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Noventa anos depois, Hercílio Luz é lembrado por obras e herança política que deixou no Estado

O nome de Hercílio Luz está em todos os cantos de Florianópolis, batizou um estádio em Itajaí e um time de futebol em Tubarão, sem falar em outras referências – escolas, praças, ruas e avenidas – espalhadas por Santa Catarina. No entanto, se engana quem pensa que isso é resultado apenas das obras grandiosas que deixou ou do fato de ter cumprido três mandatos (o último deles interrompido cinco meses antes da morte, em 20 de outubro de 1924) como governador do Estado. Sim, porque Hercílio Luz, engenheiro com visão de futuro, foi também um homem público hábil e de forte personalidade que influenciou a política catarinense do século 20, deixando herdeiros não propriamente na família, mas numa das principais oligarquias que reinaram nas décadas seguintes, a partir de 1926.

Noventa anos após haver cruzado a ponte pênsil em miniatura que foi construída para que ele inaugurasse, simbolicamente, a travessia que leva o seu nome, duas semanas antes de morrer, Hercílio Luz continua balizando a política de Santa Catarina. O historiador Carlos Humberto Corrêa (1941-2010) falava em “hercilismo” para designar a linha dos que seguiram os rastros de Hercílio e que interferiram nos rumos da política estadual. Foi ele quem preparou as bases para o surgimento da oligarquia dos Konder, desdobrada depois em Konder-Bornhausen, que dividiu com outra oligarquia, a dos Ramos, o poder no Estado durante muitos anos.

Se foi “a maior expressão do republicanismo” em Santa Catarina, como diz Corrêa, Hercílio também norteou a política nos anos e décadas seguintes à sua morte, até e após a Revolução de 1930, quando terminou a chamada República Velha (1889-1930), e que desaguou no multipartidarismo posterior ao Estado Novo (1937-45). “Em 1945, com a redemocratização, os Ramos ajudaram a criar o PSD (Partido Social Democrático) no Estado e os Konder foram para a UDN (União Democrática Nacional)”, explica o advogado e desembargador aposentado Carlos Alberto Silveira Lenzi, autor do livro “Partidos e políticos de Santa Catarina”.

Famílias Konder e Ramos em trincheiras diferentes

Da linhagem de Adolpho Konder (irmão de Marcos Konder, deputado estadual e prefeito de Itajaí, e de Victor Konder, deputado estadual e ministro da Viação e Obras Públicas no governo Washington Luís), que trabalhou com Hercílio Luz e governou o Estado entre 1926 e 1929, resultaram personagens como Irineu, Jorge e Paulo Konder Bornhausen, cujo filho Paulo Roberto acabou de concorrer ao Senado pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro), além de Antônio Carlos Konder Reis. Já o “velho” Vidal Ramos, adversário de Hercílio e Adolpho Konder, governou entre 1910 e 1914 e foi o patriarca de uma oligarquia lageana da República Velha que revelaria nomes como Aristiliano Ramos, Nereu Ramos, Aderbal Ramos da Silva e Celso Ramos. “Até hoje, em municípios como Lages, Curitibanos, Campos Novos e Caçador, ainda se fala em UDN e PSD nas discussões políticas”, conta Carlos Alberto Silveira Lenzi.

“As oligarquias eram comuns na República Velha, de Norte e Sul do país, representando grupos familiares e econômicos que elegiam prefeitos, deputados federais e estaduais, senadores e governadores, comandando o processo político”, diz Lenzi. Em Santa Catarina, a principal ruptura foi entre Aristiliano Ramos, que era interventor no Estado após a Revolução de 30, e seu primo Nereu, que promoveu uma eleição na Assembleia Legislativa e assumiu como novo interventor, num dos mais clássicos episódios de traição política na história do Estado. Com isso, Aristiliano se bandeou para o lado de Hercílio e foi um dos fundadores da UDN, enquanto Nereu – presidente da República entre novembro de 1955 e janeiro de 1956 – permaneceu fiel ao governo de Getúlio Vargas até 1945 e aliou-se ao PSD. Antes disso, nos anos 30, os Ramos fundaram o Partido Liberal e os “hercilistas” se aliaram ao Partido Republicano.

O primeiro governador da era republicana

Carlos Alberto Silveira Lenzi busca as origens do cenário político da primeira metade do século 20 no que ocorreu após a implantação da República. Com o combate aos federalistas em 1894, Hercílio Luz ganhou a simpatia do presidente Floriano Peixoto e, junto com outros vitoriosos do Partido Republicano Catarinense como Lauro Müller, Gustavo Richard, Raulino Horn, Esteves Júnior e Felipe Schmidt, se revezou em diferentes mandatos à frente dos destinos de Santa Catarina.

Em 1898, Hercílio foi eleito o vereador mais votado em Florianópolis (com 629 votos), e depois deputado e senador (em 1900, 1905 e 1915). Eleito primeiro governador republicano de Santa Catarina, após o massacre dos federalistas na ilha de Anhatomirim, foi ele quem sancionou a lei nº 111, que mudou o nome de Desterro para Florianópolis, em 1º de outubro de 1894.

