18 ago A cidade que queremos
Nas últimas decadas, Florianópolis mudou muito. Algumas mudanças vieram para mudar a vida das pessoas, outras nem tanto. Faz-se necessário planejar a ocupação adequada de espaços urbanos, conservando o meio-ambiente, protegendo a parte menos favorecida da população, oferecendo melhor qualidade de vida, serviços públicos eficientes, impedindo a favelização da cidade, propiciando oportunidades principalmente para os jovens se integrarem de forma regular na comunidade.
Todo processo de crescimento pode ser planejado, de acordo com o interesse da comunidade e com os olhos fixos no futuro. São mudanças pensadas e criteriosamente implementadas, como processos educativos e de inserção social, respaldados em atividades produtivas com grande capacidade de absorção de mão-de-obra; a ocupação organizada de espaços públicos; a vigilância permanente do meio ambiente e sua utilização de modo sustentável.
Assim como as pessoas, as cidades também têm sua vocação. Florianópolis nasceu para o turismo, mas está exercendo sua vocação de maneira amadorística e impensada. Florianópolis não tem mais escolha, a cidade é e sempre será um pólo turístico. Mas o que ainda podemos estabelecer é que tipo de turismo queremos: o improvisado ou o planejado. A cidade também tem outras vocações, que, igualmente, precisam e merecem ser valorizadas, com o comércio, os serviços e a área do conhecimento.
Por outro lado, a questão do mercado de trabalho para os jovens deve ser encarada até como uma medida preventiva de segurança. A mais cruel, a mais perigosa injustiça social é a exclusão via desemprego. Somente com regras claras do que pode ou não ser feito na cidade iremos atrair os investimentos que criarão as 5 mil vagas anuais necessárias para a absorção de nossa mão-de-obra.
Pensar o futuro da cidade é identificar a sua vocação e realiza-la de maneira responsável, com efetiva visão social. É aprovar para Florianópolis, imediatamente, um plano diretor com planejamento estratégico de curto, médio e longo prazos. É analisar a cidade em termos de um turismo ecologicamente correto, socialmente responsável e includente, que preveja desde albergues da juventude e equipamentos populares, de baixo custo, até marinas e atracadouros para transatlânticos. É estabelecer normas confiáveis para a execução desse planejamento recuperando, preservando e valorizando o meio ambiente e a cultura, conservando e ampliando a qualidade de vida da cidade.
Ainda podemos decidir em que tipos de roteiros turísticos queremos incluir Florianópolis — se apenas no mais popular, estritamente sazonal e de origem geográfica próxima, como até aqui vem ocorrendo, ou se concordaremos em abrir as portas também a um público de alto poder aquisitivo, não-sazonal e de origem mundial. Um público que justifique investimentos na estrutura receptiva da cidade, gerando benefícios para a comunidade: indiretamente, no recolhimento de tributos que viabilizam a administração pública, e diretamente, com a oferta de empregos e criação de oportunidades.
Florianópolis pode ser um pólo turístico sofisticado, sede de eventos culturais e esportivos internacionais. Pode ser a Cidade do Esporte, aproveitando seus recursos naturais e o talento de seus atletas. Além das competições aquáticas, a cidade tem todas as condições para abrigar outras modalidades, como os esportes de aventura. Cabe a cada cidadão de Florianópolis decidir se quer ou não uma cidade rica, plena de oportunidades para todos e de projeção mundial, ou se vamos continuar de costas para o desenvolvimento, degradando riquezas naturais e culturais, enfim nossa própria qualidade de vida.
O Movimento FloripAmanhã nasce com a idéia de contribuir, de modo planejado e permanente, na formulação de um pensamento e de uma ação para a Florianópolis de hoje e de sempre.
Afinal, que cidade queremos?
(Manifesto publicado no lançamento da Associação FloripAmanhã)