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As dimensões de uma cidade inteligente

O termo “cidade inteligente” surgiu na década de 90 para designar novas políticas de planejamento urbano que emergiram com o avanço tecnológico, sendo posteriormente adotado por empresas de base tecnológica para promover serviços e produtos com foco na gestão da infraestrutura urbana. Uma cidade inteligente é um ecossistema urbano inovador caracterizado pela utilização generalizada de tecnologias da informação e comunicação, as TICs, na gestão de seus recursos e estrutura, como vimos nesse post. Trata-se de um espaço urbano que utiliza a tecnologia para melhorar a eficiência econômica e política e amparar o desenvolvimento humano e social, aumentando a qualidade de vida de seus cidadãos.

Entretanto, sendo a cidade um sistema complexo e que se transforma constantemente a partir da interação entre forças top-downbottom-up, é essencial definir parâmetros e indicadores com base nesse conceito, os quais possam ajudar a avaliar as perspectivas para desenvolvimento urbano inteligente de cada local. Nesse âmbito, o trabalho de Giffinger et al (2007) apresenta-se como a maior e mais difundida contribuição acadêmica, sendo seu resultado a base para o Ranking European Smart Cities. Por meio de um trabalho colaborativo entre a Universidade de Vienna, a Universidade de Ljubljana e a Universidade de Delft, os autores desenvolveram uma metodologia de avaliação das cidades em seis principais dimensões: economia, capital humano, governança, mobilidade, meio ambiente e estilo de vida. As dimensões são avaliadas como características de uma cidade inteligente e, para isso, são utilizados 31 fatores e 74 indicadores. Abaixo os fatores avaliados em cada dimensão:

Quadro – Dimensões e características de uma cidade inteligente.
Dimensão Características
Economia inteligente (competitividade) Espírito inovador;
Empreendedorismo;
Imagem econômica e marca;
Produtividade;
Mercado de trabalho flexível;
Inserção internacional;
Habilidade de transformar.
Pessoas inteligentes
(capital humano e social)
Nível de qualificação;
Afinidade com life long learning;
Diversidade étnica e social;
Flexibilidade;
Criatividade;
Espírito cosmopolita e “mente aberta”;
Participação na vida pública.
Governança inteligente
(participação)
Participação na tomada de decisões;
Serviços públicos e sociais;
Transparência;
Estratégias e perspectivas políticas.
Mobilidade inteligente
(transporte e TIC)
Acessibilidade local;
Acessibilidade (inter) nacional;
Infraestrutura de TICs disponível;
Sistemas de transporte seguros, sustentáveis e
inovadores.
Meio ambiente inteligente
(recursos naturais)
Atratividade dos recursos naturais;
Condições;
Poluição;
Proteção ao meio ambiente;
Gestão sustentável.
Estilo de vida inteligente
(qualidade de vida)
Serviços culturais;
Condições de saúde;
Segurança individual;
Qualidade habitacional;
Serviços de educação;
Atratividade turística;
Coesão social.
Fonte: traduzido e adaptado de Giffinger et al (2007).

Giffinger et al afirmam que cidades inteligentes são aquelas que melhor realizam a visão de futuro nestas seis dimensões, as quais são igualmente essenciais, mas demonstram implicitamente que possuem em comum a centralidade do cidadão no ecossistema urbano. Dentre elas, três são alicerçadas principalmente nos cidadãos e se traduzem como: participação pública (governança), capital humano (pessoas inteligentes) e estilo de vida (qualidade de vida).

Destaca-se que, apesar da gama de serviços e produtos tecnológicos para gestão da infraestrutura urbana, a tecnologia pode ser também uma facilitadora para conexão, capacitação e engajamento dos cidadãos, estimulando e apoiando atividades colaborativas que conduzam a inovação social e promovam interação entre comunidade e instituições públicas ou privadas para resolução de problemas e planejamento da comunidade. Um desafio para as novas cidades inteligentes é equilibrar a infraestrutura tecnológica do conceito tradicional com fatores mais soft como: engajamento social, participação cidadã e interação das pessoas em ambientes físicos e virtuais. Nesse sentido, há um potencial ainda pouco explorado de novos serviços e possibilidades de diálogo entre administração pública, mercado, academia e cidadãos.

