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15/04/2013
A hora de resolver o transporte coletivo
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Dez anos depois da “integração”, sistema do transporte coletivo da Capital está ultrapassado

Passados os ataques do PGC (Primeiro Grupo Catarinense), que criou um caos no transporte coletivo de Florianópolis, o sistema voltou ao “normal”: ônibus superlotados nos horários de pico, embarques demorados, falta de integração em algumas linhas e sem um centímetro de corredor exclusivo. A reportagem do Notícias do Dia entrou nos ônibus para ouvir a opinião dos usuários. O que mais se ouviu: péssimo, precário, terrível, horroroso.

Os dados mostram a defasagem do sistema, criado em 2003. Enquanto o número de usuários começou a cair depois de 2008, o de carros e motos cresceu mais de 50% na Capital. Desde 2010 espera-se uma nova licitação, cuja promessa da nova administração é lançar ainda este ano.

Na sexta-feira, a equipe do ND percorreu algumas linhas do sistema. A ideia era sair do Ticen (Terminal de Integração do Centro), passar pelo Titri (Terminal da Trindade), ir ao Tirio (Terminal do Rio Tavares) e voltar ao ponto de partida. No Ticen, o aposentado por invalidez João Batista, 48 anos, em sua cadeira de rodas, reclamava. Queria que os cobradores dos ônibus adaptados não chegassem em cima da hora para o embarque, para não ter correria. “Além disso, eu quase caí na hora em que estava entrando em um ônibus. Sorte que o motorista me agarrou”, disse.

Às 15h, o Beira-mar Norte, um ônibus articulado, estava quase vazio. Na altura da Justiça Federal subiu a autônoma Elenita Fátima, 54. No Titri ela não desceu do veículo. Por quê? “Estou indo para o Centro. Mas não tinha como atravessar a Beira-mar para pegar ônibus”, contou.

A ideia da nossa equipe era ir para o Tirio. “Agora tá ruim”, avisa o cobrador. “É melhor vocês voltarem ao Centro para ir até lá. É mais rápido”. Mudança de percurso. Decidimos ir até a UFSC para, depois, voltar ao Centro. Entramos o Saco Grande.

A auxiliar de enfermagem Mônica Midilelli, 44, pegou o mesmo ônibus. Tentava chegar a uma consulta no Córrego Grande. “É uma dificuldade chegar ao Córrego Grande. Ou eu chego muito cedo ou muito atrasada”, disparou.

Na universidade, mais um ônibus: o UFSC Semi-direto para o Centro. Ônibus novo, chamado de BRT (Bus Rapid Transit). O embarque durou quase três minutos. Se fosse um sistema BRT de verdade, os usuários teriam passado a catraca já no ponto.

O ônibus começou a andar até a polêmica Edu Vieira, no Pantanal. Outro problema: os ônibus, como em toda a cidade, não têm prioridade. O BRT, como o de Curitiba, teria que ter corredores exclusivos. O cobrador faz as contas: “Sem trânsito, em 20 minutos fazemos o trajeto. Mas teve dias que já demoramos 1h40”.

Duas horas e 30 minutos depois da saída do Ticen, a equipe do ND voltou ao terminal. Era horário de pico. E a situação começou a piorar.

Prefeitura promete um novo modelo

O coração do novo sistema de transporte coletivo serão as linhas circulares, conectadas e abastecidas por linhas alimentadoras. Em muitos trechos haverá corredores exclusivos para os ônibus. Essa é a síntese do que está sendo pensado no Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis).

Na lista de prioridades do Ipuf, o primeiro item é o Plano Diretor. O segundo, mobilidade urbana. “Há um consenso que os problemas de mobilidade urbana começam a ser solucionados com transporte público coletivo. O desafio é tirar do discurso e colocar na prática”, afirmou o superintendente do Ipuf, Dalmo Vieira Filho.

E o tempo corre. Na coletiva de imprensa dos cem dias de governo, o prefeito Cesar Souza Júnior (PSD) reafirmou a promessa de campanha. “Até o fim do ano sai a licitação do transporte coletivo. E de um novo modelo”, declarou. O objetivo é que seja mais eficiente e com passagem mais barata.

Segundo Dalmo, havia duas hipóteses para o transporte coletivo: manter o conceito atual e atualizá-lo ou buscar as soluções sintonizadas com o que acontece no mundo. Foi escolhida a segunda opção.

Hoje, as linhas têm ponto de chegada e partida, geralmente em grandes terminais. A ideia, agora, é que sejam linhas circulares, conectadas umas às outras. “É o mesmo conceito de metrô. Ninguém sabe o horário que o metrô sai. Basta chegar ao terminal que logo o metrô chega e sai”, explica Dalmo.

É como se a linha UFSC Semi-direto ficasse circulando o tempo inteiro e que fosse conectada a outra linha circular, que passasse pelas avenidas Mauro Ramos e Hercílio Luz. Os técnicos do Ipuf estão desenhando o sistema, que deve ser apresentado, provavelmente, em uma reunião pública, até o fim de semana. “Não é uma solução pronta. Queremos expor conceitos e diretrizes. A ideia é fazer uma reunião pública, pensando no transporte aliado ao planejamento urbano”, defendeu Dalmo.

Entre os desafios da nova administração está escolher o local onde serão as linhas exclusivas. “A ideia é ótima, concordamos com ela. Mas colocar aonde? Na Mauro Ramos, na Beira-mar? Não acredito que vá acontecer”, opinou Waldir Gomes, presidente do Setuf (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros da Grande Florianópolis).

(Notícias do Dia, 14/04/2013)

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