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O novo sistema de transporte coletivo terá poucas novidades em Florianópolis

Rosângela perde mais de duas horas por dia dentro de um ônibus em Florianópolis. Vivaldo mora em Capoeiras e, aos 81 anos, precisa ir à Ilha para visitar amigos em outros bairros do Continente. Marli e Madalena reclamam da falta de veículos em horários de pico e da pouca frequência de algumas linhas. Ismael começa e termina o dia em pé num ônibus, e pede integração no transporte entre a Capital e cidades vizinhas. Em comum entre eles, a expectativa de que o transporte coletivo de Florianópolis dê um salto de qualidade a partir de 1 de novembro, quando o Consórcio Fênix assumirá pelos próximos 20 anos a operação do novo sistema na Capital.

Os problemas citados, entretanto, não devem ser solucionados tão cedo. O Consórcio Fênix, composto pelas empresas Transol, Estrela, Emflotur, Insular e Canasvieiras, e a Prefeitura de Florianópolis, concedente do serviço, admitem que o sistema de transporte coletivo da Capital não passará por mudanças bruscas nesses primeiros meses de operação. “A transição será sem traumas”, pontua Anderson Nazário, advogado que representa o consórcio.

As ferramentas que o consórcio e a prefeitura consideram “fundamentais” para que o serviço seja eficiente, o CCO (Centro de Controle Operacional) e o SAO (Serviço de Apoio à Operação), ambos em fase de projeto, não têm data para entrar em operação. Sem eles, que têm até 30 de outubro de 2015 para serem implantados, o sistema segue praticamente idêntico ao atual. “É preciso muito cuidado, pois o SAO será a inteligência do sistema, não podemos errar, sob o risco de prejudicar os 20 anos do contrato”, avalia Vinícius Cofferri, diretor de planejamentos da Secretaria de Mobilidade Urbana da Capital.

A rigor, a principal novidade a partir de 1 de novembro estará na aparência: os ônibus serão padronizados de forma gradual até outubro de 2015, todos pintados em azul e branco, e os motoristas e cobradores usarão o mesmo uniforme. Além disso, 13,7% da frota foram renovados – 71 veículos novos e 99 reformados.

Nazário reconhece que o número ainda é insuficiente diante da frota futura de 517 veículos. “Mas faremos a renovação por etapas, gradualmente”, diz.

A redução na tarifa (de R$ 2,70 para R$ 2,58 no cartão, e de R$ 2,90 para R$ 2,75 no dinheiro) e o cartão-social, previstos no edital de licitação, foram implantados após a assinatura do contrato, no dia 30 de abril. “No dia 1 de novembro, todos [funcionários] estarão com os uniformes do Consórcio Fênix, e a partir daí não tem mais essa ou aquela empresa… será tudo Fênix”, afirma Gildo Formento, diretor da Estrela, empresa líder do Consórcio Fênix.

A formação do consórcio Fênix

Cada empresa que compõe o Consórcio Fênix tem uma parcela no controle do grupo. A Transol detêm 36,03%, a Canasvieiras conta com 29,32%, Insular tem 20,69%, a parcela da Estrela é de 8,63% e a Emflotur fica com 5,30% do bolo. No mês que antecede a entrada em operação do consórcio Fênix, os representantes das cinco empresas envolvidas na operação reúnem-se todas as terças-feiras no escritório do advogado Anderson Nazário para tomar decisões e delinear estratégias acerca do início da operação. “Os sócios das empresas farão parte do conselho de administração do Fênix, que contará também com um grupo gestor, a parte técnica que fará as indicações de decisões para o conselho decidir. Além disso, teremos os funcionários, que só de motoristas e cobradores serão mais de mil”, diz.

Projetos ainda no papel

Duas siglas representam a aposta do Consórcio Fênix, composto pelas mesmas empresas que operam o sistema há mais de 30 anos, e do município, para transformar o transporte coletivo de Florianópolis. O CCO (Centro de Controle Operacional) será o espaço “físico” onde funcionará o SAO (Serviço de Apoio à Operação), a parte “pensante” do sistema, que precisa ser calcada em tecnologia para tentar otimizar e programar as linhas. O CCO será construído em um terreno de 3.000 m², na rua Cândido Ramos, em Capoeiras.

O edital de licitação do transporte público previa 60 dias, desde a assinatura do contrato em 30 de abril, para que o consórcio apresentasse o projeto do CCO e o detalhamento do projeto do SAO. A entrega foi dentro do prazo. Em seguida, a prefeitura pediu algumas readequações ao projeto original.

E aí começam as contradições entre Fênix e prefeitura. Enquanto o advogado Anderson Nazário garante que não houve solicitação formal do município para fazer alterações no projeto apresentado, o diretor de planejamento da Secretaria de Mobilidade Urbana, Vinicius Cofferri, afirma que o pedido de mudança no projeto do CCO já foi formalizado.

“Os projetos foram entregues ao município no prazo estabelecido no edital e ainda não houve solicitações formais de alteração”, diz Nazário. Já Cofferri, apresenta outra versão. “Solicitamos as adequações que se referem à parte de construção do centro. O consórcio já está providenciando as adequações”, destaca.

Após a aprovação dos projetos, o prazo máximo para construção do CCO é de 270 dias e para a entrada em operação do SAO, 360 dias. O custo de implantação passa de R$ 30 milhões, informa Cofferri. O valor do contrato celebrado entre as partes é superior a R$ 122 milhões.

Em relação à tecnologia adotada pelo SAO, Nazário explica que dois modelos de tecnologia estão sendo estudados. “Estamos negociando com duas empresas de padrão internacional, uma norte-americana e outra suíça. Os sistemas deles estão instalados nas maiores cidades do mundo, e agora só faltam ajustes comerciais”, garante.

