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Urbanização faz com que espécies entrem em extinção dos manguezais urbanos de Florianópolis

Retroescavadeiras e caçambas carregadas com entulhos da construção civil se destacam entre pequenas embarcações, redes de pesca, gaiolas, arapucas e outras armadilhas de caça. Objetos de ações administrativas ou processos judiciais, o material acumulado no pátio da sede da Estação Ecológica de Carijós, no acesso a Jurerê, é resultado de apreensões dentro e no entorno da unidade federal de conservação que protege a bacia hidrográfica de Ratones e áreas de preservação permanente do maior manguezal de Florianópolis.

Mesmo em desvantagem, oito servidores efetivos do ICMBio (Instituto Chico Mendes da Biodiversidade), dos quais quatro concursados para a função específica de fiscalização com porte de arma opcional, se esforçam para vigiar os 750 hectares de Carijós. Hoje, mais do que a pesca e o extrativismo ilegais, os maiores impactos ao ecossistema local têm origem na pressão imobiliária e no crescimento urbano desordenado.

Quadro que se repete nas demais áreas de mangue da cidade, bem mais desprotegidas, projeta o biólogo e analista ambiental do ICMbio em Carijós, Luís Otávio Frota da Rocha, 40. “Sem terem locais adequados e licenciados pela prefeitura para destinação correta dos entulhos, as empresas do setor fazem aterros pingados, em pontos diferentes, abrindo caminho para ocupação e construções”, diz.  Áreas de preservação permanente em Jurerê, Santo Antônio e Canasvieiras estão entre as mais visadas do entorno de Carijós.

Dentro da reserva, pescaria é a prática de maior impacto em Carijós.  No inverno, a safra da tainha acentua a pressão de pescadores artesanais das comunidades tradicionais do entorno, principalmente Ratones, Jurerê, Sambaqui, Barra do Sambaqui e Santo Antônio, e são frequentes as apreensões de redes, tarrafas e embarcações.

Neste período, é proibido pescar nos rios e junto à desembocadura do estuário, no limite de um quilômetro da costa e na linha imaginária entre a Barra do sambaqui e o Pontal da Daniela. Robalo, parati, corvina, bagres, pescadas e camarões [sete barbas, branco e rosa] são outras espécies de importância econômica que dependem de Carijós para serem pescadas nas baías norte e sul da cidade.

Fauna silvestre é vítima de atropelamentos 

O monitoramento de atropelamentos da fauna silvestre nas rodovias que atravessam a Estação Ecológica de Carijós começou informalmente em 2009 durante deslocamentos de rotina da equipe do ICMBio pelas SCs 400, 401 e 402, totalizando 117 animais mortos. A partir de novembro de 2014 o acompanhamento passou a ser feito de forma sistemática, de acordo com metodologia padronizada em duas amostragens por semana em trajetos previamente definidos, sempre ao amanhecer.

Em cinco meses, ou seja, até abril deste ano, foram coletados dados de 65 animais em 34 dias de amostragem sistemática. Em média, foi atropelado um animal a cada trecho de 10,2 quilômetros percorridos. Entre as carcaças coletadas pela equipe de Carijós, algumas são de espécies emblemáticas na região, como jacaré de papo amarelo e lontra, que saíram da condição de ameaçadas de extinção depois da criação da estação ecológica, em 1987.

Foram mortos oito jacarés e uma lontra. Desde 2009, morreram também sete graxains, incluindo uma fêmea prenhe, duas capivaras e cinco cuícas da cauda-grossa. A bióloga Edinéia Caldas Correia, 40, analista ambiental do ICMBio em Carijós,  explica que jacarés, lontras e graxains ocupam o topo na cadeia alimentar local, e que a conservação destes predadores é importante indicador da saúde do ecossistema.

