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Tendências globais e cases de SC: veja como foi o maior evento de Cidades Inteligentes do país

Por Thaís Nahas*

A primeira edição da Smart City Expo Curitiba, edição brasileira do meio evento de cidades inteligentes do mundo, o Smart City Expo World Congress de Barcelona, superou todas as expectativas. Durante dois dias o evento, que foi organizado pelo iCities e FIRA Barcelona Internacional, atraiu 5.577 profissionais e especialistas, 50 representantes de cidades brasileiras, 25 representantes de cidades do exterior, 84 palestrantes e moderadores em 25 sessões plenárias e paralelas, além de 100 patrocinadores, apoiadores e media partners.

Sob o tema “a inovação como motor do desenvolvimento econômico”, o evento consolidou-se como o principal ponto de encontro para o compartilhamento de experiências e práticas entre as cidades e territórios do mundo, além de tendências tecnológicas que objetivam melhorar a eficiência dos serviços públicos e a qualidade de vida das pessoas. Na exposição, diversas empresas mostraram seus últimos lançamentos para um público altamente qualificado e interessado. Startups também tiveram o seus espaço, uma arena exclusiva para apresentarem suas inovações em formato de pitches.

Com a plenária completamente cheia, o congresso foi aberto com a palestra do arquiteto e engenheiro italiano Carlo Ratti, referência mundial na discussão sobre cidades inteligentes. Ele dirige o Senseable City Lab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), grupo que pesquisa as principais tendências tecnológicas capazes de transformar a vida nas cidades. Ratti é atualmente o presidente do Conselho de Agenda Global do Fórum Econômico Mundial sobre Cidades Futuras e responsável pelo conceito de “Cidades Sensíveis”, que oferece ênfase para o lado humano das cidades mesmo em meio à transformação tecnológica, tema que norteou sua palestra.

Os congressistas puderam assistir diversos painéis com diferentes especialistas – pesquisadores, empreendedores, servidores municipais, ativistas sociais, consultores e CEOs – os quais compartilharam seus conhecimentos e experiências em temas como: Inteligência Artificial, Realidade Virtual, Internet das Coisas, Realidade Aumentada, Mobilidade Conectada, Participação Cidadã, Comunidades Inteligentes, Economia Colaborativa, Governo Aberto, Economia Circular, Gestão de resíduos, Energia Sustentável, Mobilidade Sustentável, Mudanças Climáticas e Resiliência.

Atento ao futuro sustentável para as cidades, André Trigueiro, jornalista pós-graduado em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ e editor-chefe do programa Cidades e Soluções da Globo News, apresentou alguns dados alarmantes das cidades brasileiras e chamou a atenção de que o maior problema ambiental no Brasil não é o desmatamento da Amazônia, e sim a falta de saneamento das cidades. Segundo os dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), divulgados em janeiro de 2017 e referentes a 2015, mais de 100 milhões de pessoas não têm esgoto tratado. O jornalista, que conhece bem a realidade brasileira, não poupou sinceras críticas aos responsáveis pelo cenário desolador atual e cobrou soluções, aproveitando que na plenária havia diversos políticos e diretores de concessionárias de saneamento.

Tecnologia para melhorar os serviços urbanos e a vida nas cidades

Segundo o Waze Satisfaction Index, divulgado em novembro de 2017, Florianópolis foi classificada como a pior cidade do país para dirigir. O indicador é composto com base em dados informados por condutores no aplicativo Waze, a partir da notificação de buracos e reclamações quanto ao tráfego, por exemplo. Já em São Paulo, segundo dados da Pesquisa Sobre Mobilidade Urbana os moradores passam, a cada ano, o equivalente a um mês e meio no trânsito. Em duas décadas, o tempo médio do deslocamento casa-trabalho na capital paulista cresceu 30%. Durante o painel sobre disrupções tecnológicas, Ana Wakesberg, diretora de Pesquisa e Políticas Públicas da startup “unicórnio” brasileira 99, apresentou o Índice 99 de Tempo de Viagem (ITV 99), que monitora o fluxo de carros em 15 grandes cidades do país.

O índice, elaborado a partir de dados relativos às corridas de carro realizadas através do aplicativo 99, tem por objetivo medir a média de atraso dos deslocamentos cotidianos, ou seja, o tempo médio perdido pelas pessoas com o tráfego ruim das cidades. Planejadores de transporte podem usar esses dados, por exemplo, para desenhar soluções para gargalos na circulação de veículos nas cidades. No mesmo painel, Emilio Hoffmann, co-fundador da H3 Dynamics, apresentou a plataforma de visualização e análise de dados coletados por drones que monitoram, por exemplo, infraestruturas críticas e remotas, emergências policiais, fronteiras, além de gerar mapas em 3D. Os dados pré-analisados são rapidamente entregues aos usuários finais para melhorar a tomada de decisões dentro das organizações.

Cabe aos gestores municipais serem transparentes, ouvirem os cidadãos, se especializarem e adotarem as melhores soluções, o que no Brasil é uma quebra de paradigma na política atual.

