os que já estão nessas áreas ou introduzidos. “Também existe o problema da contaminação pelo animal a ser solto, que pode afetar os existentes nos ambientes”, acrescentou.
Para a bióloga e analista ambiental do Ibama Edinéia Caldas Correia “as pessoas acham que os animais devem ser soltos. A opinião pública entende que eles precisam ser colocados de volta na natureza, mas nem sempre esse é o procedimento mais correto”. “Precisamos estudar cada caso e analisar se o animal deve ser devolvido a seus ambientes naturais ou não”, disse.
A reativação da unidade foi oficializada na semana passada com a assinatura de um termo de cooperação técnica entre o Ibama e a Polícia Ambiental. A área que vai receber os animais foi completamente reformada, tendo sido instalados quatro viveiros grandes e outros menores onde serão alojados os mamíferos e as aves, além de duas piscinas para os animais marinhos. O setor administrativo tem um escritório e cozinha. Há ainda uma área de isolamento visando a identificação de patologias.
Um biólogo e um veterinário do Ibama vão dar expediente integral no ambulatório montado no Cetas, no Rio Vermelho, atuando ao lado de uma equipe permanente da Polícia Ambiental integrada por soldados sob o comando de um sargento. “Com a presença desse biólogo e do veterinário, nosso trabalho ficará mais aprimorado em relação à experiência anterior que tivemos”, destacou o capitão Antônio de Mello Júnior, do setor de comunicação social da Polícia Ambiental.
Pássaros devem ser maioria dos “pacientes”
Ao contrário do que muitos pensam, a maioria dos animais a ser abrigados no Cetas não são os pingüins e lobo-marinhos que costumam chegar à costa catarinense nessa época do ano. “Na verdade, a presença desses animais é apenas sazonal e não representa a maioria dos que serão atendidos”, explicou o biólogo Hélio Bustamante. A maioria será de espécies silvestres resultado de apreensões, no caso pássaros criados em gaiolas, de animais feridos ou entregues espontâneas.
Ainda não se sabe com precisão as razões do aparecimento de tantos pingüins no litoral de Santa Catarina durante o inverno, mas existem teorias que tentam dar uma explicação. A teoria mais considerada fala em deslocamentos anuais dos pinqüins da Patagônia em direção à Africa, momento em que muitos se perdem e acabam sendo encontrados nas praias, mortos ou muito debilitados.
“Os que defendem essa teoria acham inclusive que eles não devem ser salvos, pois são descartes do processo de seleção natural”, explicou a bióloga Edinéia Caldas Correia. “A opinião pública, no entanto, acha que eles devem ser salvos e recolocados de volta na natureza”, acrescentou, embora as experiências indiquem ser perda de tempo. “De todos os pingüins que foram salvos e depois soltos em Florianópolis, devidamente anelados, só dois foram localizados em praias do Rio Grande do Sul e nenhum na Patagônia.”
Isso indica que eles devem ter morrido pelo caminho, “apesar de terem sido reabilitados antes da soltura”, disse Edinéia. Segundo cálculos da Polícia Ambiental, o litoral catarinense é visitado por cerca de 250 pingüins todos os anos, com base em dados levantados durante o período de funcionamento do antigo Cetras, hoje Cetas.
Ibama promete mais rigor contra infratores
A falta de um local adequado inibe o setor de fiscalização do Ibama, que muitas vezes prefere deixar os animais nos cativeiros onde estão. A partir de agora o procedimento será diferente: quem for encontrado criando espécies silvestres em gaiolas e viveiros, terá os animais apreendidos e poderá responder a inquérito policial. “O Cetas será importante para o setor de fauna do Ibama”, salientou o biólogo Bustamante.
Ao fazer essa declaração, o funcionário do Ibama tem em mente as apreensões de animais silvestres traficados internacional, que perde apenas para os vendedores ilegais de armas e drogas em termos de mobilização de recursos. “Esses três tipos de comércio ilegal caminham mais ou menos juntos, ou seja, o sujeito que trafica armas ou drogas pode também estar comercializando animais ilegalmente”, salientou. Essa atividade é acompanhada pela Delegacia de Meio Ambiente do Departamento de Polícia Federal.
A reabertura do Cetas decorre das necessidades do próprio Ibama, às pressões do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), e os recursos destinados pela Assembléia Legislativa de Santa Catarina e o Parque Beto Carreiro, que destinou cerca de R$ 50 mil para a iniciativa. O apoio da ONG R-3 Animal também foi decisiva na reativação da unidade em Rio Vermelho, no Norte da Ilha de Santa Catarina. (CM)
Criadores credenciados cuidarão dos animais
Os animais que forem recebidos no Cetas e não puderem ser colocados de volta em seus ambientais naturais serão entregues a criadores ou a jardins zoológicos registrados no Ibama, como o existente em Balneário Camboriú. Em Santa Catarina existem cerca de 10 mil criadores de pássaros licenciados pelo Instituto, além de 47 registros de criadores comerciais e outros 32 de conservacionistas, também operando com autorização do órgão responsável.
“A existência do Cetas será muito importante para o Ibama e outros órgãos, pois passaremos a contar com um abrigo de animais silvestres apreendidos”, disse Bustamente. No espaço de tempo entre o fechamento do antigo Cetras (meados de 2004) e hoje, os animais apreendidos ou encontrados feridos eram tratados na sede do Ibama na avenida Mauro Ramos ou encaminhados a zoológicos e criadores autorizados.
(Celso Martins, A Notícia, 11/07/2006)