“É preocupante o atropelamento de oito jacarés, duas lontras e sete graxains em quatro anos. As rodovias têm sido fator importante na redução da fauna local”, alerta. Curiosamente, desde os atropelamentos, mais nenhum graxaim foi visto na estação ecológica. A cuíca da cauda grossa, na lista de mamíferos em extinção em Santa Catarina, é outro caso emblemático para a bióloga. A presença da espécie em Carijós só foi registrada pelas cinco carcaças de recolhidas na SC-402.

Perseguido por catadores, caranguejo vira estrela da educação ambiental

Se no inverno é a tainha, no verão a espécie mais visada na área de Carijós é o caranguejo uçá, o catanhão, especiaria oferecida principalmente em restaurantes de Joinville, São Francisco do Sul, Itapoá e litoral paranaense. Lá, a captura excessiva entre novembro e janeiro nos manguezais ao redor da baía da Babitonga praticamente dizimou a espécie, com migração de catadores aos manguezais de Palhoça e Florianópolis.

“São verdadeiras quadrilhas organizadas, grupos que se preparam para acampar até uma semana no meio do mangue para  retirarem grandes quantidades”, confirma o analista ambiental do ICMBio Luís Otávio. Em dezembro de 2014, por exemplo, acampamento clandestino foi descoberto na gleba Ratones de Carijós, com apreensão de barracas, alimentação e pelo menos uma centena de caranguejos retirados com as das tocas escondidas na lama.

Ameaçado no mangue, fora dele o caranguejo uçá é estrela de projeto de educação ambiental conduzido em parceria com a ONG Guardiões do Mar e recursos da Petrobrás Ambiental. As atividades voltadas aos alunos das escolas da Grande Florianópolis incluem a formação de professores da rede municipal e visitas monitoradas. Já foram recebidos em Carijós716 estudantes dos ensinos fundamental, médio e superior.

Lontras e jacarés também recebem atenção especial, no caso deles graças a uma das condicionantes para licenciamento do Sapiens Parque. O empreendimento no Norte da Ilha custeará projetos de conservação das espécies, com levantamento de exemplares adultos e juvenis, condições de habitat e áreas específicas de cada uma delas.

 

MANGUEZAIS da Ilha

Estação Ecológica de Carijós

Criação: Decreto federal 94.656/1987

Área total: 750 hectares

Gleba Ratones: 87%

Gleba saco Grande: 13%

Gestão: ICMBio

 

Parque Municipal do Manguezal do Itacorubi

Criação: Decreto municipal 1.529/2002

Área: 150 hectares

Gestão: Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente)

 

Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé

Criação: Decreto federal 533/1992

Área de mangue: 759 hectares

Área marinha: 953 hectares

Gestão:  ICMbio/Associação de  Extrativistas Caminhos do Berbigão

 

ESPÉCIES AMEAÇADAS

Lista da fauna em extinção

 

Aves de mangue

Saracura matraca (Rallus longirostris)

Figurinha do mangue (Conirostrum bicolor)

Aves de restinga

Tié sangue (Ramphocelus bresilius) – vive também em outras formações florestais da mata atlântica

Gavião pega macaco (Spizaetus tyrannus) – vive também em outros ambientes da mata atlântica, no cerrado, na caatinga e Amazônia

Saíra sapucaia (Tangara peruviana)

Ave marinha

Trinta réis real  (Thalasseus maximus) – espécie migratória que utiliza eventualmente os ambientes de Carijós.

Mamíferos

Cuíca-da-cauda-grossa (Lutreolina crassicaudata) – marsupial semiaquático comum em manguezais. Registro confirmado em Carijós pelas carcaças de exemplares atropelados na SC-402

Peixes

Borriquete ou miraguaia (Pogonias cromis)

Bagre branco (Genidens barbus)

Caranha (Lutjanus cyanopterus)

Mero (Epinephelus itajara)

Garoupa (Mycteroperca marginata)

Invertebrados aquáticos

Cavalo-marinho (Hippocampus reidi)

Poliqueta (Diopatra cuprea)

( Notícias do Dia Online,26/07/2015)

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