Os dois extremos numa rua de Florianópolis

Em servidão, parte dos moradores tem luz elétrica e coleta de lixo. A outra parte não

O desejo de Maria Glaci Salla, 65 anos, está dividido: se ela pedir chuva a São Pedro, vai ter água para beber. Mas, se a chuva chegar, ela sabe que a rua vai virar um rio e Maria ficará impedida de sair de casa.

O drama de depender do tempo para viver com dignidade aflige cerca de 30 famílias na Servidão Maria Rosa Martins, no alto da Serrinha, em Florianópolis. Eles também não têm luz elétrica e recolhimento de lixo. O problema é que, na outra parte da servidão, outras casas possuem todos esses benefícios.

— São 60 metros que distanciam quem tem e quem não tem. Isso é desprezo — desabafa Maria.

Imposto em dia não importa

O drama de viver sem água encanada e abandonados já dura mais de 20 anos. Com os carnês do IPTU pagos, Márcio Teixeira, 37, está descrente:

— Não entendo o motivo da divisão, mas vou continuar pagando os impostos, como forma de esperança — afirma.

O secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento, José Carlos Rauen, explica que existem ruas em que somente alguns trechos foram oficializados.

— Isso pode acontecer por estarem em área de preservação permanente, ou pela altitude e a quantidade de casas que surgem após a legalização. Vamos avaliar a ampliação da via e, assim, instalar os benefícios — disse.

Uma equipe da secretaria deve ir ao local nesta semana fazer um laudo.

Um muro, que parece a entrada de um condomínio fechado, separa a via pública. As casas de alvenaria e com janelas altas mostram que, na outra parte, ninguém fica sem água ou luz.

Relógios e medidores são vistos nos muros. Todos regulamentados. Um morador, que preferiu não se identificar, mora na servidão há cinco anos e sempre recebeu os benefícios.

— Eu nunca entendi o porquê deste muro separando a servidão. Aqui não é um condomínio, não pagamos taxa. Nunca soube que as casas do outro lado não têm água encanada — contou.

O que diz a Secretaria de Obras

O engenheiro Antônio Simões não sabia do problema da servidão. Ficou surpreso e solicitou contato dos moradores.

O que dizem a Casan e a Celesc

A ampliação das redes depende de autorização da prefeitura.

(Por Alessandra Toniazzo, Hora SC, 06/10/2010)