Para Neirotti et al (2014), soluções baseadas em TICs são apenas um dos vários recursos para o planejamento urbano que têm como objetivo melhorar a sustentabilidade econômica, social e ambiental de uma cidade. De forma que, cidades melhor equipadas em tecnologia não são necessariamente cidades melhores. Os autores ainda reforçam que o investimento em TICs não é suficiente para, sozinho, tornar cidades mais inteligentes e, por isso, investimentos em capital humano e mudanças nas condições de vida urbana são também necessários nesse processo. Assim, classificam as políticas de de desenvolvimento urbano com vistas a tornar uma cidade inteligente (usando as TICs) em hard ou soft, como abaixo:
Quadro -Classificação das políticas de desenvolvimento para uma cidade inteligente.
Classe Domínio Objetivos
Hard Redes de energia Criação de redes automatizadas que utilizam as TICs para fornecer energia e permitir intercâmbio de informações sobre o consumo entre os prestadores e usuários, reduzindo custos e aumentando a fiabilidade e transparência dos sistemas de fornecimento de energia.
Iluminação e
recursos naturais
Gerir a iluminação pública e os recursos naturais, além de explorar recursos renováveis.
Gestão de resíduos Inovar na gestão eficaz dos resíduos gerado por pessoas, empresas e serviços da cidade, incluindo coleta, eliminação, reciclagem e recuperação.
Meio ambiente Utilizar a tecnologia para proteger e gerenciar melhor os recursos ambientais e a infraestrutura conexa, promovendo a sustentabilidade.
Transporte,
mobilidade e
logística
Otimizar a logística e o transporte em áreas urbanas levando em conta as condições de tráfego e consumo de energia.Proporcionar aos usuários informações dinâmicas e multimodais para a eficiência do tráfego e dos transportes. Assegurar transporte público sustentável por meio de combustíveis amigos do meio ambiente e sistemas de propulsão inovadores.
Escritórios e
residências
Adotar tecnologias sustentáveis de construção para criar ambientes de vivência e trabalho com recursos reduzidos. Adaptar ou reformar estruturas existentes para ganhar eficiência em água e energia.
Saúde Utilizar TICs e assistência remota para prevenir e diagnosticar doenças e entregar o serviço de saúde. Fornecer a todos os cidadãos acesso a um sistema de saúde eficiente e caracterizado por instalações e serviços adequados.
Segurança pública Ajudar o poder público a proteger a integridade dos cidadãos e seus bens. Fornecer em tempo real informações para bombeiros e policiais.
Soft Educação e cultura Capitalizar a política de educação do sistema criando mais oportunidades para estudantes e professores através das ferramentas de TICs.
Promover eventos culturais e motivar a participação das pessoas. Gerenciar entretenimento, turismo e hospitalidade.
Inclusão e
bem-estar
Disponibilizar ferramentas que reduzam as barreiras na aprendizagem e participação social, melhorando a qualidade de vida, especialmente para mais velhos e deficientes. Implementar políticas sociais para atrair e reter pessoas talentosas.
Administração
pública e governo
eletrônico
Promover uma administração pública digitalizada, baseada em TICs e na transparência das atividades governamentais, melhorando a capacitação dos cidadãos e seu envolvimento na gestão pública.
Economia Facilitar a inovação, o empreendedorismo e a integração da cidade a mercados nacionais e globais.
Fonte: traduzido e adaptado de Neirotti et al (2014).

Com a classificação hard e soft é possível destacar inúmeros serviços e aspectos de cidade inteligente com pouca ou nenhuma utilização da tecnologia como facilitadora.  Ao mesmo tempo, defende-se que a eficiência em todas as dimensões depende da existência de pessoas engajadas nos processos de inovação da vida pública em geral. A cidade inteligente distingui-se das demais tipologias pelo seu sucesso no domínio da inovação e esta depende essencialmente de um processo colaborativo que evolui em ambientes que estimulam a descoberta e a geração de ideias.

Ações desenvolvidas em diversas partes do mundo demonstram que a busca pela implantação do conceito de cidades inteligentes tem gerado melhor qualidade de vida e eficiência em diversos aspectos das áreas urbanas, mas o protagonismo dado à tecnologia deixou em segundo plano a participação daqueles que são os verdadeiros protagonistas urbanos, os cidadãos. Dessa forma, é cada vez mais essencial fazer emergir por meio de ações e iniciativas conjuntas as necessidades e interesses dos cidadãos, para que a construção do futuro seja dirigida pela visão ideal da própria comunidade. Mais do que pensar no futuro, os cidadãos podem criar ou participar ativamente das soluções para questões críticas que se apresentam na atualidade.

*Esse post foi baseado na seção Smart Cities em: DEPINÉ, Ágatha. Fatores de atração e retenção da classe criativa: o potencial de Florianópolis como cidade humana inteligente. 2016. 121 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia e Gestão do Conhecimento) – Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

Ágatha Depiné

Advogada dissidente e apaixonada pelo conhecimento. Dedica-se a pesquisar o direito à cidade, a participação cidadã, o conhecimento político e sua relação com o desenvolvimento urbano inteligente. Cidadã engajada em movimentos sociais para transformação urbana. Doutoranda e Mestra em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela UFSC. agathadepine@gmail.com
(VIAUFSC, 28/02/2018)
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