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Da coluna de Sérgio da Costa Ramos (DC, 28/03/08)
Na verdade existem duas Floripas: aquela que se vê do alto e que emocionou o aviador-escritor Antoine de Saint-Exupéry – e a que se materializa aqui embaixo, no duro chão da realidade.
Vista do céu, viçosa e verdejante, a Ilha parece mesmo a ante-sala do Éden. Mas no labirinto de suas ruelas ancestrais, a cidade revela parentesco com uma ratoeira de becos e enigmas, todos “indecifráveis”, com essa conta de mil novos veículos “dando em árvore” todo mês.
Produto de Deus, a Ilha que se enxerga do céu tocou a alma do lendário piloto de Vôo Noturno e Correio Sul. A bordo do seu Bréguet-Latécoère, ele seguia o tapete dourado das dunas até aterrissar no Campeche, ninho de seu pássaro, ainda inebriado pelo banho de beleza.
O piloto teria se encontrado no Café Nacional, esquina de Praça XV com Felipe Schmidt , com o professor, humanista e francófilo Mâncio Costa, a quem teria feito uma declaração de amor à Ilha:
“Esta visão seria a última escolhida por aqueles que se descobrissem condenados à cegueira, tal a sua força de guardar-se, eterna, na lembrança do homem”…
Verdade ou ficção, o elogio seria merecido… até que o aviador conhecesse a nefasta inércia dos que planejariam a Capital no “porvir” daqueles anos de 1930. Produto do homem, a Floripa que se vive em terra firme é cada vez mais uma ante-sala do inferno. O caos no trânsito está espancando a qualidade de vida da cidade. A qualquer ponto que se vá, a qualquer hora, o fluxo de veículos é lerdo, obturado, irritante. Isso numa cidade de pouco mais de 400 mil habitantes e… 350 mil veículos.
Quer dizer: contraímos todas as mazelas de uma grande metrópole sendo, ainda, uma cidade de porte médio. Ora, ninguém precisa ser o craque-urbanista Jaime Lerner para diagnosticar que o problema do trânsito é “estrutural”. Não fosse o governador Colombo Salles, que construiu as estradas asfaltadas do Norte e do entorno da Ilha, ainda teríamos aqui a mesma malha de picadas e lombadas dos tempos do Brigadeiro Silva Paes – o construtor dos fortes.
Em matéria de circulação urbana, estamos caminhando, céleres, para o colapso absoluto e para uma dramática catatonia – que é a morte em vida.
Um Plano Diretor, concebido com o ânimo comunitário dos que se dispõem a construir – e não apenas “obstruir” – deveria ser a obsessão do Executivo e do Legislativo. Uma criteriosa (desapaixonada e “desideologizada”) lei de ocupação do solo, com a expansão da cidade para o Leste. A construção da Via Parque, debruando o Campeche até o Rio Vermelho, pela orla, marcaria uma “interiorização” controlada.
Mudança que seria assinalada pelo privilégio do transporte de massa – tanto marítimo quanto ferrocarril. Com a inovação do metrô de superfície, ligando o Continente à universidade federal. E com o Centro da Cidade chegando ao Norte e ao Sul da Ilha, não apenas por rodovias e túneis, mas pela via marítima.
Algo como as “Doze Tarefas de Hércules”, com um prazo de 10 anos para sua execução – e um “vestibular” marcado para 2014, ao ensejo da possível prerrogativa de sub-sediar uma Copa do Mundo.
Plano ambicioso, mas factível, desde que a picuinha, a eco-teocracia e a preguiça – o ânimo de “deixa como está” – não acalentem ovos debaixo dos braços dos administradores públicos.
Do jeito que as coisas caminham, os cruzamentos e os novos (e ineptos) viadutos continuarão a ser apenas o endereço predileto das sinaleiras, das lombadas e das galinhas pretas.

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