Zica cultural
25/06/2008
Bacia do Itacorubi
25/06/2008

É estarrecedora a constatação de que o Estado de Santa Catarina possui apenas um índice mínimo de seu território coberto por sistema coletivo de esgoto tratado, ficando atrás até mesmo de alguns estados do empobrecido Nordeste.
Na lista das 10 melhores cidades de Santa Catarina, em matéria de acesso à rede geral de esgoto, a Capital é apenas a 7ª colocada, com arredondados 46% de cobertura. São menos de 500 quilômetros de extensão da rede: 11.994 mil metros cúbicos de esgoto coletados e tratados por ano.
Também é preciso observar que em muitos lugares de alta sensibilidade em Floripa, inclusive em alguns dos balneários preferidos pelos turistas, a rede de esgoto ainda praticamente inexiste e o abastecimento de água durante a alta temporada fica seriamente comprometido. Além disso, em muitos pontos onde a rede pública de esgotamento sanitário já foi implantada, é notório que grande parte dos moradores – inclusive muitas pousadas que atuam na informalidade – ignora solenemente a necessidade de ligar-se à rede.
Tá. O Brasil todo vai muito mal das pernas nos afamados “direitos socioambientais”, que são o principal assunto nos “projetos” de nove entre dez das quase 300 mil ONGs que atuam no país. Mas saneamento básico não é prioridade nessas pautas. Um bom exemplo é o Estado do Pará: com apenas 4% de seu território coberto por sistema coletivo de esgoto e tratamento, o desmatamento é insistentemente tratado pelo poderoso lobby da eco-militância como o Problema Ambiental Número 1.
Em recente matéria, intitulada “Saneamento – e não a Amazônia – é o principal problema ambiental do Brasil”, no site Alerta em Rede – Desenvolvimento, Integração e Infra-estrutura, Nilder Costa questionou: “Alguém já ouviu o Greenpeace ou outros atores ‘socioambientais’ de mesmo naipe, que proliferam na ‘Amazônia’ como aguapé, devotarem ao saneamento básico um centésimo de suas milionárias campanhas regadas a ecodólares pretensamente para “salvar” a floresta? Com as colossais reservas ambientais que foram criadas no Pará por pressão de ONGs internacionais, não admira que a floresta e os bichos nelas existentes estejam muito mais protegidos que os paraenses.”
Em Floripa também é assim. Alguém dá um tapa numa macega de restinga ou solta um pum no mangue, saltam umas 20 ONGs ambientalistas para arrastar o sujeito pelo pescoço para dentro de uma ação civil pública – que sai de graça para eles. Com suas multas, ajustes de conduta e coisas do gênero, essas ações despejam R$ nos fundos judiciais que, lá na frente, são distribuídos… para as ONGs e seus projetos de salvação ambiental!
Quando se presta bem atenção ao cenário como um todo, constata-se que não somente raras dessas ONGs têm no currículo atividades relacionadas a melhorias nos índices de saneamento básico da população, como a maioria de seus dirigentes, em suas próprias edificações professa a ecologia da cloaca. Para boa parte dessa gente, tanto rigor na preservação do meio ambiente serve mais para assegurar o paraíso de mangues e restingas em torno da servidão em que moram. Onde, constata-se em muitos casos, não existe esgotamento sanitário. Fala sério!
A preservação ambiental de nove entre 10 ONGs é xiita e ideológica: lutam contra a implantação de residencias formais, infra-estruturados inclusive com estações de tratamento próprias – esses empreendimentos são presas de intensa perseguição na cidade, sempre em nome da santa ecologia – mas não dão a mínima para os núcleos de favelas que se multiplicam, onde se faz xixi e cocô em cloacas cavadas sobre reservas ambientais – inclusive de água potável. Não bastasse isso, tem entidade denuncinado e pedindo embargo de obras de estação de tratamento de esgoto e de subestação de energia, de iniciativas do próprio poder público…
Nilder Costa lembra que a chaga social da falta de saneamento atinge o mundo inteiro.
As informações do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) são alarmantes: “cerca de 1,5 milhão de crianças morrem por ano pela ingestão de água de má qualidade, bem como pela falta de higiene e saneamento adequados (4.900 mortes por dia). Um terço da população mundial (cerca de 2,6 bilhões de pessoas) vivem sem saneamento adequado, das quais 980 milhões são meninas e meninos”.
Costa denuncia: “Devido à grande difusão pela imprensa, boa parte da população se inteirou que hoje é o dia Mundial do Meio Ambiente, mas quantos ficaram sabendo que a ONU elegeu 2008 como Ano Internacional do Saneamento? Ou ainda que, no ano passado, o British Journal of Medicine, uma das mais antigas e respeitadas publicações médicas do mundo, fez uma pesquisa entre mais de 13 mil médicos de todo o mundo que apontou (com larga margem) o saneamento básico como a maior conquista da medicina nos últimos 150 anos, bem à frente dos antibióticos, vacinas, anestesia e descoberta do DNA?”
“No entanto”, conclui, “graças a uma bem orquestrada superexposição promovida mundialmente pelo aparato ambientalista, a preservação da ‘Amazônia’ aparece como o problema ambiental Número Um do Brasil, quando não o é”.
É batata! Igualzinho ao que acontece em uma certa ilha conhecida como a Capital de melhor qualidade de vida do país, cuja população literalmente “vive na fossa”, para não dizer “na m…”, como Cacau Menezes muito bem lembrou em sua coluna.
E a militância eco-xiita que, uma vez que outra até critica o poder público por não investir em obras de saneamento básico porque elas não aparecem, faz a mesma coisa em seu segmento dedicado a defender o meio-ambiente. Só preserva as aparências.
(Jornal Ilha Capital, Junho de 2008)

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2 Comentários

  1. geovana disse:

    olha e orrivel ve essas coisas e bom poder compartilhar

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