Governos em uma sociedade digital

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada em novembro de 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2016 a internet estava presente em 63,6% dos lares brasileiros, sendo que, em 94,8% deles havia celulares sendo usados para se conectar à rede. Na Argentina, o uso da Internet (fixas e móveis) atinge 66% da população, e 86% deste público prefere acessar a internet por meio de dispositivos móveis. De olho nesses dados e com o objetivo de melhorar o atendimento ao cidadão, Agustín Suárez, diretor geral de Gestão Digital da cidade de Buenos Aires, apresentou durante o painel “Governando Cidades em uma Sociedade Digital” as diferentes plataformas de atendimento e acesso à informação disponíveis aos moradores e visitantes de Buenos Aires. São tantas que dá até um certa inveja dos hermanos!

Cidades catarinenses foram destaque no evento

Segundo o Índice de Cidades Empreendedoras, ranking divulgado em novembro de 2017 pela ONG Endeavor, Florianópolis ficou na segunda colocação pelo terceiro ano consecutivo (atrás de São Paulo). O índice, que é formado por sete indicadores (ambiente regulatório, infraestrutura, acesso a capital, mercado, inovação, capital humano e cultura empreendedora), mostrou que Florianópolis se mantém em primeiro lugar no quesito capital humano. O índice apontou também os principais entraves para os empreendedores locais, relacionados ao ambiente regulatório, como emissão de alvarás e tempo de abertura de empresas.

De olho nesses dados, o Superintendente de Ciência, Tecnologia e Informação da Prefeitura Municipal de Florianópolis, Marcus Rocha, apresentou no painel “Modernização dos Serviços Públicos” as principais ações da atual gestão que objetivam melhorar o ambiente de negócios e incentivar o empreendedorismo inovador na cidade. Destacou a assinatura do decreto que regulamenta o Fundo Municipal de Inovação, o Programa de Incentivo à Inovação, a Rede de Promoção da Inovação e como esses mecanismos devem atrair mais empreendedores e fortalecer ainda mais o pólo tecnológico da cidade.

Apresentou também o Laboratório de Inovação Urbana, um projeto inovador em parceria com a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e a Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (ACIF). O projeto, que está em fase de implantação e visa a integração do governo com empresas privadas, academia e sociedade civil, pretende transformar a cidade em um laboratório a céu aberto para empresas e centros de pesquisa da região desenvolverem tecnologias para as cidades, validarem novas tecnologias em ambiente real. Além disso, quer aproximar a cultura de inovação aos cidadãos de Florianópolis, preparando-os para os desafios econômicos e de sustentabilidade.

Joinville é a maior cidade do estado de Santa Catarina e, segundo  dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foi a cidade brasileira que mais criou empregos em 2017. A cidade está passando por uma transformação econômica nos últimos anos e a atual gestão tem dado espaço para aqueles que querem colaborar e criar um ambiente mais inovador no município. No painel “Implantação dos Conceitos de Smart City” o Secretário de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável, Danilo Conti, apresentou as principais ações em parceria com stakeholders da cidade, envolvendo lideranças de todas as hélices – governo, academia, empresas privadas e sociedade civil.

Destacou o projeto Join.Valle, que será implantado no Ágora Tech Park, dentro do Condomínio Empresarial Perini, e propõe o desenvolvimento de uma nova economia por meio do incentivo de setores estratégicos como Internet Industrial, Life Science, TIC, Novos Materiais, Mobilidade e iniciativas de Cidades Inteligentes e Humanas. O Secretário também apresentou um estudo de caso em que a prefeitura, em parceria com a academia e empresas privadas, utilizou os mais recentes avanços tecnológicos para a solução de problemas urbanos. Por meio de uma parceria com o aplicativo Waze, a prefeitura teve acesso à dados do tráfego de veículos e, com o uso de ferramentas de estatística, encontrou o ponto mais crítico da cidade, na rua Ottokar Doerffel, próximo ao cruzamento com a Otto Parucker. Com o uso da ferramenta SUMO (Simulation of Urban Mobility) diferentes cenários foram simulados e, após cinco tentativas, encontrou-se a melhor solução. O resultado demonstrou que as pessoas diminuem, em média, nove minutos de deslocamento diário e o município também terá ganhos financeiros de aproximadamente R$1,09 milhão ao ano.

Um evento para refletir

A inclusão do cidadão na gestão sugerindo mudanças e melhorias o coloca como importante aliado da administração municipal, enquanto a cocriação de produtos e soluções para as cidades gera oportunidades, estimula a economia local e diminui a desigualdade social. Cabe aos gestores municipais serem transparentes, ouvirem os cidadãos, se especializarem e adotarem as melhores soluções, o que no Brasil, é uma quebra de paradigma na política atual.

O modelo de gestão municipal precisa se adaptar a era das redes sociais, do acesso à informação e se reinventar. Precisa acompanhar a evolução tecnológica e saber fazer o bom uso dela. Precisa buscar novas formas de financiar projetos, sendo que esse tema gerou um grande debate com muitas ideias. O que se conclui é que as prefeituras precisam ser inovadoras, assim como os empresários e cidadãos que pagam os impostos buscam diariamente ser. Devem prover infraestrutura que melhorem a conexão entre as pessoas, que as dêem uma vida digna para que elas possam criar, se desenvolver e melhorar a sua qualidade de vida.

* Thaís Nahas é consultora do Programa Cidades Inteligentes da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e escreve mensalmente sobre Cidades Inteligentes para o SC Inova

(Fonte: SC Inova)

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