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Cidades malcuidadas, cidades mal amadas

Artigo de Romeu Chap Chap (Secovi, 22/03/2012)
Quando andamos por São Paulo ficamos admirados ao encontrar um canteiro florido e limpo, uma praça sem lixo. Em algumas cidades do mundo, fatos como esses são absolutamente naturais. Espanto seria haver algo diferente do que calçadas arrumadas e gramas aparadas.
É cultural. Se a prefeitura não cuida, os cidadãos o fazem – diretamente ou pressionando o setor público. Não aceitam que se maltrate o meio em que vivem. Exigem retorno dos impostos que recolhem. As pessoas têm orgulho do lugar onde moram e se desdobram em cuidados.
A capital paulista, com seus mais de 11 milhões de habitantes, é maior que muitos países. A fim de garantir a melhor gestão possível, desde 2002 a administração é compartilhada por 31 subprefeituras, responsáveis por 31 pequenos “municípios” distribuídos pela cidade.
São minicidades, com características específicas e até sotaques diferentes, influência das levas de imigrantes que se instalaram em determinados distritos. Porém, o que lamentavelmente se vê em todas elas é a existência de problemas comuns: lixo, iluminação falha, passeios e ruas esburacadas.
Existe empenho do poder público em tentar consertar as coisas. Entretanto, é nos detalhes que as coisas mais afetam o cotidiano. Um exemplo disso são as placas de ruas. Não raro estão tortas ou tão sujas que é impossível ler alguma coisa nelas – principalmente quando se está dirigindo. E com ruas mudando de nome a torto e a direito, essas placas são decisivas. O mesmo ocorre nas que sinalizam o trânsito. Letras apagadas pela fuligem dos carros impedem aos motoristas identificar acessos. Quando notam, estão em cima do lance e, inevitável, provocam acidentes.
Um mutirão feito por todas as subprefeituras para corrigir isso representaria um serviço e tanto para a coletividade. Demonstraria mais uma vez o zelo com o bem público e serviria de inspiração à população.
Afinal, nós, cidadãos, também deixamos de fazer o que nos cabe em relação ao contexto urbano. Existem meios de denunciar problemas, medida simples, que pode ser feita on-line. Todavia, pergunte-se por aí quem já se valeu desse recurso e teremos raríssimos casos concretos. Ou seja, nos omitimos na tarefa de participar da zeladoria da cidade. Preferimos apenas reclamar do que não é feito. Não temos tempo para tomar uma atitude, mas este tempo nunca falta para acusar o poder público.
É claro que não se pode generalizar. Há exemplos de mobilização que permitiram mudar muitas coisas. Entretanto, são eventos esporádicos, que ganham canto de página em jornais de grande circulação. Caem rapidamente no esquecimento.
Houve época na Capital em que um grupo de cidadãos representativos de diversas camadas da sociedade paulistana regularmente se reunia com o prefeito e secretários convidados a participar conforme a demanda. Nesses encontros eram discutidas questões pequenas e cotidianas, que o poder público normalmente não alcançava, mas que incomodavam a coletividade. Era uma prática saudável, que achegava a administração pública da população e mostrava que, muitas vezes, a sociedade tem soluções simples para problemas simples.
Esse é um modelo possível a ser pensado. O que não podemos aceitar é a máxima de que São Paulo é um caso perdido. A sociedade civil organizada, as ONGs, as entidades de educação poderiam se unir para criar esse grupo de assessoria ou, então, montar um sistema para informar as pessoas sobre como é possível acionar o poder público, quais são os meios disponíveis, e incentivar atitudes.
Por seu lado, a administração municipal poderia investir mais em campanhas de divulgação, aproximando-se da população e, principalmente, respondendo prontamente às demandas. E isso se aplicaria a todas as cidades, independente de suas dimensões. Esse elo precisa existir, ser conhecido e utilizado por todos.
Pode-se dizer não é fácil fazer isso numa metrópole como a nossa. Mas se não tentarmos jamais saberemos. Hoje, tudo acontece em redes sociais. Talvez seja o momento de criar uma, em conjunto com o governo, para colocar a questão em debate.
Não sei dizer como isso aconteceria. Sou do tempo em que se escreviam cartas e o ir à agência do correio era acompanhado da expectativa de achar um selo bem bonito. Apesar disso, sei das tecnologias hoje disponíveis para mudar realidades, fazer “primaveras”.
O desafio maior é tocar fundo o coração dos paulistanos, despertá-los para o compromisso com a cidade, para a vontade de participar da solução. E essa é uma tarefa também dos governantes.
Cidades malcuidadas, cidades mal amadas, é inexorável. E o inverso também. Felizmente, sempre é possível mudar. Basta querer.
* Romeu Chap Chap é diretor do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, e presidente da Romeu Chap Chap Desenvolvimento e Consultoria Imobiliária

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