Saneamento
06/08/2007
Turismo e arquitetura: No limbo do ócio
06/08/2007

“Penso em deixar os negócios”

Da coluna de Estela Benetti (DC, 05/08/2007).

Responsável por um dos maiores empreendimentos turísticos do Estado, o Costão do Santinho, que garantiu impulso ao trade da Capital, o empresário Fernando Marcondes de Mattos hoje considera fortemente a possibilidade de deixar os negócios, abalado pelo envolvimento na Operação Moeda Verde e pelo impacto que a prisão temporária causou na sua imagem.

Aos 68 anos, autor de três livros sobre economia e da autobiografia Saga de um Visionário, Mattos foi absorvido pelo setor turístico há mais de três décadas, quando idealizou seu primeiro projeto. Concretizou seu sonho com o Costão do Santinho, há 17 anos. Hoje, o grupo fatura R$ 300 milhões por ano e emprega 1,5 mil funcionários.

DC – Quando e como o senhor sentiu que Florianópolis podia ter um empreendimento como o Costão do Santinho?

Mattos – O sonho de implantar um equipamento turístico é antigo e sempre tive um olho voltado para isso. Desde a década de 1970, tinha o hábito de, nos finais de semana, caminhar pela Ilha para conhecê-la e familiarizar-me com seus pontos mais atraentes. O potencial turístico de Florianópolis era facilmente percebido, assim como a ausência de um equipamento de maior porte. Minha esposa Iolanda e eu realizamos muitas viagens, nacionais e internacionais, tentando delinear a alma e o corpo do futuro empreendimento, que não estava ainda formatado em nossas mentes. E nessas viagens confirmamos a viabilidade de um empreendimento dessa envergadura para atender a demanda de um público mais exigente e sofisticado que busca a integração com a natureza sem perder o charme e o requinte. Ainda assim, foi uma decisão ousada e arrojada pelo seu ineditismo, pois o projeto nada tinha a ver com a cultura imobiliária e com os hotéis existentes na Ilha, não apenas no seu conceito, mas também na sua dimensão.

DC – De que forma viabilizou o projeto?

Mattos – Com recursos próprios obtidos através da comercialização dos apartamentos.

DC – Que impulso o Costão do Santinho garantiu ao turismo da Capital?

Mattos – Acredito que de três formas mais relevantes. Na segmentação sócio econômica, incentivando a vinda de turistas de maior poder aquisitivo do país e do exterior, que provocam um ciclo virtuoso nos setores comercial e de serviços da região. No aumento do número de eventos de médio e grande porte, colocando, definitivamente, Florianópolis no roteiro de eventos do país. E na promoção institucional da cidade em função da mídia espontânea gerada pelo empreendimento diferenciado e seus hóspedes-celebridades. Para ilustrar o que estamos falando, somente no ano passado se hospedaram no Costão do Santinho 70 mil pessoas, todas de alto poder aquisitivo, 20% vindas do exterior.

DC – O senhor acha que Florianópolis, hoje, comporta outros empreendimentos da mesma magnitude?

Mattos – Certamente. Florianópolis é, hoje, o segundo destino mais procurado pelos turistas, atrás somente da cidade do Rio de Janeiro. Florianópolis é, também, o destino número um de eventos no Brasil, depois de, logicamente, São Paulo e Rio de Janeiro.

DC – Como avalia os impactos ambientais e os entraves que algumas leis e a falta de regulamentação representam para o setor da construção civil e do turismo?

Mattos – Obviamente sou favorável ao cuidado que se deve ter quando da aprovação ambiental para um empreendimento. A natureza é o maior patrimônio que temos. A preocupação ambiental é uma preocupação inteligente, de mentes evoluídas. O que não se pode ter é uma preocupação não-inteligente, cuja visão é a de que natureza e desenvolvimento são elementos antagônicos, quando, na verdade, são os empreendimentos que muitas vezes garantem a preservação ambiental, tanto pela ocupação ordenada e monitorada da área quanto pelo impedimento de invasões e restrições ao uso predatório do terreno. Quanto à legislação específica, é lamentável a falta de regulamentação, pois gera múltiplas interpretações para um mesmo fato. É claro que quem perde com isso é a cidade, pois, freqüentemente, acaba prevalecendo a discussão inócua na defesa de interesses individuais, muitas vezes baseados em suposições e ideologias políticas, sociais e filosóficas, em detrimento do bem comum.

DC – Como o senhor enfrentou a Operação Moeda Verde?

Mattos – Com serenidade, apesar da injustiça e violência moral cometidas contra minha pessoa. Tenho a consciência tranqüila.

DC – Como está se recuperando do abalo na imagem?

Mattos – Tem sido uma luta difícil. Cinqüenta anos de serviços prestados à comunidade, a Florianópolis e a Santa Catarina, de repente são ignorados e jogados no ralo de forma leviana. Os amigos continuam amigos e aqueles que não têm simpatia por mim continuam não tendo. Para parte da opinião pública, creio que minoritária, talvez seja visto como inimigo da coletividade e dos interesses sociais e ambientais, o que não é verdade. Temos projetos realizados nestas duas áreas há mais de 30 anos pela simples razão de que acreditamos que é assim que deve ser: respeito ao ser humano e à natureza. Nunca “marqueteamos” essas atividades porque nunca foram feitas com interesses comerciais ou institucionais.

DC – Quais são seus projetos futuros?

Mattos – Os projetos eram vários. Altos do Costão Golf, que é a segunda fase do Costão Golf. O Costão de Gramado. O Costão da Serra (catarinense). A rota náutica KeC com o Costão de Laguna e o Costão de São Francisco. Mas depois de tudo que aconteceu com minha pessoa, o desgaste físico e emocional, estou repensando tudo isso, assim como decididamente me retirar da frente dos negócios atuais e me dedicar à família e a mim mesmo. Não sei ainda, mas considero fortemente essa possibilidade.

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