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Neste verão, 3 milhões de bitucas serão recolhidas

Em 15 dias, estarão instaladas as 276 bituqueiras no centro e praias de Florianópolis. Os presidentes da Comcap, Marius Bagnati, e da Eco Prática, Flávio Costa Leites, assinaram nesta quarta-feira (27), termo de convênio pelo período de três meses. O projeto é piloto e, se aprovado, deverá ser feito processo licitatório para garantir a continuidade do serviço de instalação e manutenção dos coletores de resíduos de cigarro. A estimativa é que nesse período uma tonelada de bitucas deixe de ser jogada na rua ou na orla.

Serão 195 bituqueiras em áreas comerciais e 86 nas praias Joaquina, Barra da Lagoa, Canasvieiras, Praia Mole, Ingleses, Lagoa da Conceição, Jurerê Internacional e Praia do Forte.

A experiência já ocorre em Porto Alegre (RS) e Garopaba (SC), mas em Florianópolis já foi implantada em escala aumentada. De acordo com Flávio Leites, até o final da temporada, serão recolhidas pelo menos três milhões de bitucas, praticamente um caminhão cheio, resíduo que será coprocessado para servir a geração de energia. Os dois processos serão feitos em Santa Catarina.

De acordo com o presidente da Comcap, o Floripa sem bituca permite ganhos ambientais, de saneamento e urbanísticos, sem contar que alivia o trabalho dos auxiliares operacionais da Comcap. “Se o fumante dispuser a bituca no lugar adequado, estará poupando esforço dos nossos empregados e melhorando a cidade”, disse Marius Bagnati.

OPINIÕES

“Sou manezinho da Ilha e estou felicíssimo com essa novidade. Sou fumante e fico aborrecido com as xepas porque vão parar no mar, engasgando quantidade de tartarugas. Estou numa alegria imensa por ter isso aqui, ó: Floripa sem bituca. Eu agradeço à Comcap. Eu colova a bituca no bolso, ó, fica tudo sujo. Eu levei uma multa de 100 euros lá em Paris, em frente à Sacré-Cœur, porque joguei bituca no chão. Estou arrepiado com isso, é um presente para Floripa. Eu faço trabalho de reciclagem em penitenciárias. Que tudo isso e ainda a bituca vai ser reaproveitada!”

Sérgio Silveira, nascido aqui e biólogo formado na UFSC

“É muito difícil de varrer as bitucas, ainda mais nas pedras, no paralelepípedo. Cansa, dói o braço e, às vezes, a bituca não sai do chão. É a maior dificuldade da varrição, tem de ficar raspando. As pessoas jogam no chão. Às vezes estou varrendo, olho pra trás e jogaram no chão de volta. Nunca colocam na papeleira. Eu já tinha ideia de fazer aquelas caixinhas de areia, colocar em cada canto, então essa é muito melhor. Vai melhorar bastante o serviço agora.”

Minéia Aparecida da Silva, auxiliar operacional (margarida) da Comcap

“Muito boa a ideia, por isso me encantou. Lá não temos nada parecido, me parece uma ideia muito original para não ter de tirar “la colilla” da praia, da rua. Florianópolis me encantou, é uma cidade muito linda e muito limpa. A ideia é muito boa deveríamos levar para todos os outros países também.”

Elda Dorigato, turista, mora em Salta, na Argentina

“Trabalho com eventos. Tenho um no meio de abril, para 300 pessoas, e estou vendo alguns tipos de lixeiras. Quando passei e vi essa ideia, achei muito interessante. Eu não fumo, então não pensava nessa hipótese de poder descartar a bituca num lugar adequado, específico para isso e que ainda vai reciclar. Então vim conversar sobre a possibilidade de alugar alguns equipamentos.”

Rafael Kandric, dono de empresa de eventos

“As bitucas são um baita de um problema para nós que trabalhamos aqui no Centro. Às vezes, a lixeira pega até fogo, temos de apagar. A pessoa acha que apagou totalmente o cigarro, mas deixa uma faísca, em contato com um guardanapo ou um copo descartável dá uma chama grande. Quero ver como funciona, parece ser um sistema muito bom.”

Zilmar Matos Fernandes, auxiliar operacional da Comcap

ENTREVISTA

Flávio Costa Leites vai começar a cursar Engenharia Ambiental este ano, mas sua empresa Eco Prática já tem um portfólio de inovações. Seu foco é dar destino ao que ninguém mais quer. Resíduos até então sem qualquer valor comercial como bitucas, fraldas e absorventes. Ele falou sobre o projeto Floripa sem bituca e seus planos de investimento em Santa Catarina.

Em quanto tempo as 276 bituqueiras do projeto piloto estarão instaladas?

No máximo em 15 dias estará tudo instalado.

Além das bituqueiras públicas serão instaladas outras?

