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O avanço do mar nas praias da Barra da Lagoa, no leste da Ilha de SC, e da Armação, ao sul, está tirando o sono de moradores das duas comunidades da Capital. A associação de fatores como uma sequência de tempestades desde abril, efeitos de marés e a ação do homem no meio ambiente contribuem para o agravamento de um fenômeno natural de movimentação das águas do mar. Como resultado, até o início da noite de ontem, a Defesa Civil Municipal já contabilizava oito casas interditadas na Armação e uma na Barra.

Nove casas já foram interditadas pela Defesa Civil na Praia da Armação e na Barra da Lagoa, em Florianópolis, por causa do avanço do mar. Ontem, moradores das duas comunidades estavam assustados com o desabamento de mais contruções. O prefeito Dário Berger deve anunciar hoje a liberação de verba federal para a recuperação da Armação

Nove moradores da Armação buscaram a ajuda da prefeitura na tarde de ontem. O prefeito Dário Berger, a procuradora da República Ana Lúcia Hartmann, representantes do Ibama e da Fatma participaram de uma reunião com a comunidade.

O acordo foi para que as obras emergenciais de contenção do avanço do mar comecem a partir de hoje, assim que os órgãos ambientais liberem as licenças. Serão colocadas pedras (enrocamento) nos pontos mais críticos da orla da praia.

Na semana passada, a prefeitura já havia decretado situação de emergência por causa dos efeitos da ressaca na Praia da Armação. O projeto com os reparos necessários para tentar solucionar o problema no Sul da Ilha deverá ser finalizado até sexta-feira. Além do enrocamento, uma obra que deve ser sugerida é a dragagem – retirada de areia do fundo do mar para formar novamente a faixa de areia. De acordo com Berger, o custo total do investimento deve ser pelo menos R$ 12 milhões. Hoje, às 10h, na comunidade da Armação, o prefeito e a senadora Ideli Salvatti (PT) anunciarão a liberação de recursos federais para as obras.

Outra solução proposta pela comunidade da Armação é o “engordamento” da praia. Em março, a Associação de Pescadores conseguiu mobilizar alguns vereadores da Capital para a retomada de um projeto elaborado pelo Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) em 1999. O projeto foi atualizado e deve passar por um estudo de impacto ambiental.

Enquanto nada é feito, a comunidade sofre com o avanço do mar. Uma das preocupações do presidente da Associação de Pescadores, Fernando Sabino, é a salinização da Lagoa do Peri. Mas, segundo o superintendente de meio ambiente da Casan, Cláudio Ramos Floriani Filho, isso só seria considerado caso o nível do mar subisse mais de três metros.

De acordo com Sabino, pelo menos 12 famílias já deixaram suas casas, antes mesmo da interdição da Defesa Civil, com medo de que a estrutura venha abaixo. É o caso do militar da reserva Alcidio Vieira, 72 anos.

Na tarde de ontem, dois filhos do aposentado ajudavam a retirar móveis da residência do pai.

Segundo Alcidio Vieira Filho, 47 anos, um dos filhos do militar, a distância entre a casa e o início da praia, há 38 anos, quando eles se mudaram para lá, era de 40 metros. Ontem, a casa estava à beira de um barranco ameaçado de desmoronar devido à força das ondas.

(Por Mayara Rinaldi, DC, 27/05/2010)

Há solução, apontam especialistas

Apesar de o problema ser permanente, as soluções praticadas no Brasil e Exterior para conter o encolhimento da areia são temporárias. Engordar a faixa de areia é a prática natural mais recomendada pelos especialistas. De acordo com Lindino Benedet, diretor-geral da Coastal Planning & Engineering do Brasil, empresa especializada em construção, recuperação e manutenção de praias em estados erosivos, é possível reverter casos como o da Praia da Armação. O primeiro passo seria fazer uma prospecção de jazidas de areia no fundo do mar perto da praia. Em seguida, estudos de engenharia e oceanografia para cálculo de projeto (quantidade de areia necessária, levantamento da frequência de ressacas, etc) e licitar a execução.

– Se houvesse recursos disponíveis e desconsiderando o tempo necessário para as licitações e licenciamentos ambientais, as obras poderiam começar em quatro meses em cunho emergencial, com finalização em torno de seis meses – explica Benedet.

Seria possível ampliar a faixa de areia para 30 ou 50 metros e até mesmo construir plataformas de proteção contra novas ressacas, mas para isso é preciso iniciativa pública. Considerando uma extensão de três quilômetros de praia e uma faixa de areia de 30 a 40 metros de largura, estima-se um gasto médio de 2,5 milhões de metros cúbicos de areia, com um custo aproximado de R$ 25 milhões.

– É o custo de uma ponte, mas esse número é relativo porque depende de estudos detalhados de engenharia e geologia submarina, da distância de onde será retirada a areia, custos com locação de dragas. Mas é possível – afirma Livino.

Em outros locais, a prática do engordamento da faixa de areia dá certo. Regiões da Holanda, Estados Unidos, Pernambuco e Piçarras receberam a areia da jazida do mar para preencher a área da orla.

