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Praia muda de lugar no Norte da Ilha

As causas ninguém sabe ao certo. Não há estudos conclusivos para uma resposta científica, mas moradores mais velhos dizem que é cíclico, e que se repete a cada “maré dos sete anos”. Quem ainda sobrevive da pescaria artesanal ou depende do turismo, há três décadas observa um fenômeno que, nos últimos seis meses, trans-forma cada vez mais rapidamente a paisagem da orla entre Cachoeira do Bom Jesus e Ponta das Canas, Norte da Ilha.

O avanço do mar destruiu três faixas alternadas da praia entre a rua Fernando Viegas, em Ponta das Canas, e a foz do poluído rio Thomé, na Cachoeira. Assoreada, parte do manguezal secou, e desapareceu, formando ilhotas sem vida na beira da praia. Os impactos são semelhantes na lagoa da Doca, ou das Gaivotas para os mais jovens, onde o surgimento de croas soterra pesqueiros que alcançavam dois metros de profundidade.

A saúde não é a mesma, mas a aposentada Maurina Doralice Correia, 61, não esquece um dos passatempos prediletos da infância. “Nos dias de calor, eu e meus ir-mãos vínhamos para a la-goa, e voltávamos para casa com o balaio cheio de camarões”. A fartura ficou para trás, assim como a antiga passagem do pontal.

Maurina conta que Rubens, o marido já falecido, criou os seis filhos do casal com o que pescava praticamente nos fundos de casa.  Os rapazes cresceram, formaram as próprias famílias e, como os pais, dependem da pesca artesanal para sobreviver. “Mas não tem mais lagoa, eles só pescam no mar de fora,” diz.

Gradativo, o desaparecimento da praia e da lagoa afeta também a hotelaria. No hotel Costa Norte, na rua Fernando Viegas, o gerente de hospedagem, Juan Pistore, 30, reclama que a falta de faixa de areia interfere na rotina  e no fluxo de clientes. “Já tivemos prainha aqui nos fundos, mas agora precisamos construir deque e escadaria,” confirma. Outra opção é caminhar 400 metros até o centrinho de Ponta das Canas.

Como os hotéis, casas e restaurantes também ficaram sem acesso à praia. Para o coordenador de assuntos comunitários do Norte da Ilha da Acif (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis), Luiz Gonzaga de Souza Fonseca, a solução não é só a dragagem. Para amortecer a força das ondas e conter os efeitos das correntes marinhas na orla são necessárias obras complementares, e, segundo ele, três alternativas são analisadas tecnicamente – construção de molhes na boca da antiga barra da doca, enrocamento de pedras na área aterrada ou instalação submersa de geotubos.

Sem estudos, projeto de alargamento é arquivado Fundos de casa

Maurina criou seis filhos com pescaria da lagoa, hoje soterrada Em 2006, a Prefeitura de Florianópolis encomendou as primeiras pesquisas para alargamento das praias de Canasvieiras, Cachoeira do Bom Jesus e Ponta das Canas.

Reivindicado há 25 anos, o projeto está arquivado na diretoria de licenciamento da Fatma (Fundação Estadual do Meio Ambiente), ainda à espera de EIA-Rima (Estudos e Relatório de Impactos Ambientais). A recuperação da faixa de areia, segundo pescadores, comerciantes e moradores, é o que pode salvar a atividade turística na orla Norte da Ilha.

Os estudos chegaram a ser retomados neste ano por grupo de trabalho da seccional Norte da Associação Comercial e Industrial de
Florianópolis, mas foram suspensos no início do segundo semestre.  O coordenador de assuntos comunitários da Acif/Norte, Luiz Gonzaga de Souza Fonseca, garante que o alargamento continua na pauta de prioridades, mas precisa se readequar ao projeto Orla, do governo federal, em fase preliminar de discussões.

Gonzaga explica que antes de contratar consultoria especializada, o grupo técnico da Acif procura se informar sobre o desaparecimento de faixas de praia, por meio de literatura específica e conhecimento empírico dos moradores mais velhos. O alargamento deve ocorrer de forma integral, mas gradativa, no trecho entre Canasvieiras, Cachoeira do Bom Jesus e Ponta das Canas.  Tinha fartura de peixes, camarões e siris nesta lagoa.  Hoje, não sobrou mais nada, está tudo aterrado.  Não tem mais vida.

(ND, pág. 3, 17/10/2013)

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