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Precisamos humanizar as tecnologias para as cidades

por Thais Nahas*

Nos últimos meses tive a oportunidade de participar de eventos e reuniões com diferentes grupos de profissionais das mais diversas áreas – arquitetos urbanistas, gestores públicos, empresários do setor de tecnologia, engenheiros sanitaristas, especialistas em sustentabilidade, professores universitários de diferentes departamentos, empreendedores sociais, entre outros. Nessas oportunidades, sempre há conflito de opiniões em debates sobre cidades inteligentes. Não é um consenso que o uso da tecnologia é um fator crucial para o alcance dos objetivos dos projetos, cada especialista entende que sua área de atuação é prioritária, e muitos praticamente eliminam o uso de tecnologia em suas iniciativas. Isso sempre me faz pensar que, de alguma forma, a importância do uso da tecnologia nos projetos de cidades inteligentes não está clara.

A realidade é que, quando se discute sobre cidades inteligentes, ou Smart Cities, quase sempre o discurso, de certa forma comercial, é liderado com a tecnologia: dados abertos, redes elétricas inteligentes, modelos de infraestrutura flexíveis, veículos autônomos, plataformas escaláveis e assim por diante. Mas e as pessoas? Será que não é hora de adaptar os discursos dos provedores de tecnologias de modo a promover a compreensão pública dos benefícios que elas podem oferecer? Quando tenho a oportunidade de participar de alguma apresentação comercial de uma solução tecnológica, percebo que o discurso muitas vezes não é adaptado ao público-alvo ou pensado nos reais benefícios que a solução pode oferecer.

O cidadão comum precisa entender que tecnologia para cidades é muito mais do que carros autônomos. É uma forma de tornar os processos mais eficientes e inteligentes.

O que quero dizer é que falta uma visão humanizada da tecnologia. O cidadão comum precisa entender de fato o que é a tecnologia para as cidades – algo muito mais simples que carros autônomos. Ele precisa ter acesso e conhecimento do que já existe para não só desenvolver projetos como também para exigir de seus gestores municipais mais eficiência e serviços públicos de qualidade. Porque a tecnologia, afinal, atende os mais diferentes setores – planejamento urbano, gestão de resíduos, mobilidade, segurança, prevenção de desastres, acessibilidade, gestão da rede elétrica, entre tantas outras áreas – tem como objetivo tornar os processos mais eficientes e inteligentes.

Leia também: qual o ponto de partida para criar uma cidade inteligente?

Cito aqui alguns exemplos de soluções existentes e que impactam a vida das pessoas diretamente: um software de gestão que aumenta a eficiência no atendimento ao cidadão e reduz (ou elimina) o tempo nas filas de espera em órgãos públicos; iluminação pública de qualidade e videomonitoramento que podem ajudar a melhorar a segurança pública, permitindo que as pessoas possam caminhar durante a noite sem medo de serem assaltadas; rede de transporte público interconectada e inteligente que reduz o tempo gasto com o deslocamento, dando mais tempo para atividades importantes; um sistema de monitoramento em tempo real, e disponível para o público, da qualidade da água em nossas praias, que emita alertas evitando a contaminação e propagação de doenças.

Muitos gestores públicos acreditam que tecnologia é algo caro, inatingível. Mas o que falta é conhecimento e uma visão sistêmica e de longo prazo, ou seja, algo que vá além dos quatro anos de mandato. Em tempos de grave crise financeira em todas as esferas públicas, o uso da tecnologia para resolver os problemas urbanos de cidades cada vez mais populosas deve ser prioridade. Não conseguiremos resolver antigos desafios com as mesmas soluções.

Thais Nahas é consultora do Programa Cidades Inteligentes da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e escreve mensalmente sobre Cidades Inteligentes para o SC Inova

(SC Inova, 30/01/2018)

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