O pesquisador da UFSC Jarbas Bonetti alerta que o engordamento de areia é temporário e é preciso fazer manutenções a cada cinco ou 10 anos. Construção de molhes (rochas para conter o mar) e quebra-mares (estruturas de cimento com o mesmo efeito) são opções. Outra seria a retirada de moradores das áreas costeiras para recuperar o equilíbrio de areia.

( Por Francine Cadore, DC, 27/05/2010)

Construções na orla ajudam na erosão

Para os especialistas, a areia está sumindo da orla da Praia da Armação por causa da combinação de diversos fatores. A sequência de tempestades provocadas por ciclones desde abril, a soma das marés meteorológica e astronômica e a construção de imóveis em áreas que deveriam estar preservadas agravam a dinâmica natural de movimentação das águas do mar.

O professor do Laboratório de Oceanografia Costeira da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Jarbas Bonetti, acredita que construção de casas e apartamentos na linha da costa ameaça a movimentação dos sedimentos e contribui para o sumiço da faixa de areia.

– A praia é um sistema amplo, no qual a areia precisa estar em trânsito da duna até a água. Quando as construções estão na linha da água ou nas dunas, a praia não consegue recuperar a quantidade de areia que perde quando há uma tempestade. Os resultados da ocupação desplanejada acentuam a erosão.

Desde abril a erosão foi acentuada com a sequência de tempestades provocadas por ciclones. Bonetti explica que as tempestades levaram a pouca areia da costa para a zona de arrebentação. Fenômeno climático também provocou ondas grandes que empilharam a água na região costeira. Além disso, os efeitos combinados das marés meteorológica e astronômica, que provocam ondas maiores, acentuam o sumiço da areia.

O oceanólogo da Epagri/Ciram, Argeu Vanz, compartilha a opinião do pesquisador e complementa ao apontar que a construção de um molhe entre Armação e Matadeiro acelerou o depósito de sedimentos aos arredores e impossibilitou a dinâmica natural do sistema.

– As dunas servem como mecanismo natural de proteção e, quando há algo construído sobre elas, perdem a função de proteger.

Vanz afirma que hoje, por efeito da maré astronômica, as ondas podem invadir um pouco mais a costa e atingir áreas mais altas a partir das 14h, mas alertou que não há motivo para pânico.

Hoje, segundo Leandro Puchalski, da Central RBS de Meteorologia, haverá predomínio do sol com pouca aparição de nuvens, com temperaturas que vão variar entre 17º C e 24 ºC em Florianópolis.

(DC, 27/05/2010)

Turismo pode ser afetado

O avanço do mar na faixa de areia na Praia da Armação e as destruições causadas pelas recentes ressacas podem afetar o turismo, na opinião do diretor do setor da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif), Ernesto São Thiago.

Ele afirma que se a prefeitura não conseguir recuperar as áreas e a infraestrutura, não há dúvidas de que o movimento pode cair durante o verão nas praias do Sul da Ilha. Para São Thiago, isso poderia ser evitado se houvesse planejamento.

– Quando alguém vai fazer um projeto à beira-mar, é preciso realizar um levantamento sobre a incidência de ressacas e marés altas na região, o que permitiria prever, com mais segurança, a possibilidade de novos eventos desse tipo. E isso vale tanto para passeios públicos como para construções em geral – afirma.

Segundo São Thiago, há empresas especializadas que fazem esses estudos e mostram um histórico dos eventos naturais em um período de até 50 anos.

– Mas ninguém faz isso, nem o poder público nem a iniciativa privada – critica.

(DC, 27/05/2010)

Barra da Lagoa em alerta

Na Barra da Lagoa, os moradores estão em alerta. Algumas famílias ficam acordadas de madrugada, com medo de a água invadir as casas. Ontem, a situação piorou. A faixa de areia, que tinha mais de 20 metros, foi tomada pelo mar durante à tarde. Moradores e donos de restaurantes temem o risco de desabamento das contruções.

Virginia Jordão de Alcântara é moradora da Barra da Lagoa há oito anos. Apesar de sua casa ficar afastada do mar, ela conta que nunca viu um estrago igual a este e que foi tudo muito rápido.

– Tinha ressaca, mas sem destruições.

O restaurante Vereda Tropical já estava em processo de erosão há dois meses e foi interditado ontem pela Defesa Civil. Hélio João Ramos, 60 anos, é nativo da Lagoa e conta que é comum ter ressaca neste local.

– Mas agora a ressaca piorou com o aumento da população.

Seu filho, Edinei Hélio Ramos, acredita que a situação está piorando devido aos aterramentos e mudanças na natureza.

Quem não é morador também fica apreensivo com a situação. Patrícia de Souza Thomas e Fabrício André Ferreira de Souza frequentam a praia há mais de 30 anos. Ela diz que é a primeira vez que vê a praia desse jeito.

Além do restaurante, a Defesa Civil interditou outros pontos com perigo de desabamento. Eles ficam perto do posto salva-vidas, que foi destruído pela água do mar no sábado.

A Secretaria de Obras de Florianópolis trabalha no local para tentar recuperar os estragos provocados pela ressaca. A região está sendo monitorada e uma equipe está na rua para orientar e auxiliar os moradores nos bairros da Armação e da Barra da Lagoa.

(DC, 27/05/2010)

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