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21/07/2008
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Da coluna de Sérgio da Costa Ramos (DC, 19/07/08)
Imagine-se o leitor transportado para a vidinha da Desterro de 1803, época em que a Vila era um sossegado quintal, a urbe e a roça misturadas ao som do cacarejar das galinhas e o grugulejar dos perus. Na Baía Sul, acabara de lançar âncora a nau do Barão de Langsdorff, botânico e naturalista. Mais do que uma Vila, Desterro era um viveiro de pássaros e macacos, uma estufa de flores exóticas.
Depois do Primeiro Império e da primeira Carta (1824), a “urbe” se formava, aos poucos. Crioulos de Debret, gotas de suor cintilando ao peito ornamental, suportavam imensos barris de petróleo humano. Aquela gelatina, meio líquida, meio pastosa, ia pingando pela rua da “Constituição”, hoje Tiradentes, ou pela rua “Augusta”, a atual João Pinto, o “produto” a caminho da Praia da Boa Vista. Ou Prainha.
Boa Vista? A Casan da época era constituída apenas desse “sistema” de esgoto ambulante, precário penico por cujo fundilho escapava o “Produto Interno Bruto” dos habitantes da Vila.
Na virada do século 19 para o 20, o trânsito da Capital – rebatizada “Florianópolis” em 1894 – com seus mais de 30 mil habitantes (32.220), era tão manso e tranqüilo que os bichos viviam espalhados pelas ruas. Os primeiros ônibus surgiriam só lá por 1926, depois que a ponte já se erguia sobre as baías. Puxados por motores do tipo Ford-bigode, tinham uma única porta e não passavam de pretensiosas “Jardineiras”, aspirantes a se denominarem “coletivos”.
Ônibus, charretes e tílburis não chegavam a formar um “engarrafamento”. Se aglomeração havia, esta se dava no porto e nos trapiches, entre a Alfândega e a Praça XV. As telas de Eduardo Dias flagraram o fin-de-siècle na Baía Sul, a enseada junto à Vila juncada de caravelas, lanchas, bergantins e baleeiras.
Nos “saraus” do Clube Doze – em seus primórdios batizado “Sociedade União Catharinense” – casais bordavam minuetos a uma distância nunca inferior a um metro. Ser alvo de “olhares” poderia resultar em beliscões nas mocinhas, aplicados pelas mães zelosas, sempre em guarda para defender a virtude das filhas. O que fazer para marcar um encontro furtivo com um namorado? Talvez uma aliança com as antigas mucamas, fiéis servidoras das “sinhazinhas”, mas sempre tementes à patroa…
Quanto aos desates amorosos dos “trabalhadores”, herdeiros dos escravos libertos, estes se davam no Cais da Liberdade, um descampado entre o Rio da Bulha (Avenida Hercílio Luz) e a ladeira do Menino Deus, acesso ao Hospital de Caridade.
Nos tempos do galante Barão Langsdorff – que antes de enlouquecer extasiara-se com a beleza das mulheres da Ilha – a cidade era “a roça”, um imenso Jardim Botânico.
Com o Segundo Império e a imigração açoriana, a urbe começou a ganhar ruas e praças. A Praça XV ainda era o Largo da Matriz, antes da untuosa homenagem ao algoz da cidade, Floriano Peixoto. A Conselheiro Mafra era a “Rua do Príncipe”; a Trajano a “Rua do Livramento”; a Fernando Machado a “Rua do Vigário”, a Álvaro de Carvalho a “Rua da Palma”, a Sete de Setembro a “Rua da Bragança”.
De repente, volto ao presente, em pleno engarrafamento da Rua da Constituição, a Tiradentes. Levo meia hora para contornar a “Praça da Matriz” e chegar ao aterro, ou seja, ao mar antigo, ao mar amigo…

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