SBTUR divulga balanço do Turismo Social na temporada
18/03/2009
Floripa na telona
18/03/2009

Água de qualidade: ajuda que cai do céu!

Em várias ocasiões a população do litoral e os turistas sofreram com a falta de água. A solução pode estar no aproveitamento da água da chuva.

A água consumida no litoral do Paraná e Santa Catarina, segundo as empresas de saneamento destes estados, é geralmente retirada de rios e alguns poços profundos, como na região bastante habitada de Canasvieiras, no norte de Florianópolis.

Porém, a situação de alguns rios que nos servem de manancial não é das melhores. O Rio das Pombas, por exemplo, que a Companhia de Saneamento do Paraná, a Sanepar, utiliza para abastecer Matinhos e Pontal do Paraná, tem problemas graves de assoreamento devido à ausência de floresta em suas margens. Além disso, existe o abandono de lixo e despejos irregulares de esgoto nos canais de água pluvial, que vão parar nos rios e na água da praia. Outro impacto da atividade humana sobre os rios do litoral é a poluição devido à produção agrícola de banana, por exemplo, que deixa no solo e água grande quantidade de adubos químicos e agrotóxicos, os quais são transportados por grandes distâncias pelo vento.

As águas subterrâneas podem apresentar ainda um tipo diferente de poluição. Neste caso pelo bombeamento excessivo, que provoca rebaixamento do lençol e intrusão salina, ou seja, contaminação da água doce com os sais provenientes da água do mar, que ocupa o lugar da água retirada do aqüífero.

Estes exemplos não indicam que o abastecimento de água está irreversivelmente comprometido, mas significa que devemos dar mais atenção aos recursos hídricos e muito mais valor à água que chega tratada em nossas casas.

A água em quantidade suficiente é fundamental para a saúde. Quando ocorre falta d’água todos são prejudicados, independentemente da condição social. Isto ocorre pois milhares de pessoas vão às praias e as estações de tratamento não são suficientes para atender à demanda.

Uma boa alternativa para minimizar este problema é o armazenamento de água nos períodos anteriores à temporada, quando existe mais água disponível. Isto é possível com o aumento do volume das caixas d’água das casas, como tem recomendado a companhia de saneamento de Santa Catarina, a CASAN.

Esta necessidade traz consigo uma grande oportunidade. Além de armazenar a água para garantir o abastecimento na temporada de verão, podemos aproveitar a situação, conseguindo nossa própria água, de uma fonte que pode suprir em torno de 50% da demanda de uma família.

A água da chuva alimenta os rios, lagos e aqüíferos, para que então estes possam servir de manancial para as cidades, indústria e agricultura. Se a chuva for coletada antes de atingir o solo, uma possível contaminação desta água estará sendo evitada.

Um modo simples e econômico de coletar a água da chuva é pelo telhado das casas, usando um sistema de calhas, que existe em quase todas as residências. A quantidade que será coletada depende da precipitação do local. A precipitação, ou seja, a quantidade de água líquida que chega no solo em um determinado tempo, é medida em altura e pode ser convertida para volume. Por exemplo, a precipitação média anual de Matinhos é de 1.500 mm. Para uma casa com área do telhado igual a 100m²: 100m² X 1.500mm de chuva por ano= 150 m³ de água por ano pode ser recolhida. Equivale a abastecer 4 pessoas, com 200 L/dia por pessoa, durante 6 meses.

Certamente, nem toda esta água pode ser aproveitada. Primeiramente o telhado precisa ser lavado com a chuva e algumas chuvas não caem com quantidade de água suficiente para isto. Existem também as perdas com evaporação. Contudo, o volume disponível ainda é bastante considerável.

O equipamento necessário para o aproveitamento da água de chuva possui tecnologia simples, à venda no mercado por diversas empresas. Ele é composto por sistema de calhas, de filtração da água, desinfecção e armazenamento. A filtração é responsável por separar da água de folhas, galhos, insetos e outros.

Para se fazer um projeto é preciso estudar os índices pluviométricos da região, para conhecer a quantidade de chuva que ocorre em cada época do ano. O melhor volume para a cisterna, ou outro local de armazenamento, e a altura em que ela deve ser posicionada, é dependente da demanda de água da casa ou condomínio. Caso o armazenamento seja subterrâneo pode ser necessária também uma bomba de recalque.

É importante saber que esta água não é potável, portanto não pode ser utilizada para beber e preparar alimentos. Entretanto, pode ser usada em descargas de banheiros, jardins, lavação de pisos, de roupas, entre outros. Para tanto, o líquido coletado deve ser acondicionado em local diferente da água tratada, para evitar contaminação. A vantagem disto é que, deste modo, a água tratada só será usada em atividades que realmente requerem alta qualidade, como no dia-a-dia da cozinha. Além disto, a água estará sendo coletada no local do uso, o que implica em redução no custo de transporte. A coleta de água de chuva pode trazer também outro benefício relacionado à diminuição dos alagamentos de ruas, pois parte da água não chegará ao solo e não precisará ser infiltrada.

Entretanto, para resolver o problema da falta d’água, mesmo com todos os benefícios, a captação de água de chuva será menos eficiente em relação à proteção do meio ambiente se for implantada como alternativa isolada. Se esta for encarado como uma solução coletiva, cada cisterna precisa fazer parte de um plano de gerenciamento hídrico da bacia hidrográfica. Deste modo, o planejamento de construção de estações de tratamento e transporte de água estará mais adequados à realidade.

Legalmente, não existe impedimento em relação ao aproveitamento da água da chuva.

Porém, existe um inconveniente relacionado à geração de esgoto. A residência que usa a água de chuva vai diminuir seu consumo de água tratada, porém não vai reduzir a quantidade de esgoto. Deste modo, as companhias de saneamento não terão controle sobre o esgoto que recebem de cada residência, já que ele é feito normalmente em relação à quantidade de água consumida. Este é um problema a ser resolvido, e que não pode impedir os projetos, que beneficiam a todos: meio ambiente, turistas e moradores.

Em cidades com Porto Alegre (RS), Guarulhos (SP), Curitiba (PR), Londrina (PR) e o estado do Rio de Janeiro, o aproveitamento da água da chuva é incentivado ou já é obrigação prevista em lei.

Água com qualidade em quantidade é um direito de todos. Depende do esforço diário de combater o desperdício e do empenho coletivo em aplicar tecnologias mais sustentáveis como a que foi apresentada, que possam promover a saúde pública e a qualidade do meio ambiente.

Maria Cecilia Rosinski Lima Gomes é engenheira ambiental, mestranda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catariana. Contato: engceciliagomes@gmail.com

(Maria Cecilia Rosinski, Correio do Litoral, 18/03/2009)

mm
Monitoramento de Mídia
A FloripAmanhã realiza um monitoramento de mídia para seleção e republicação de notícias relacionadas com o foco da Associação. No jornalismo esta atividade é chamada de "Clipping". As notícias veiculadas em nossa seção Clipping não necessariamente refletem a posição da FloripAmanhã e são de responsabilidade dos veículos e assessorias de imprensa citados como fonte. O objetivo da Associação é promover o debate e o conhecimento sobre temas como planejamento urbano, meio ambiente, economia criativa, entre outros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *