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Muito além dos Beach Clubs: Por uma solução ponderada

(Por  Vinicius De Luca Filho – Superintendente de Turismo de Florianópolis, Turismólogo, Doutor em Geografia -Desenvolvimento Regional e Urbano)

Em Florianópolis, até pouco tempo, a praia era tida como lugar de trabalho, com reflexos diretos nos tipos de construções: as mais antigas – que resistiram às mudanças do tempo – foram construídas de costas para o mar, valorizando a visão da rua; já as mais recentes têm a frente voltada ao mar, com um olhar inserido na prática social da região. As paisagens transformadas exercem um papel fundamental na indução do turismo, pois esses elementos culturais se tornaram atrativos turísticos e formam o que se pode chamar de paisagem turística. Os núcleos receptores de turistas possuem as mais variadas transformações socioespaciais: infraestruturas montadas em função da acessibilidade dos visitantes; estrutura de hospedagem, de alimentação, lazer e de serviços em geral.

Como ensinam Jose Messias Bastos e Mamigonian, Florianópolis inseriu-se no contexto do capitalismo industrial brasileiro e catarinense na segunda metade do século XX. Porém, a inserção da cidade nesse novo modelo econômico foi peculiar, tendo em vista que o desenvolvimento de Florianópolis não decorreu do processo de industrialização, ainda que o mesmo tenha sido pretendido em alguns momentos históricos, como o da implantação do primeiro Plano Diretor de Florianópolis, no início da década de 1950. Devido à incipiente presença do setor industrial em Florianópolis e a partir dos anseios de uma elite local interessada em atrair o “moderno” – já visto em outras cidades brasileiras – buscaram-se alternativas para alavancar o desenvolvimento da cidade, como o comércio, que teve por base a pequena produção mercantil. Em seguida, algumas ações contribuíram por tal mudança: a criação da CELESC, o asfaltamento da BR 101, implantação da UFSC e da ELETROSUL.

Com um salto de alguns anos, pode-se dizer que a atividade turística em Florianópolis é recente – se comparada a outras cidades da costa brasileira – pois, as primeiras manifestações de lazer, posteriormente associadas ao turismo, surgem pelo banho de mar, como uma atividade desportiva realizada próxima à área central e, depois, com as segundas residências de florianopolitanos, localizadas na parte interior balneária da Ilha. A partir dessas casas são criadas as primeiras estruturas turísticas, que dão início ao processo de urbanização dessas áreas, mais tarde sendo utilizadas pelo turismo.

Até início de 1970, em razão da distância do núcleo central e das deficiências do sistema viário, as áreas balneárias compostas por comunidades pesqueiras e rurais se mantinham sem grandes alterações, prevalecendo as casas de veraneio, cuja propriedade pertencia à elite florianopolitana. A cultura urbana do lazer e da busca por balneários, aliada à melhoria do acesso com a construção da SC 401, desencadeou o processo de crescimento urbano para a parte norte da ilha em função da intensificação dos fluxos turísticos.

Do início da atividade turística até hoje, passaram-se não mais que algumas décadas. Milhões de turistas nos visitam. Milhares de empregos e oportunidades são geradas. Milhões de reais são despejados anualmente pelos turistas em mais de cinquenta setores econômicos, gerando milhares de empregos.

Chegamos ao terceiro milênio. Não são somente os beach clubs de Jurerê Internacional que estão em jogo. O futuro dos empreendimentos de praia de Florianópolis está. Não se está a defender o capitalismo financeiro e suas faces perversas, recessivas e paralisantes – mas, sim, investimentos na produção, que geram dinamismo, emprego e oportunidades.

Não é nossa intenção defender especificamente as empresas em questão, mas – se mesmo com as autorizações legais pelos órgãos públicos, em todas as suas instâncias – está ocorrendo tal problema – imaginemos os próximos empreendedores – com tal insegurança jurídica, que leva a um clima de instabilidade, péssimo para a geração de oportunidades – do investidor, do trabalhador, do morador e do turista.

O grupo empreendedor – e as empresas parceiras – são detentoras de vários prêmios, com base nos serviços de qualidade que oferecem – desde diversos Prêmios Caio, a maior premiação do setor de eventos, também premiações no setor de turismo e no de entretenimento. O primeiro navio de cruzeiro que a cidade recebeu (e que hoje, mais de vinte anos depois, luta para voltar a tê-los) foi buscado pelo próprio grupo – que ainda foi o grande fomentador da transformação da Fundação Pró-Turismo de Florianópolis – PROTUR – em Convention Bureau, organização de grande credibilidade e que se tornou o principal agente articulador dos empreendimentos na captação de eventos, na profissionalização e na promoção do destino – desonerando a municipalidade e contribuindo para o posicionamento competitivo de Florianópolis em diversos segmentos.

No caso em questão, é inegável que o investimento em Jurerê Internacional como um todo tornou Florianópolis referência em turismo de qualidade. Mesmo com as autorizações, foi alvo de ações civis públicas. Uma delas gerou um PRAD – Plano de Recuperação de Áreas Degradadas – concluído em 2012, com diversos órgãos emitindo pareceres positivos, certificando que o PRAD atingiu seus objetivos e a área verde entre os beach clubs estava totalmente recuperada, levando à extinção da ação civil pública existente à época.

Só no assunto em questão são mais de mil empregos diretos e indiretos, movimentação econômica expressiva, parte dos turistas frequentadores com alto poder de consumo – que, com tributos, colaboram com a sociedade, a municipalidade, o Estado e a União. Mas não fiquemos nos mil empregos. Sem alarde, pode-se criar toda uma dificuldade para dezenas de milhares de empreendimentos localizados no litoral. As edificações em questão não estão na Linha de Preamar LPM/1831 (única juridicamente válida até hoje).

Os prejuízos – não só financeiros – causados por uma eventual demolição são incalculáveis. Que haja uma solução consensual, com um acordo – até então não gerado – entre as partes.

Que as forças do atraso entendam que o turismo de Florianópolis não pode retornar a tempos sombrios, em que era amador e meramente coadjuvante.

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