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O futuro de Floripa: o que é preciso para ter uma cidade mais humana e inteligente

Artigo de Neri dos Santos, professor da UFSC, pós-doutor em Engenharia Cognitiva, membro do Laboratório de Cidades Humanas e Inteligentes e diretor da Knowtec (DC, 13/06/2013)
O surgimento da noção de “cidade inteligente” tem atraído considerável interesse de políticos, urbanistas e pesquisadores das áreas de gestão do conhecimento e do desenvolvimento urbano. A transformação de uma cidade como Florianópolis em cidade inteligente é vista por muitos autores no campo do desenvolvimento urbano como uma possível solução para os desafios da sustentabilidade de uma cidade moderna e uma receita para a prosperidade dos seus habitantes. De fato, o conceito de inteligente está em sua infância, e não há definições acordadas deste termo.
Há várias designações para este conceito que têm um mesmo objetivo “ser uma cidade com melhor qualidade de vida para a sua população”, tais como cidade do conhecimento, cidade sustentável, cidade digital, cidade inclusiva e cidade humana e inteligente.
Independentemente da designação utilizada, o que os pesquisadores tentam definir são indicadores que uma cidade deve alcançar para ser considerada mais humana e inteligente. Nesta perspectiva, uma pesquisa colaborativa realizada por pesquisadores do Centro Regional de Ciência da Universidade de Tecnologia de Viena (Áustria), do Departamento de Geografia da Universidade de Ljubljana (Eslovênia) e do “OTB Research Institute for Housing, Urban and Mobility Studies” da Universidade de Tecnologia de Delft (Holanda), definiu um ranking das cidades europeias de médio porte (de 200 mil a 500 mil habitantes), utilizando um modelo de análise baseado em seis dimensões: Governo Inteligente, Economia Inteligente, Meio-Ambiente Inteligente, Pessoas Inteligentes, Vida Inteligente e Mobilidade Inteligente. Para cada uma dessas dimensões, foram definidas 31 categorias e 71 subcategorias de análise. Neste ranking, Luxemburgo foi considerada a cidade de médio porte mais inteligente da Europa.
Utilizando-se este modelo de análise como referência, nós podemos constatar que Florianópolis tem avançado em alguns indicadores, mas ainda está longe de ser considerada uma cidade humana e inteligente. De fato, Florianópolis vem sofrendo, nos últimos anos, profundas transformações nas seis dimensões deste modelo de análise. Algumas, como é o caso da economia, pessoas e vida inteligentes.
As transformações vão na direção de torná-la uma cidade mais inteligente, tais como: o aumento significativo no nível de escolaridade de sua população – segundo o MEC, um dos mais elevados do País –, espírito empreendedor e inovador dos seus cidadãos, sendo hoje um dos mais importantes polos de empresas de tecnologia do Brasil, fruto das startups no Centro Tecnológico da UFSC ; as condições de vida de sua população, caracterizadas pelo aumento da expectativa de vida, redução da mortalidade infantil, disponibilidade de leitos hospitalares e de médicos per capita; da melhoria do sistema de saúde e do sistema educacional, além de sua reconhecida atração turística.
Todavia, em outras dimensões, como a mobilidade inteligente, as transformações têm ido na direção contrária de torná-la uma cidade mais inteligente, como é caso do aumento explosivo do número de automóveis, que já ultrapassou 300 mil, segundo dados do Detran, enquanto o sistema de transporte coletivo não tem evoluído na mesma proporção.
Apesar de alguns esforços desenvolvidos pela administração pública municipal para a melhoria da mobilidade urbana, de um modo geral, as vias públicas não têm acompanhado o crescimento da cidade. Possuem concepções de fluxo de trânsito incompatíveis com o volume de veículos. A utilização de transportes alternativos, como a bicicleta, transporte marítimo e outras modalidades mais sustentáveis, não têm sido efetivamente considerados no rol das soluções pela administração pública, de forma a dotar a cidade de uma mobilidade mais inteligente, caracterizada por um sistema de transporte coletivo de boa qualidade, sustentável, inovador e seguro.
Na verdade, a mobilidade em Florianópolis tem sido entendida como mobilidade dos veículos automotores e não das pessoas. Esta visão limita tecnicamente as opções para a melhoria da mobilidade na cidade e as construções de novas vias, pontes e elevados são as únicas alternativas encontradas para solucionar este problema, o que é um grande equívoco, pois em pouco tempo o problema do engarrafamento no trânsito volta a ser o mesmo.
Da mesma forma, na dimensão meio-ambiente inteligente, a cidade ainda deixa muito a desejar, particularmente no que diz respeito ao saneamento básico, que ainda não alcança 50% da sua população, e a reciclagem de lixo, que não passa dos 4% do total coletado na cidade.
Mas o que pode ser decisivo na transformação de Florianópolis em uma cidade mais humana e inteligente é a dimensão governo inteligente. Um governo inteligente é aquele que promove uma participação efetiva da população na tomada de decisão do destino da sua cidade; que aprova um plano diretor participativo e que garante a existência de um órgão de planejamento urbano com capacidade técnica e autonomia política para implementá-lo; que contempla o conceito do planejamento socioambiental, de maneira a orientar e direcionar o crescimento da cidade somente para onde for física e ambientalmente possível; que utiliza o planejamento como ferramenta de gestão; que dá continuidade nas políticas públicas bem sucedidas e que tem na transparência administrativa um valor permanente. Essas são as expectativas da maioria da população para tornar a cidade mais humana e inteligente. A mobilidade em Florianópolis tem sido entendida como mobilidade dos veículos e não das pessoas.Esta visão limita tecnicamente as opções para a melhoria da mobilidade. Construções de novas vias, pontes e elevados são as únicas alternativas encontradas, o que é um grande equívoco.

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