Um período de grandes transformações

Quando Hercílio Pedro Luz nasceu, em 1860, a cidade do Desterro tinha perto de 20 mil habitantes, um quinto da população estadual, que era de 96 mil pessoas – 16 mil das quais na condição de escravos negros. Ao assumir o primeiro mandato, em 1894, Florianópolis não tinha luz elétrica, não sabia o que era saneamento básico e via tropas de bois atravessarem a nado o estreito entre o Continente e a Ilha. Santa Catarina era um território pouco integrado, ainda sem a parte do Planalto Norte, anexada só em 1916, e com poucas estradas trafegáveis. Três décadas depois, o Oeste já estava mais povoado, a questão dos limites com o Paraná havia sido solucionada e a indústria colhia os frutos da expansão comercial que se deu após o fim da 1ª Guerra Mundial.

Além da ponte pênsil que integrou de fato a Capital ao Estado, Hercílio Luz planejou o sistema viário de Santa Catarina, como engenheiro de obras públicas e chefe da Comissão de Terras que tinha sede em Blumenau. No Vale e no Norte, ele também estimulou o povoamento do território por meio da Companhia Hanseática de Colonização, uma bem-sucedida experiência baseada no assentamento de imigrantes de origem europeia.

Hercílio melhorou os portos, incentivou a agricultura e a pecuária, instalou linhas de telégrafo e reformou o sistema de ensino. Interligou por rodovias Blumenau e o vale do Itapocu e as regiões de Florianópolis e Tijucas, e implantou 98 quilômetros de estrada carroçável da Ilha até a comunidade de Taquaras, em Rancho Queimado, onde construiu sua casa de campo.

Mesmo quando esteve fora do Estado, como senador, fez questão de demonstrar seu orgulho por Santa Catarina. Na homenagem póstuma, disse Adolpho Konder, deputado e herdeiro político: “Sentia verdadeiramente orgulho de haver nascido naquele trecho abençoado da terra brasileira onde tudo é bom, tudo é formoso, desde a bondade do solo prodigiosamente rico até a bondade de um povo simples e acolhedor”.

A ponte que ajudou a integrar o Estado

Como sede administrativa do Estado, Florianópolis acabou sendo a cidade mais beneficiada pelas obras e ações do governador. A ponte que leva seu nome era uma necessidade cada vez mais palpável, porque o isolamento não combinava com uma capital de Estado e o crescimento da Ilha e do Continente criava problemas para o comércio na região. Era preciso facilitar o transporte da produção de São José, Palhoça e do próprio Estreito para a cidade que crescia no lado insular.

Usavam-se lanchas motorizadas, canoas a vela, botes ou baleeiras para a travessia de pessoas, mas o gado vinha a nado em direção ao forte Santana para ser abatido em diferentes pontos fora do Centro. As feiras livres eram abastecidas por produtos originários de Biguaçu, Antônio Carlos, Ganchos e das vilas do Ribeirão, Saco dos Limões e Santo Antônio de Lisboa, que chegavam sempre pelo mar. Em dias de vento forte, o risco de acidentes era sempre iminente.

Foi quando Hercílio Luz buscou recursos junto a bancos norte-americanos para erguer uma ponte de ferro na Capital. O contrato foi assinado em 27 de setembro de 1920, mas houve atrasos nos repasses dos recursos e a obra só ficou pronta em 1926, sob a responsabilidade dos engenheiros norte-americanos David B. Steinman e Holton D. Robinson. Ele não viveu para inaugurá-la, papel que coube a Antônio Vicente Bulcão Vianna. Hercílio morreu de câncer em 20 de outubro de 1924, após realizar um tratamento na França que não deu resultados.

Hercílio também ajudou a modernizar a Capital na área do saneamento, com a canalização do ribeirão da Bulha, destino dos dejetos das casas da região e onde as lavadeiras exerciam livremente sua profissão. O leito foi reformulado e canalizado, no meio de uma avenida de duas pistas que se transformou na primeira via planejada da cidade.

CURIOSIDADES

– Hercílio Luz foi batizado em 20 de julho de 1860 pelo ilustre Arcipreste Paiva, também político e escritor, que um ano e meio depois batizaria o futuro poeta João da Cruz e Sousa

– Hercílio teve 19 filhos, em dois casamentos, e Hercília Catharina da Luz foi a última da prole a morrer, em 11 de setembro de 2011

– A praça Etelvina Luz, localizada na avenida Mauro Ramos, na Capital, é uma homenagem à primeira mulher de Hercílio Luz, Etelvina Cesarina Ferreira. Viúvo, ele se casou com Corália, irmã mais nova de Etelvina

– Um dos tios políticos de Hercílio foi João Pinto da Luz, nome de rua em Florianópolis (João Pinto, antiga rua Augusta)

– Um de seus filhos, Aldo Firmino da Luz, dedicou-se ao esporte das regatas e é nome, hoje, de um clube de remo em Florianópolis

– Hercílio construiu muitas estradas no Estado, mas costumava visitar os municípios mais próximos montado a cavalo

(Notícias do Dia , 19/10/2014)

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