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Floripa do Futuro: Crescimento é sinal de sucesso, mas precisar ser organizado

Há muitos anos que falamos sobre os impactos negativos do crescimento de Florianópolis – o aumento da violência, a falta de mobilidade urbana, a disparada de preços dos imóveis, a ausência do saneamento básico, a ocupação desorganizada do solo, a falência da Saúde e vários outros aspectos pertinentes ao tema.

Mas é preciso fazer a pergunta: o que provoca tudo isso é o crescimento per se ou a falta de planejamento do crescimento?

Não vejo como o crescimento de uma cidade possa ser sinônimo de fracasso. Não deveria gerar conseqüências negativas, a não ser que o crescimento seja um processo desordenado, sem qualquer direção ou controle. Crescimento é sempre sinônimo de sucesso, em condições normais. Ocorre pelo incremento vegetativo de sua população nativa, mas também – e principalmente, no caso de Florianópolis – porque a cidade emite persistentes sinais de sucesso para moradores de outras cidades e regiões, atraindo um significativo contingente populacional em curto espaço de tempo. É o lado azedo do sucesso, se não estiver previsto no planejamento da cidade. Ao contrário, se bem planejado, pode ser fator de enorme progresso e sem perda da qualidade de vida. Veja Singapura…

Crescer é uma transição pela qual passaram várias outras cidades do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e quase todas as capitais do Brasil, algumas com mais sucesso do que outras. Aproveitaram melhor aquelas que souberam aproveitar o crescimento e controlar suas mazelas.

Entretanto, o crescimento sempre traz alguns benefícios, mesmo quando desorganizado. No caso de nossa cidade, é inegável que sua economia foi afetada de forma positiva pelo crescimento, já que há mais habitantes com bom poder aquisitivo fazendo negócios na cidade – comprando imóveis, trocando carros, indo aos restaurantes, usando serviços médicos, freqüentando shoppings, etc. – e aumentando a viabilidade econômica de muitos negócios ou serviços que não deram certo no passado. Nosso perfil econômico começou a mudar de forma significativa, a ponto do PIB per capita da cidade dobrar de valor em 10 anos (1999-2008, fonte IBGE), fazendo da cidade a segunda maior concentração urbana de classe A, atrás apenas de Niterói, no Rio de Janeiro . O próprio aumento do número de carros nas ruas da cidade é reflexo do crescimento econômico, assim como a oferta de apartamentos com uma vaga para cada quarto.

Certamente, este aumento de renda foi acompanhado por um significativo avanço na arrecadação tributária. E é aí que temos o nosso grande problema, o principal fator de desorganização do crescimento – a péssima gestão do dinheiro público. Será que as prioridades da cidade foram bem definidas, quando o crescimento acelerado ficou evidente por volta de 2001-2002? Será que os investimentos foram bem alocados no período? Qual a eficiência de cada “real público” investido no período? Qual o percentual da arrecadação tributária que de fato virou investimento eficiente, com impactos positivos em nossas vidas? São questões difíceis de responder sem muita pesquisa, mas fáceis de “sentir”: não, nossa vida não melhorou. Muito pelo contrário. Logo, a gestão foi ruim.

Não adianta procurarmos culpados. Caso queira procurar, comece pelo espelho do seu banheiro. Fomos nós que autorizamos a má gestão. É fácil dizer que foi o político irresponsável, o empresário predador, o habitante da favela. Só que eles são conseqüências da nossa negligência pós-eleitoral. É triste e desconfortável, amigos, mas é a verdade. Se queremos mudar nossa cidade, precisamos primeiro mudar nossa mentalidade. Pararmos de viver cada um no seu quadradinho e começarmos a pensar como melhorar o lugar onde vivemos. Passarmos a cobrar mais daqueles que fazem menos do que deviam. Precisamos nos apropriar do futuro de Florianópolis – não podemos deixá-lo nas mãos de governantes, porque, mesmo quando forem eficientes, são temporários. Um processo de mudança na forma de pensarmos e usarmos a cidade é complexo. Exige esforço, certamente alguma dedicação. Mas será altamente compensador. Pense nisso.

Por enquanto, ainda dá tempo. E eu espero que vocês acreditem nesta idéia tanto quanto eu. Como dizia o economista André Urani, bom amigo e grande pensador urbano que partiu cedo, no apagar de 2011: uma doença é uma oportunidade para mudarmos, pois cria um desconforto que pode ser aproveitado como fator motivacional. Florianópolis está doente e desconfortável – temos que mudá-la.

Ótimo 2012 para todos nós! E ótimo 2062 para Florianópolis – não esqueça, somos nós que estamos plantando, hoje…

Por Ricardo Valls, colunista do Portal

(DeOlhoNaIlha, 09/01/2012)

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