Erosão
16/07/2007
Crise pode se agravar
16/07/2007

Carlos Eduardo Schmidt trabalha como auxiliar financeiro em uma imobiliária. Tem apenas 23 anos. É casado com Taize de Oliveira, 22 anos. O casal tem um filho de um ano e oito meses, o Gustavo. E, desde agosto do ano passado, Carlos Eduardo e Taize moram no primeiro imóvel próprio, em São José, na Grande Florianópolis.

O apartamento de dois quartos, sala, cozinha e banheiro alcança valor de mercado de R$ 34 mil, segundo o jovem proprietário. A entrada foi feita com os R$ 4 mil que possuía no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

O banco com o qual assinou o contrato ainda deu-lhe um desconto de R$ 2 mil. Sobraram, então, R$ 28 mil para pagar em 17 anos.

– Assumi prestações de cerca de R$ 300 que cabem no meu orçamento e que poderiam ser um aluguel. Mas, se fossem, quando eu teria algo realmente meu para morar com minha esposa e meu filho?

Os R$ 28 mil que Schmidt financiou fizeram parte dos R$ 9,3 bilhões disponibilizados pelos agentes financeiros à compra da casa própria em 2006. Neste ano, R$ 12 bilhões é a projeção da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Os catarinenses abocanharão perto de R$ 850 milhões da Caixa Econômica Federal e também dos bancos privados.

A expansão da oferta facilita a vida dos candidatos a mutuários. Os financiamentos embutem taxas de juros entre 6% e 15% ao ano (com viés de queda), regras atraentes, menos burocracia e prazos mais extensos, enumera o superintendente adjunto de crédito imobiliário do Banco Santander, Fernando Baumeier.

Gerente de construção civil da Caixa, Marcelo Moser, afirma que 300 contratos foram assinados, neste ano, em SC. Outros 500 contratos ainda serão efetivados. Com a procura crescente, o Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) anunciou, na quarta-feira, mais R$ 600 milhões para a habitação em todo o país.

– A economia está evoluindo, os juros reais estão em retração, há recuperação de salários, o desemprego está caindo, a Lei 10.931/04 dá mais segurança às transações imobiliárias: – Isso tudo gera confiança dos credores nos empréstimos de longo prazo – observa o superintendente da Abecip, Carlos Eduardo Duarte Fleury.

Interior aproveita boa fase, enquanto Capital desacelera

Essa enxurrada de dinheiro tem motivado mais negócios em toda a indústria da construção civil. O presidente da câmara estadual deste segmento (Ceic-SC), José Antônio Vieira, afirma que o otimismo concentra-se nos pólos regionais, como Joinville, Blumenau, Chapecó, Criciúma, Joaçaba e Lages. Em Florianópolis, em razão da Operação Moeda Verde, as empreiteiras desaceleraram os investimentos.

– Estamos perdendo um momento fantástico, porque o poder público emite os licenciamentos, mas não os garante – afirma o presidente do Sindicato da Construção Civil da Grande Florianópolis (Sinduscon), Hélio Bairros.

Ainda assim, só a Caixa emprestou R$ 110 milhões aos mutuários desta região no primeiro semestre. No ano passado inteiro, foram R$ 190 milhões. Marcelo Moser assegura que o volume de dinheiro para a casa própria na Capital e cercanias será 30% maior, em 2007.

Os bancos privados, apesar de responderem por cerca de 15% deste mercado, também expandiram a oferta no Estado.

O primeiro trimestre de 2006 do Santander, por exemplo, fechou 8,9% superior a igual período de 2005, e 8,4% inferior a igual período deste ano.

– Hoje, até quem ganha salário mínimo pode financiar a casa própria – diz Baumeier.

Recursos disponibilizados

Ano /R$ (em bilhões)
2002 – 1,7
2003 – 2,2
2004 – 3
2005 – 6,5
2006 – 9,3
2007 – 5,5
* Até maio. Projeção de R$ 12 bilhões.
Fonte: Abecip

Os financiamentos em SC

> Cerca de 800 contratos serão firmados entre os catarinenses e a Caixa Econômica Federal, em 2007
> Aproximadamente 110 mil habitações totalizam o déficit em Santa Catarina, que concentra-se, sobremaneira, nas principais cidades do Estado, mais atrativas economicamente e com mais infra-estrutura
> Do total emprestado pela Caixa para a compra da casa própria, neste ano, Santa Catarina deveria responder por 3,6%, mas fechará em 6%, pela demanda crescente
> Só da Caixa, isso representa R$ 700 milhões
> Do crédito imobiliário no mercado catarinense, a instituição responde por cerca de 85% do total
Fonte: Gerência Regional de Construção Civil / CEF.

Mercado do imóvel está em alta

A Caixa calcula em 110 mil o déficit habitacional em SC. A conjunção da escassez com o aumento de até 30% na verba para financiamentos pressiona o valor do metro quadrado construído, seja novo ou usado.

A valorização é mais visível nas cidades com mais mais atratividade econômica, segundo os especialistas. Florianópolis, Blumenau e Joinville têm inflação de 5% a 20% ao ano, dependendo da localização e do tipo do imóvel.

– O mercado está em evolução. Logo, será possível financiar até dois bens ao mesmo tempo – projeta o presidente da Ceic-SC, José Antônio Vieira.

Gerente de vendas da Brognoli Negócios Imobiliários, Marcos Alcauza assegura que dobrou – de dois anos para cá – o número de clientes que fecham contrato financiado. Há dificuldades em disponibilizar apartamentos e casas na faixa de R$ 40 mil a R$ 200 mil, que atendem aos anseios da classe média.

– Há uma melhora nas taxas e uma diminuição da burocracia – comenta o gerente.

Para o presidente da Federação das Associações de Comerciantes de Materiais de Construção (Fecomac-SC), Afonso João Ramos, a tendência é de ampliação da concorrência e facilitação do acesso ao dinheiro.

– Hoje, não só bancos, mas as financeiras também acordaram para este produto.

Isso sem contar as empreiteiras, que justificam a atração de clientes por suposta redução da burocracia. O gerente de vendas da Construtora DDeschamps, Luiz Carlos Althoff, explica que os principais compradores são profissionais liberais e autônomos, que não têm como comprovar a renda ou tem renda variável.

Como os juros são equivalentes, o cliente prefere a construtora, na opinião de Althoff, porque exige menos comprovantes.

Mas para Marcelo Moser, o financiamento direto tende a apresentar parcelas crescentes depois da entrega do imóvel. Isso, contra-argumenta o gerente de construção civil da CEF, pode ocorrer dependendo dos índices de reajustes acordados.

Ele garante que, nos bancos, o cliente sabe quanto pagará da primeira até a última prestações.

(Felipe Faria, DC, 15/07/2007)

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