A minha empresa, a Eco Prática vai fazer contato com parceiros comerciais, como restaurantes, bares, condomínios que queiram aderir ao projeto como é em Porto Alegre. Lá temos as públicas, como essas que estamos instalando nos pontos recomendados pela Comcap, e as particulares em bares e restaurantes. São em torno de 100 bituqueiras e agora estamos ampliando, serão colocadas mais 300 em fevereiro.

O coprocessamento das bitucas é feito onde?

O resíduo de Porto Alegre é feito em nova Santa Rita. Aqui em Santa Catarina vai ser em Joinville ou Chapecó. Nós processamos a bituca no Estado, não mandamos pra fora. Tem duas empresas aqui em Santa Catarina que podem fazer isso e vamos ver para qual ficará mais fácil a logística de enviar. O equipamento – as bituqueiras – também é todo feito aqui em Santa Catarina, em São José. É ferro com tampa inox.

A queima da bituca coprocessada ocorre aonde?

Aqui em Santa Catarina também, na indústria cimenteira. Para não haver deslocamento. Não faz sentido pegar a bituca e emitir CO2 para transportar.

Qual volume que você espera atingir com as bituqueiras que serão instaladas em Florianópolis?

Se conseguirmos instalar todas, inclusive a das praias, nessa temporada serão de 3 a 4 milhões de bitucas. São cerca de duas toneladas, enchem um caminhão, porque é um material leve, volumoso.

A tua empresa é de Porto Alegre e está investindo em SC?

Isso, com gente, equipamento e toda a logística. Temos ideia de ser referência no Brasil sobre destino ambiental correto de bituca de cigarro.

É a única empresa que faz desse jeito, com coleta?

É a única que faz da forma verdadeira. A outras empresas que reciclam bituca com água. Se a bituca é tóxica, tem todo esse grande problema, como vão limpá-la na água? E o que fazem com essa água? Vão limpar a água depois? Não é ambiental nem economicamente viável. São duas coisas que sou muito enfático: sou contra o uso de dinheiro público nesse projeto e contra a palavra reciclagem de bituca.

O poder público em nenhum momento coloca dinheiro nesse projeto e a Eco Prática ainda assume a coleta?

Sim, porque a obrigação sobre a bituca do cigarro é do fabricante, da Souza Cruz, Philip Morris, é de quem vende cigarro e de quem fuma. Esses devem ser os responsáveis pelo pagamento dos custos, não deve a prefeitura tirar dinheiro de outro setor para juntar bituca de cigarro da rua.

Como a Eco Prática chegou a esse negócio das bitucas?

Tinha empresa de segurança e resolveu investir no ramo de reciclagem. Começou reciclando material como PET. Vi que havia excesso de resíduo seco, mas todo mundo mexia com isso, então quis trabalhar com o diferente. Minha empresa só trabalha com materiais que ninguém quer. Damos destino ao que não tem valor comercial. Começamos com bituca, agora vamos para fraldas descartáveis e absorventes higiênicos para transformá-los em madeira plástica e caixas longa vida que vamos transformar em telha.

A bituca é o resto do resto…

Sim, é o resto do resto. E quando falamos desse tipo de resto, como bituca ou fralda, nada tem valor comercial. Isso é ônus para o município. Em Porto Alegre, a gente enterra uma escola por mês em fralda e absorvente. E quem seria responsável por isso? O grande fabricante de fraldas. Pela lei da logística reversa, ele é o responsável, então vamos fazer e cobrar do grande responsável que é o fabricante.

Reciclar lixo sanitário é uma ideia ainda mais ousada. É possível? Com tecnologia brasileira?

É possível, com tecnologia que vamos trazer da Inglaterra. Na realidade, vamos copiar, eles têm um processo que é muito caro e conseguimos achar maneira de limpar o material e deixá-lo pronto para virar madeira plástica.

Esses novos processos serão instalados em SC?

Sim, a ideia é fazer uma parceria com Santa Catarina, na região em que encontrarmos apoiadores. A caixa tetrapak é ideia é transformar em telha, mas não para venda. Hoje já tem um monte de fabricante de telha com caixas longa vida, é um processo muito simples, só que todo mundo vende e nós queremos achar parceiros para fazer ação social. Para trocar o telhado dessas famílias que na primeira chuvarada perdem a cobertura e são obrigadas a usar lona preta.

Como, na sua opinião, estão evoluindo os acordos setoriais da logística reversa?

Os acordos setoriais viraram um grande negócio. Hoje já existe uma bolsa de valores sobre os créditos da logística reversa no Rio de Janeiro. Virou um grande negócio. A grande fabricante vai lá e compra da bolsa um crédito gerado em outro lugar. E estão atrasados, desde 2012.

(PMF, 27/01/2016)

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