Um brado pela nossa identidade
01/11/2012
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Artigo escrito por Laudelino José Sardá – Jornalista e professor (31/10/2012)

Cidade não tem mais cara.

Caro prefeito César Júnior, não há solidão tão estridente quanto a que existe no coração de uma cidade sem alma. Florianópolis tem 430 mil almas assombradas com o excesso de problemas em apenas 672 km2, e tudo parece fantasia em dois cenários teatrais. No primeiro, holofotes ao pedantismo dos que vivem em festa e a simular um glamour só percebido por quem também sonha em morar num castelo; no segundo, com ou sem borrasca, o povo consumido pelo estresse da imobilidade, violência e sem entender a razão de sermos a maior referência turística. A Ilha vive em êxtase induzida pelas visitas relâmpagos de jogadores milionários, que se saciam em estonteantes noites festivas. E nós insensatos, no delírio dos confetes midiáticos, somos incapazes de mensurar e valorizar a fascinante beleza natural da nossa cidade e, entorpecidos, ainda desdenhamos o nosso legado cultural, a face da cidade faceira, onde a mídia prefere a violência, a imobilidade, ou a ostentação de quem, por exemplo, vende uma residência por R$ 6 milhões em Jurerê com direito à ovação em coluna social, ou de quem adquire um avião, quem sabe para ver de cima o quanto é lindo o seu apê na beira-mar.

Bem, prefeito César, como diz Carlos Damião, você precisa amar Florianópolis acima do fazer política. Lutamos há anos contra a cidade sem rosto, sem identidade. Poucos sabem que o Victor, aquele que pintou a primeira missa do Brasil, o Sousa, grande poeta simbolista, e tantos outros são desta Ilha, onde navegadores europeus, já a partir do século XVI, testemunharam a beleza e a cultura ímpares da região. A beleza está sendo destruída e a cultura vilipendiada. Falamos em magia da Ilha e escondemos o riquíssimo acervo de Franklin Cascaes. Temos fortalezas, museus, teatros, oficinas artesanais, artistas plásticos, poetas, ficcionistas, produção cinematográfica, universidades, musicalidade fantástica e ninguém sente essa riqueza incomensurável. É comum engarrafar-se no trânsito de Roma, Londres…, mas lá se enche o pulmão de cultura, a verdadeira natureza do homem, a energia da cidade.

Caro jovem alcaide, faça creches, imunize a ponta do coral contra a ganância imobiliária, invista na mobilidade, mas, antes de tudo, recupere o rosto da cidade, investindo nos valores culturais. Ah, por favor, mas não tire de novo dinheiro da cultura para equipar a polícia, tá? O Museu Histórico de Florianópolis, que você já anunciou, é importante, mas significa menos de 10% do oceano de legados culturais. Você sabia que a literatura catarinense nasceu em Canasvieiras, com o livro “Assembleia das Aves”, de Marcelino Dutra? Bem, a herança de navegadores, os pintores, a magia de Franklin, a poesia, a música e jornais, tudo isso merece museus também. Devolva a nossa cara!

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