Passando a borracha na história

Da coluna de Carlos Damião (ND, 05/10/2012)
Descaso com o patrimônio e com o centro histórico de Florianópolis de modo geral é uma forma de “implodir” a bela Desterro
Nosso ND trouxe nova reportagem, na edição de quinta-feira (4), sobre o abandono do Palácio Dias Velho, a antiga Casa de Câmara e Cadeia, que já deveria estar recuperada, para instalação do Museu da Cidade. Nada mais nos surpreende. Florianópolis está sendo demolida, apagada da nossa memória numa velocidade impressionante. Não há mais qualquer controle sobre o patrimônio histórico, casas térreas – cujo valor histórico deveria ser avaliado (conforme lei municipal) – vão ao chão de maneira fulminante, antes que algum vizinho, arquiteto, historiador ou cidadão comum possa esboçar qualquer reação. Pontos interessantes da região central, onde tudo começou, são dominados por moradores de rua e viciados em crack e álcool. Comerciantes e moradores reclamam. E a omissão do poder público é flagrante. Quanto a isso, ninguém faz nada. Quanto a demolir, está tudo dominado…
Cidade triste
A nova Florianópolis, que vai sendo desenhada em sentido vertical, quer esquecer rapidamente a velha Desterro. Não pode ser outro o motivo para que o nosso patrimônio venha sendo destruído gradativa e velozmente. “Põe essa velharia abaixo”, devem dizer alguns nos gabinetes refrigerados. Uma cidade sem memória é uma cidade triste, sem passado.
Omissão
Nenhum dos candidatos expôs, durante a campanha eleitoral que se encerra, qualquer disposição para defender o patrimônio histórico e – muito mais que isso – a memória de Florianópolis. Já fomos uma das cidades históricas mais importantes do país. E hoje marchamos para ser uma cidade apagada no tempo. E os “assassinos” da nossa memória seguem por aí, empunhando suas foices e marretas…
Abandono
“Fico triste quando abro o Noticias do Dia pela manhã e, novamente, e agora pior, a notícia sobre o Palácio Dias Velho literalmente tombando. Em tempos de eleição, nada ocorreu, sequer uma vigilância para que não acontecesse uma coisa dessas. Enquanto isso a promessa de tirar as subidas, só deixar as descidas… de elevadores panorâmicos… de teleféricos… e a nossa história… tombada, esquecida”. Da escritora Maura Soares, em e-mail à coluna.