Especialista critica consórcio

A eficiência das siglas é contestada pelo engenheiro elétrico Werner Kraus Júnior, professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Sua argumentação é baseada no fato de que o consórcio é composto pelas mesmas empresas dos últimos anos, com “cotas de participação que reproduzem rigidamente a parte das receitas de cada uma delas no ano de 2013”.

Para Kraus, especialista no desenvolvimento de métodos de automação e controle aplicados à gerência de tráfego e à mobilidade urbana, a diferença do Consórcio Fênix para o Setuf (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano da Grande Florianópolis) é o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica). “O resto é tudo igual, nada mudará no transporte coletivo. Pelo contrário, o dito sistema da integração vem afugentando usuários há anos e não mudará”, alerta.

Ele afirma que um dos pontos que poderia mudar efetivamente o transporte coletivo passa pela criação da Região Metropolitana, onde poderia enfim ser feita a operação integrada entre as cidades. Além disso, reforça Kraus, os três principais fatores para escolha do transporte coletivo são: custo baixo, rapidez e previsibilidade (exatidão nos horários ao longo de todo o itinerário). “Só um sistema integrado e que transite por corredores exclusivos é capaz de cumprir os requisitos de rapidez e previsibilidade”, observa.

Integração intermunicipal

Um dos principais gargalos do sistema de transporte coletivo de Florianópolis é a falta de integração entre Capital e demais cidades da região metropolitana. No curto prazo, esse problema não tem data para sair do papel. O Deter (Departamento de Estradas e Terminais de Santa Catarina), que administra o sistema de transporte coletivo nos municípios vizinhos à Capital, planeja abrir um edital de licitação para integrar o transporte nas cidades apenas em 2016.

Até lá, afirma o procurador jurídico do Deter, Fúlvio Rosar Neto, o órgão estadual fará estudos prévios para o momento de deflagrar a licitação. “Sabemos da necessidade de se integrar o sistema, mas precisamos aguardar a ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] passar as regras da futura concorrência”, explica.

A frota

Para os mais de 200 mil passageiros que utilizam diariamente o transporte coletivo em Florianópolis, a entrada em operação do Consórcio Fênix poderá representar o fim das longas filas nos terminais de integração e a chance de fazer as viagens em veículos confortáveis e linhas interligando bairros e regiões. A possibilidade para que isso aconteça em breve, contudo, é pequena. “A operação do sistema levará um tempo para ser aperfeiçoada, não é tão simples”, adverte Gildo Formento, diretor da Estrela.

A frota do Consórcio Fênix é composta por 517 veículos, sendo 417 convencionais e 100 executivos. Para alcançar estes números, foram adquiridos 60 novos veículos convencionais (com climatizadores) e 11 executivos (com aparelhos de ar-condicionado). “Foram revisados, reformados e pintados 99 veículos convencionais, dando especial atenção a itens da parte mecânica e de segurança dos passageiros”, garante o advogado Anderson Nazário.

Mesmo com 60 novos ônibus que começarão a chegar às garagens no início de outubro, o restante da frota ainda é de mais de 300 veículos antigos. A média de idade total dos veículos deve ser de no máximo seis anos. No edital, o Fênix tem até 30 de outubro para recuperar e adequar 172 ônibus com as cores azul e branco. Pelos números apresentados pelo consórcio foram 170 até agora. “A partir de novembro os passageiros sentirão a melhora nos veículos”, diz Nazário.

Qual a sua expectativa para o início de operação do Consórcio Fênix?

“Que melhore, mas eu não acredito nisso. Os ônibus, além de sujos, estão sempre lotados e demoram muito para chegar aos pontos”.

Marli Perna, publicitária, 59 anos

“Só vai melhorar se tiver mais ônibus para dar conta das linhas mais movimentadas, que são as piores para os usuários”.

Madalena de Lima, aposentada, 59 anos

“Não vai melhorar nada. Eu moro em Antonio Carlos e trabalho em Florianópolis. Pago R$ 5,70 na passagem e venho todos os dias em pé, durante mais de uma hora”.

Rosângela Neves Garcia, vendedora, 40 anos

“Como vou acreditar num sistema que me obriga a ir até o Centro para conseguir pegar um ônibus para me levar entre dois bairros do Continente?”

Vivaldo Amauri Teodosio, aposentado, 81 anos

“Às vezes fico três horas dentro do ônibus, e geralmente sempre vou em pé. Não existe nenhuma integração entre os ônibus daqui (Florianópolis) com São José”.

Ismael Alberto, redator publicitário, 26 anos

TRANSPORTE COLETIVO

O que já mudou

Ampliação da integração entre ônibus. Em vez de 30 minutos, agora os usuários têm duas horas para fazer integração.

Redução da tarifa.

Tarifa social e passe livre para estudantes carentes.

Renovação parcial da frota. De veículos novos, a renovação foi de 13,7%.

O que falta mudar

A inteligência do sistema, a partir da construção do CCO e implantação do SAO. Ambos os projetos têm até 30 de outubro de 2015 para estarem prontos.

A efetiva integração com os bairros do Continente.

A central de informações que vai disponibilizar aos usuários informações pela internet, dispositivos móveis e painéis nos terminais de integração.

Fatias do consórcio

Transol – 36,03%

Canasvieiras – 29,32%

Insular – 20,69%

Estrela – 8,63%

Emflotur – 5,30%

Frota atual

Transol – 164 ônibus

Canasvieiras – 130 ônibus

Insular – 103 ônibus

Estrela – 50 ônibus

Emflotur – 29 ônibus

Total da frota atual: 476

A partir de 1 de novembro, a frota terá 517 ônibus

(Notícias do Dia Online, 27/09/2014)

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